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MANHWA COREANO+QUADRINHO BRASILEIRO, UMA VISAO OTIMISTA DA HUMANIDADE


“Audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve”
“Diário de bordo: data estelar 2011.08.14. Nossa posição, órbita de Sang3-dong, Wonmi-gu, Bucheon-si, Geong-do, Korea Republic. A bordo da Emirates Airlines, os senhores Bira Dantas e Sergio Alves sobrevoam o aeroporto de Incheon. No planeta, ruínas reconstruídas -de uma civilização antiga em batalha com vizinhos há algum tempo- contrastam com a modernidade de prédios multi-coloridos, repletos de anúncios luminosos de lojas de eletro-eletrônicos, supermercados, restaurantes e cafés. Somos teletransportados à superfície do planeta. Nossa missão: participar da conferência anual de Quadrinhos do Bicof (Festival de Quadrinhos de Bucheon), rotina para os moradores do local. Seria rotina para nós, não fosse o fato de estarmos do outro lado do planeta.”

Esta poderia ser mais uma aventura de Star Trek, com James Kirk, Spock e Dr McCoy na Enterprise. Mas não. Lá estávamos nós mesmos, dois brasileiros!

Anniong hassaiô (oi)! Depois de uma viagem de 28 horas e meia, incluindo 3 horas e meia em Dubai, chegamos em solo coreano. Fomos recebidos por Jung Byung-joo, cartunista da Komacon, entidade que nos convidou à conferência. Depois de uma breve parada no Koryo Hotel, com direito a banho, fomos a um restaurante de carne suína, comer um Bulgogui (churrasco preparado na mesa, com várias saladas e molhos apimentados), tomamos a tal Bomb, chamada no Brasil de submarino: copão de cerveja e dentro, um copinho de Soju, a cachaça coreana. E tome vira-vira…
No dia seguinte, Joo nos levou ao encontro de Sophie Kang (a segunda no comando da Komacon, que visitou a AQC em janeiro de 2011) em Jongno-Gu (Seoul) no Changdeokgun (o Palacio do Rei), onde encontramos Yoo-na (jornalista, interprete e produtora cultural que mora em Sampa), Cho (desenhista que também visitou a AQC) e Lee-Hee Jae (que fez Meu Pe de Laranja Lima em Quadrinhos).

Tivemos um almoço com os responsáveis por mais esta aproximação Brasil-Coréia: Hwa (professor e ex-presidente da Associação de Cartunistas da Coréia), Park Jae-dong (secretario da Komacon, professor universitário de Quadrinhos), Cho (criador do Manhwa Football Masters), Lee Hee Jae (que desenhou Meu Pé de Laranja Lima em manhwa) e Kwan Je Cho (atual presidente da Associação). Hwa falou da importância do Brasil para eles, em especial da Amazonia. Falei que em outubro vai acontecer a Comicon Amazonia, em Belém. Eles se interessaram muito em participar no ano que vem. Sugeri uma pescaria de tucunarés com peixada em seguida. Adoraram.

Visitamos o Gimm-Young, principal jornal e editora de Seoul. Fomos recebidos por editores da DongA e Paju, conhecemos a Cidade do Livro, bairro com grande complexo editorial, doado pela prefeitura para que as editoras montassem suas redações e parques gráficos. Detalhe, um livro de 300 páginas, colorido, papel couché custa em média –pasmem- 15 dólares.

Neste mesmo dia visitamos o National Museum of Korea, que exibia uma bela mostra de gravuras coreanas clássicas do sec. XVIII de cenários e animais. A loja do Museu tinha lindos lencos, catálogos, pincéis, miniaturas de figuras folcloricas. Eu e Sergio saimos carregados.

See-Joo Alves (nome coreano do meu editor na Escala Educacional) estava maravilhado. Era sua primeira vez na Ásia. Apesar de ser a minha segunda, eu também estava.

Mas ele passou dias duros, cuidou do estande da Escala Educacional e conversou com mais de 12 editores e artistas por dia. Os coreanos querem literalmente invadir nosso mercado, e querem que invadamos o deles. Sergio Alves pagou o pato…

A FESTA



Na cerimônia de abertura do Bicof, fomos guardacostados por guerreiros ao melhor estilo Cosplay e subimos um tapete vermelho até a Parede da Fama, um grande painel xadrez preto-e-branco, onde os cartunistas desenharam seus personagens e deixaram suas assinaturas para a posteridade. Meu Tatu-man ficou grafado neste painel.

Aí começou um show para cerca de 5 mil pessoas, com direito a atores famosos da TV e do cinema coreanos, bandas tocaram hits de desenhos animados de sucesso do passado e do presente.Na sequência, fomos festejar num restaurante. Lá, o sr. Kwan Je Cho me chamou para fazer o brinde inicial com outros nomes do Manhwa. Eu era o único sem olho puxado no palco: Kambé (tim-tim)!

