Esta série de entrevistas foi uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Junior. O livro foi lançado com sucesso na plataforma Catarse pela Editora Noir, recebeu 235 apoios e ultrapassou a meta para publicação em quase 50%, atingindo 147% e comprovando que as ideias do cartunista Henfil propagadas em suas entrevistas continuam sendo atuais e esclarecedoras. A AQC se sente orgulhosa em ter apoiado uma iniciativa tão incrível e necessária.https://www.catarse.me/henfil
1. Como você conheceu o trabalho do Henfil? Lembra da ocasião (onde, quem apresentou e qual era a revista ou jornal)?
Conheci os desenhos do Henfil, por jornal da época, era moleque/adoslescente na década de 70 e aparecia em casa e na faculdade alguns jornais alternativos da resistência a ditadura. Acho que já era o Pasquim.
2. Qual foi o impacto?
Como já gostava muito de apreciar desenhos e também rabiscava os meus, dava mais atenção as imagens, mas achava estranho desenhos com falas e mensagens que nem sempre eu entendia. Quando conheci o trabalho do Henfil, sem saber ou registrar quem era, no início achei muito estranho os desenhos soltos com textos soltos, mas achava os desenhos curiosos e me divertia com as falas, mesmo só entendendo tudo somente alguns anos depois.
3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?
Me chamava a atenção os desenhos com pouco traço e com muita expressividade, personagens do Brasil e quando entendia, ria dos textos, mas que me faziam pensar nas cenas de uma realidade nordestina misturada e realidade do Brasil daquela época.
4. Seu trabalho teve influência direta?
Não! Na época só desenhava escondido como diversão, iniciando por desenhos abstratos coloridos. Gostava muito dos cartuns que tinham muitos personagens em cenas bizarras e divertidas. Depois me interessei mais por desenho em quadrinhos com traço simples, mas bom acabamento. O traço figurativo pra mim foi um interesse e coragem de desenvolver, anos depois já como profissional da área. Hoje faço muitos trabalhos buscando o traço! Não sei se foi realmente influência do Henfil, mas com certeza fez eu admirar mais ainda o trabalho dele!
5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na esquerda? E entre seus amigos?
Lembro-me que os traços do Henfil sempre apareciam e eram referência e admiração de todos os adultos a minha volta envolvidos direta ou indiretamente com o movimento da esquerda! Mas não tinha essa conversa com os amigos.
6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa? Teve alguma que lhe marcou? Porquê?
Normalmente via essas revistas e jornais pois apareciam em casa e nos lugares que frequentava, não era uma busca e não acompanhava com frequência!
7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?
Achei a iniciativa excelente, pois devemos sempre valorizar o grande artista, crítico político que foi o Henfil, focando sempre na mensagem com traço firme e personagens curiosos. Faz parte da nossa história, e acho que essas entrevistas vão trazer partes da história de cada um que compõem a história da época, compondo até uma história ou histórias políticas e social paralelas. Acho que deve ser bem cuidado a forma de editar esse livro para não ficar maçante e desinteressante pequenas entrevistas separadas ao acaso!
8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?
De verdade vi umas animações soltas aqui e ali, mas sempre gostei muito do traço virar essa animação simples e de fácil leitura, onde na verdade a mensagem que era o mais importante!
9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?
Fui conhecer melhor ao longo dos anos e ainda conhecendo todo o contexto da participação dele na resistência. Acredito que se ele vivesse mais teria dado um impacto maior na política de resistência. Sem desmerecer muitos outros artistas bons e importantes para todo esse contexto como, Jaguar, Ziraldo, Nilson e tantos outros.
10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?
Sim, acho que toda manifestação e divulgação positiva pode ser importante, mas conhecendo um pouco do trabalho dele, acredito que deve ser um livro misturando textos e desenhos se intercalando e se unindo para contar a história da época!
11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?
Muito difícil saber qual a solução! Vejo no geral o povo anárquico em questão de política, precisa muito ainda para gerar uma reação política decente e organizada, somos um Brasil criados e mantidos por bandidos, é isso que o povo aprendeu e sabe! Tomar para ter, enquanto deveria ser conquistar para consolidar!
12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?
Meu palpite bem vago, acho que ele estaria nas ruas, indignado com tudo isso e com a política de esquerda! Ou talvez a presença dele e de muitos que morreram na época não tivesse deixado chegar onde estamos!
13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?
Estava na fundação do PT na ala jovem, muito sonho e esperança, íamos nas ruas com orgulho e coragem sem titubear! A política era um pouco mais limpa e definida nas idealizações! Hoje, o PT se desviou da proposta e caminho inicial, tudo se misturou, está emaranhado as ideias sem terem clareza de muita coisa. Acho que a única solução seria um governo atuante de esquerda sem conchavos e fazer uma transformação radical para o povo! Mas não acredito nisso aqui no Brasil, de um povo acomodado e avesso as mudanças, um povo desinformado e reclamação! Enfim… seguimos na luta pela educação e cultura!!
QUEM É MARCOS VENCESLAU