Pedro tem um ótimo Blog sobre BD (como chamam Quadrinhos) em Portugal. Ele vive em Vila Nova de Gaia. Nascido em Porto em 1964; é engenheiro químico de formação, leitor, crítico, tradutor, divulgador e colecionador (de figuras e de selos) de BD por vocação. Além de indicar a leitura do Blog a nossos leitores, gostaria de publicar aqui estes dois artigos em especial. http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2012/09/turma-da-monica-jovem-44.html
Tesouro Verde (2ª parte) Petra Leão (argumento) Estúdios Maurício de Sousa (desenho) Panini Comics (Brasil, Fevereiro e Março de 2012) 160 x 210 mm, 128 p., preto e branco, brochada, mensal R$ 7,50 / 3,00 € Resumo Actualmente nas bancasportuguesas, esta revista conclui o arco iniciado na “Turma da Mônica Jovem” #43, na qual as versões adolescentes de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Franjinha, vivem uma aventura em conjunto com Kimba, o leão branco, AstroBoy, Safiri (de A Princesa e o Cavaleiro) e outros heróis criados pelo japonês Osamu Tezuka. A aventura, que concretiza um projecto esboçado pelos dois autores nos anos 1980, leva as personagens dos dois até à Amazônia, para defrontarem traficantes de madeira.
Desenvolvimento Qualquer crossover – como o actual – para funcionar tem que obedecer a um pressuposto simples: as personagens envolvidas têm que manter as suas identidades próprias e fazer sentido na relação umas com as outras e no enredo que as une. E isso, sem qualquer dúvida é conseguido em “Tesouro Verde”, onde todos agem como o leitor esperaria, embora, naturalmente, o registo – na construção, no tipo de humor – esteja mais próximo do habitual em Maurício de Sousa – falta a crueldade e realismo habituais nos argumentos de Tezuka – o que não surpreende pois esta é uma produção original dos seus estúdios. Por isso, também, se todos interagem naturalmente – de alguma forma foram agrupadas de acordo com as suas ambições e desejos – grande parte da narrativa baseia-se nos choques e/ou ligações que conseguem estabelecer. E se isto é positivo pois ajuda o leitor a integrar-se num modelo que, sem dúvida, foge ao habitual, acaba por limitar – e nalguns casos secundarizar – aquela que deveria ser a base narrativa. Porque convém não esquecer, no âmago deste projecto está uma mensagem ecológica – actual e premente – centrada na Amazónia mas extensível a outros locais do planeta – ou mesmo a todo o planeta – que salienta a necessidade de uma utilização sustentada dos recursos naturais. Apesar desse propósito óbvio, a história, de ritmo sustentado para que todos os elementos possam ser considerados e absorvidos, desenvolve-se em cenas paralelas que convergem para o inevitável confronto final, mas não sem algumas surpresas e inflexões no argumento. Mesmo com os aspectos menos conseguidos apontados, no geral o conjunto funciona bem e poderá ter sido, quem sabe, o abrir de uma porta que no futuro proporcione outros cruzamentos entre a Turma da Mônica Jovem e heróis de outros universos…
E HAN SOLOhttp://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2012/08/han-solo.html
Rui Lacas (argumento e desenho) Polvo (Portugal, Junho de 2012) 240 x 170 mm, 64 p., 2 cores, brochado com badanas 9,90 €
“Aviso: Hän Solo nada tem a ver com a saga de ficção-científica Star Wars; é apenas um pequeno conto em torno da vida de Hän, um homem só. Hän é um holandês bipolar, de volta à Lisboa onde estudou, a viver uma bela e intensa história de amor com Sandra, enquanto tenta (sobre)viver como fotógrafo.
Fotógrafo, sim, mas também pintor, desenhador, pelo menos quando a doença bipolar – controlada pelos fármacos, exacerbada pelos seus excessos – deixa. Um homem só, à procura dos outros – imaginando-os mesmo onde não está ninguém – perdido nos seus próprios excessos emocionais, sujeito às desilusões quotidianas e às desfeitas dos outros. Mas Hän Solo é, antes de mais, uma demonstração da mestria de narrar aos quadradinhos de Rui Lacas – num registo graficamente próximo de “A Ermida”, que surge praticamente em simultâneo com “Asteroid Fighters” #2 – onde se revela tão à vontade no retratar da figura humana quanto na transposição para o papel dos cenários reais (Lisboa, Madrid) que escolheu para o seu relato, e exemplar no modo como o pouco texto e as imagens se coordenam, fluem, prendem, cativam e arrastam o leitor pela história. Uma história – surpreendente na sua simplicidade, cativante na forma sentida como capta e transmite sensações e emoções – apanhada a meio pelos leitores e abandonada pouco mais de meia centena de pranchas depois, muito antes que ela se conclua – tal como as vidas daqueles com quem ocasionalmente nos cruzamos. Mas que, como Hän Solo, deixam em nós uma marca indelével e uma forte vontade de os ter conhecido melhor.”