GAITA

Depois pediram que eu tocasse gaita. Rolou forró, Trenzinho do Caipira de Villa-Lobos, com final blueseiro e gritos a la Sonny Terry do mestre Kwan.

No dia seguinte, abertura do festival, fui convidado para mais um lance incrível: cortar a fita inauguratória da exposição do velho mestre (já falecido) de Lee Hee, eu e a nata veterana do Quadrinho coreano, tudo na base dos 70, 80 aninhos.

O predio da Komacon, do outro lado de um complexo emaranhado de viadutos e passarelas, despontava como um grande navio. Um Titanic sem futuro sombrio no fundo do mar.

Um conglomerado de agencias e escritórios ligados ao Quadrinho coreano. E no prédio ao lado, o espaço de exposições, auditório e o maravilhoso Museu do Cartum, que mudou do estádio de futebol que conheci 6 anos atras para este belo e moderno prédio.

MOU


Antes de minha palestra, assinei em nome da AQC, dois tratados de cooperação com The Korean Cartoonists Association e The Cartoon and Animator Society of Korea. Com toda pompa e circunstancia. Os asiáticos capricham nessa parte oficial da coisa.

KIM JUNG KI, UM NOVO WINSOR McCAY

Ao entrar a primeira vez no Bicof, dei de cara com este careca desenhando direto na parede do estande. Os elefantes me fizeram lembrar de Little Nemo, do também incrível McCay. Ki estava vendendo um belíssimo sketchbook de 700 paginas, com duas capas. Tive que voltar pra comprar por 68 dolares. E ganhei de brinde “Tiger the long tail”, esse Ki desenha MUUUUITO!
Assim se passaram os dias e noites: conhecendo cartunistas fabulosos, comendo e bebendo muito (em especial as pimentas), eles conheceram os Quadrinhos meus, e dos campineiros Carriero, Mario Cau, Caio Yo, Claudio Martini, dos curitibanos Quadrinhopolisticos, dos paulistanos Will, Daniel Esteves, Cadu Simões, mestres Mauricio de Souza, Ziraldo, Shimamoto, Vetillo e dezenas de outros.

GIBI DE ULTIMA HORA

Sexta-feira. Passo a tarde pintando 8 paginas de Quadrinhos que mostram como a cultura oriental tem influenciado o Brasil nos últimos 40 anos, em especial a mim e meus Quadrinhos. Na ultima pagina (que carrego na charge do inicio deste artigo), coloquei caricaturas de mestres do Cartum coreano. Imprimi cem copias e deixei com o pessoal da Komacon para entregar aos amigos coreanos. No ultimo dia, depois de comprar uma mala extra para carregar os quase 30 quilos a mais de Manhwas, fomos eu, See-joo, os interpretes Che e Mina, Kim e Cho a um parque próximo de Seul.


Animais soltos, muito verde, montanhas e um museu no meio. Na entrada vi algo que parecia uma coxinha de galinha com um palito espetado. Sim, a legitima coxinha brasileira. E grande! Minha boca encheu de água. O National Museum of Contemporary Art tem destaque no cenário local. Mas achei a exposição de artistas franceses contemporâneos chata. Tudo muito conceitualmente vazio, décadas depois de Marcel Duchamp, sem a sua genialidade revolucionaria. Videos estranhos, pessoas brigando, temas insólitos. Pra completar, as inspetoras com a sua chatice asiática reclamavam de cada comentário nosso, de cada assovio, mesmo quando o tema era musica. A mostra de artistas coreanos foi tudo de bom. Gravuras em estilo antigo, telas experimentais -mas com arte- e fotos da época da guerra com o Japao. Lindamente tristes em seu preto e branco maravilhoso, sombras projetadas ao toque do medo.

Na saída, lembrei da coxinha. Me disseram que era um empanado de salsicha, algo como um hot-dog sem pão. Declinei. Mas o Cho resolveu que experimentariamos larvas num inocente copinho de papel. Isso mesmo, LARVAS! Minha fome me fez devorar umas 15. Estranhas, mas úteis num momento como aquele. Sergio engasgou com uma que ficou atravessada na goela.

No ultimo jantar antes da viagem, fomos ao restaurante “Amigo” comer -acreditem- pizza e massa.

Chegamos ao aeroporto onde encontramos Yong (criador da serie de Manhwa Hip-hop), ele filmou uma despedida emocionada. Como ele mesmo fala de mim, um brother.

Espero que essa aproximação continue rendendo frutos, e uma VIDA LONGA E PRÓSPERA!

Kamsá hashiminda (obrigado)!

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