Autor: Lucio Luiz
THE SIDE SHOW – POR NEGREIROS
RODOLFO ZALLA
Millôr Fernandes, uma breve retrospectivaCapturar o alma do artista Millôr Fernandes (1923-2012), carioca do Méier, é um problema para qualquer curador. Ele próprio não via com simpatias esta palavra, preferia a denominação de jornalista. Dizia que tudo que produziu na vida, excetuando uma ou duas coisas, foi por encomenda, e se insere na indústria cultural. Embora muita coisa do que produziu possa ser considerada arte, como o desenho, teatro, poesia, crônicas, achava que isto tudo caberia no guarda-chuva chamado jornalismo. Professava que nestes suportes todos o que mais fez foi interpretar o mundo em que viveu, mais precisamente o homem. Não por acaso uma destas atividades, por incrível que pareça, foi na canção popular, chegando a participar inclusive do célebre Festival de Música da Record (1966), em que A Banda e Disparada se sagraram vencedoras. Fez a música e a letra de O homem, o que corrobora a idéia de que a humanidade escorre por seus desenhos e textos.O cineasta Walter Salles num dos prefácios de livros, o considera renascentista, pois foi um homem que entendeu seu tempo, participou de quase todo tipo de iniciativa cultural, midiática vamos dizer assim. Para Salles, Millôr criou diálogos insuperáveis para o filme Terra Estrangeira, como também já tinha produzido roteiros de filmes a partir dos anos 1960. Apresentou programas de televisão, na incipiente TV dos anos 1950, como o Lições de um ignorante, onde foi até censurado por JK. Nos anos 1960 participou do Jornal de Vanguarda, importante programa de TV, que marcou época. Nas revistas O Cruzeiro e A Cigarra, escreveu reportagens, fez colunas de humor, copidescou, diagramou e traduziu. Chegou a revista O Cruzeiro ainda rapazinho, quando ela tinha apenas dois funcionários, um diretor e mais ele próprio. Ajudou a catapultá-la para o posto de principal mídia impressa daqueles tempos.No teatro também foi um homem que atuou profundamente, a partir de uma encomenda que teve em 1950. Escreveu mais de cem peças, uma das primeiras, que mais fez sucesso, foi Um elefante no caos. Adaptou Vidigal: Memórias de um sargento de milícias (1982), da célebre obra de nossa literatura. Criou peças com monólogos, com vários personagens, e espetáculos como Liberdade Liberdade (1966), em parceria com Flávio Rangel. Também escreveu shows musicais, como Bons Tempos, Hein!? (1979), para o MPB 4; e De repente (1985), para Arthur Moreira Lima. Alem de tudo isto ainda traduziu dezenas de peças, que fizeram enorme sucesso e alimentaram nosso teatro por décadas, trabalhos estes que são considerados pela critica como de alto nível.Como cartunista, foi um dos mais pródigos. Primeiro começou assinando como Vâo Gogo, pseudônimo que depois abandonou, assumindo com o próprio nome. Paulo Francis dizia que Millôr confessou-lhe que começou a usar este pseudônimo porque queria guardar seu nome real para atividades artísticas mais “nobres”, como por exemplo teatro. Mas a partir de um certo momento mudou de idéia e assumiu com seu próprio nome os desenhos e textos em geral. Na área de humor achava que ninguém poderia desenhar no século XX sem conhecer Picasso e Saul Steinberg, este último considerava o maior artista desse século. Seu traço visivelmente influenciado pelos gênios acima citados, evoluiu a partir dos anos 1960 para patamares raramente vistos em nosso país e no mundo todo. Teve seu desenho publicado em grande parte das iniciativas culturais de seu tempo. Foi muito influenciado pelas histórias em quadrinhos americanas, tendo sido inclusive tradutor e letrista dos suplementos, que ajudaram a implantar no Brasil a linguagem americana, com personagens do tipo Flash Gordon e Fantasma. Esta influência carregou por toda a vida, sendo que nos seus trabalhos as tiras e os quadrinhos estiveram muito próximos.
