Logo na estreia, um número cômico do grande ator e comediante Mazzaropi, que havia feito muito sucesso no rádio. Esse comediante caipira se apresentou em muitos palcos antes de chegar à TV, entre eles, o circo. De grande popularidade, as companhias circenses consagraram artistas que seguiram o mesmo caminho. Além de Mazzaropi, Oscarito e Grande Otelo, Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha, Carequinha e Fred, também foram para o rádio e depois para a TV. E para não ficar só na memória, já que nem vídeo tape existia, eles foram parar nos gibis, iniciando uma prática que se tornaria constante nas décadas seguintes!
Então, ABRAM-SE AS CORTINAS, POIS VAI COMEÇAR O ESPETÁCULO!!
Não demorou muito para eles chegarem ao gibi. Estrearam nas bancas em 1956, pela Editora La Selva, com os belíssimos traços do desenhista Messias de Mello, este que também havia trabalhado no circo, bem antes, como cartazista, e até ajudara a montar e desmontar a lona. Messias foi um dos maiores desenhistas de sua época, lançou e influenciou muitos artistas, sendo reverenciado até hoje.
A revista durou até 1959. O programa de televisão foi bem mais duradouro chegando até 1974!
desenhar hqs Disney no Brasil
Também dentro de um circo, em 1915, nasceu George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha. De longa carreira de sucesso nos palcos e no rádio nas décadas de 1930 e 1940, chegou à televisão em 1951, sendo o primeiro palhaço a ter um programa só seu, o Circo Bombril, chamado algum tempo depois de Circo do Carequinha. Ao lado de outro grande artista, o palhaço Fred, ele alegrava a criançada das décadas de 1950 e 1960.
Chegou aos quadrinhos em 1958, em histórias escritas por Cláudio de Souza e desenhadas por Julio Shimamoto e João Batista Queiroz.
Prosseguiu com sua carreira na TV, trabalhando em várias emissoras, sempre com atrações infantis. Comandou o programa “Circo Alegre” na TV Manchete nos anos 1980, que foi precursor do “Clube da Criança” que lançou a apresentadora Xuxa.
Em 2005, com 90 anos, Carequinha interpretou a si mesmo na série “Hoje é Dia de Maria”.
“Hoje o palhaço é figura secundária. Antigamente, era o querido do circo.
E a criança também mudou um pouco. Ela tinha aquele sorriso simples, comum.
Hoje, ela assiste a coisas indecentes na internet, escuta imoralidades na
televisão e se habitua a falar e a fazer tudo isso, infelizmente”.
Carequinha
Durante a década de 1950, a dupla de comediantes reinou absoluta no cinema e na preferência do público, chamando a atenção da Editora La Selva, que entre 1957 e 1959, publicou um gibi mensal da dupla. Assim chegava às bancas, Oscarito e Grande Otelo em quadrinhos, com roteiros de Claúdio de
Souza, Alberto Maduar, entre outros. Os desenhos ficaram a cargo de Messias de Mello, João Batista Queiroz, Aylton Thomaz e Juarez Odilon.
Amacio Mazzaropi nasceu em 1912 em São Paulo, mas foi criado na cidade de Tremembé, no interior. Começou a carreira contando anedotas e causos em apresentações no Circo La Paz. Em 1946, estreia na Radio Tupi, o programa Rancho Alegre, levado á TV em 1950, com o mesmo nome.
Em 1952, estreia seu primeiro filme, Sai da Frente, produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Nesse mesmo ano, cria sua própria produtora de filmes, e começa a colecionar sucessos. Sucessos que o levaram para as páginas de um gibi, lançado em 1956, também pela La Selva. A equipe da editora, utilizava fotos de Mazzaropi tiradas por Zaé Junior, como base para os desenhos.
Nas décadas seguintes, o circo e seus alegres palhaços continuaram a aparecer nas histórias em quadrinhos. Em 1972, chegava às bancas de jornais de todo o país, acompanhando de grande campanha, inclusive na TV, a revista SACARROLHA, uma criação de Primaggio Mantovi. Era o resultado de um concurso interno da Rio Gráfica e Editora, cujo ganhador receberia como prémio, a publicação de seu personagem e um contrato de três anos. Primaggio atingiu a marca de 36 edições, sempre retratando o ambiente alegre e festivo do circo, tendo o palhaço Sacarrolha como protagonista.
Na década de 1980, surge pela Editora Abril, o palhaço ALEGRIA, também em revista mensal.
Criada por uma equipe comandada por Waldyr Igayara de Souza, o palhacinho acabou ficando com o copyright da Editora Abril e foi licenciada para vários produtos. Sua revista teve um total de 57 edições.
A TURMA DO LAMBE LAMBE, de Daniel Azulay, também tinha um pé no circo, através do personagem Tristinho. Derivado do programa de TV de grande sucesso, chegou aos quadrinhos via Editora Abril, também nos anos 1980. Também nessa década vemos surgir o palhaço BOZO (SBT) e a dupla ATCHIM E ESPIRRO.
Ainda surgiram outros que, mesmo não usando a roupa de palhaço, usavam e abusavam das mesmas brincadeiras e truques circenses para agradar às crianças, como SÉRGIO MALLANDRO e CHAVES, mas o maior palhaço televisivo que surgiu após a trupe de cômicos da década de 1950, foi Renato Aragão e o seu quarteto OS TRAPALHÕES.
Herdeiro das tradições circenses, Renato Aragão declarou em entrevista que, aos quinze anos, chegou a assistir um filme com Oscarito dezoito vezes, e declarou: “Quero ser esse cara!” E partiu para realizar seu sonho.
Começou na TV nos anos 1960, juntou-se ao artista circense Manfried Sant’Anna (Dedé), depois a Mussum e Zacarias. Passaram por diversas emissoras até chegar à TV GLOBO em 1977 e se consagrarem junto ao público e crítica. É claro que virariam gibi, lançado em 1976, por Edmundo Rodrigues e a Bloch Editores. Em meados de 1979, o gibi passa a ser produzido pelo Estúdio Ely Barbosa e torna-se um grande sucesso, sendo lembrado até hoje.
A tradição circense está morrendo. Tudo hoje é muito mais sofisticado e tecnológico. O espetáculo que se fazia sob lonas e encantava adultos e crianças, não é mais o mesmo, embora ainda existam boas e grande companhias circenses. Na TV, eles ainda resistem, com moderado sucesso, vide a dupla Patatí Patatá.
As histórias em quadrinhos perpetuam a tradição e o mundo do circo. Apesar de serem difíceis de se achar, procurando com paciência nos sebos e sites de gibis antigos, ainda se encontra exemplares de clássicos como ARRELIA E PIMENTINHA, FUZARCA E TORRESMO, OSCARITO E GRANDE OTELO, que iniciaram a prática de se adaptar sucessos da TV para as hqs.
Sob o comando de Jayme Cortez, grandes desenhistas emprestaram seu talento para esses gibis e muitos inclusive, começaram sua carreira ali. Um deles ainda está na ativa, e nos conta na segunda parte dessa matéria, como era produzir esses clássicos das hqs.