Nas suas colunas de humor, vamos chamar assim, já que são em si indefiníveis, explorou quase todas as formas de texto: pastiche, paródia, poesia, teatro, fábulas, aforismos, máximas, anedotas, contos, traduções criativas ou mesmo trocadilhos. Dentro de suas seções havia sub-seções, que se repetiam por anos. Teatro Corisco foi uma micro peça, de poucas linhas, que durou anos em O Pif-Paf. Também sobre a rubrica de Hai-Kai publicava este tipo de poesia oriental, com um estilo mais engraçado. Dicionavario era uma maneira engraçada de dar outro sentido aos verbetes do dicionário. Fábulas Fabulosas, neste caso ele virava um Esopo moderno e “deturpava” a forma desta clássica narrativa moralista.Nos textos de Compozissões Infantis, diz no livro Trinta anos de mim mesmo (1972), que abstraía-se do adulto e escrevia como uma criança. Estas colunetas permaneceram por anos em O Cruzeiro, como peças de humor de alta qualidade. Sem falar no também indefinível Lope-Lopes, tipo de humor que reinventou, que nem sabe mesmo dizer como é, talvez um insight. Um dos obituaristas, que escreveu sobre Millôr, deitando elogios ao mestre, diz que usou todas as formas literárias, mas que nunca tentou algo de maior fôlego, como o romance. Isto é verdade, tudo o que escreveu ou criou foi para ser publicado ou encenado em seu tempo. Muito natural, pois um romance não poderia ser publicado na imprensa periódica, neste sentido foi muito coerente, pois sempre se considerou um jornalista e não um escritor.Na imprensa atuou como escritor e desenhista, e até como editor, como foram os casos de O Pasquim (1969) e Pif Paf (1964). Suas seções de humor eram tão marcantes que elas próprias pareciam-se como órgãos independentes dentro da revista. Foi assim com O Pif-Paf, de página dupla dentro de O Cruzeiro entre 1945 e 1963; e também da página dupla Millôr, nas páginas amarelas de Veja, de 1968 até 1982. As melhores iniciativas da área de jornalismo e humor impressos também contaram com seu nome nos cabeçalhos e sumários. Botem aí O Cruzeiro, A Cigarra, Voga, Senhor, Piif Paf, Veja, Realidade, Fairplay, O Pasquim, Isto É, República e chegando até a Piauí. Com seu hábil humor dizia que um sujeito que escreve é considerado escritor, o que faz garatujas desenhista. Mas dizia não haver denominação para quem fazia as duas coisas. Realmente, Millôr assim como os grandes artistas multimídias é indefinível.Esta exposição apresenta algumas reproduções, como também documentos originais, impressos, que este que vos fala reuniu pela vida toda. Posso dizer que cresci lendo e ouvindo Millôr, como pode ser visto. A partir de um certo momento de sua carreira naveguei com ele em seus textos e desenhos. Chegando até os dias de hoje, em revistas de circulação nacional, onde colaborou até onde sua saúde permitiu. Alem de impressos mais antigos também temos suas últimas colaborações para a imprensa periódica, como por exemplo República, Piauí e Veja.
JOÃO ANTONIO BUHRER DE ALMEIDA [jornalista]
Editora Opção2, 36 págs. capa de Walmir Amaral (cores por Sandro Marcelo);
HQs: O Vingador e Willy Rock (Walmir Amaral, o destaque da edição); Sandro Marcelo e Arthur Filho; poster do Flecha Ligeira pelo mestre Walmir, homenageado na edição
O mestre foi desenhista de O Fantasma, Cavaleiro Negro, O Vingador, Flecha Ligeira, O Anjo, X 9… Edição imperdível!!
Pedidos por e-mail: arthur.goju@bol.com.br
SANTA ROSA E ZIRALDO
CALAZANS NO JORNAL O SANTISTA
RISOGRAFIA
https://clubedeautores.com.br/book/254503–RISOGRAFIA#.W0O9I9JKiUl
MAIS UMA REVISTA DA EDITORA OPÇÃO2
Lançamento nos quadrinhos: Billy The Kid & Outras Histórias #28.
Com 36 páginas, a revista conta com arte de capa de Chibilski e Sandro Marcelo, HQs de Primaggio Mantovi (Rocky Lane), Ailton Elias e Arthur Filho, artigos sobre Tex, correio do Billy, crônicas e artigos de Faroeste.
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