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E O PALHAÇO O QUE É?… PERSONAGEM DE GIBI!

por Alexandre Silva

Em 18 de setembro de 1950, era inaugurada a PRF-3 TV Tupi de São Paulo, a nossa primeira emissora de televisão, com shows de vários artistas, como Hebe Camargo e Ivon Cury.
Logo na estreia, um número cômico do grande ator e comediante Mazzaropi, que havia feito muito sucesso no rádio. Esse comediante caipira se apresentou em muitos palcos antes de chegar à TV, entre eles, o circo. De grande popularidade, as companhias circenses consagraram artistas que seguiram o mesmo caminho. Além de Mazzaropi, Oscarito e Grande Otelo, Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha, Carequinha e Fred, também foram para o rádio e depois para a TV. E para não ficar só na memória, já que nem vídeo tape existia, eles foram parar nos gibis, iniciando uma prática que se tornaria constante nas décadas seguintes!
Então, ABRAM-SE AS CORTINAS, POIS VAI COMEÇAR O ESPETÁCULO!!

COMO VAI, COMO VAI, COMO VAI?

EU VOU BEM, MUITO BEM, BEM, BEM!

ARRELIA E PIMENTINHA


Waldemar Seyssel era o verdadeiro nome do palhaço Arrelia, que após fazer muito sucesso junto a seu irmão, o palhaço Aleluia, chega à televisão em 1951, com o programa “Circo do Arrelia”pela TV Paulista. Trouxe para a telinha um novo parceiro, seu sobrinho Walter Seyssel, chamado de Pimentinha. Estava formada aí, uma das maiores duplas cômicas da história da TV brasileira.
Todo mundo ria com as trapalhadas dessa dupla na TV. Seus bordões faziam sucesso entre a criançada. Em 1953, a dupla de palhaços troca de emissora e estreia na TV Record.

Página da hq Super-palhaço, escrita por Flávio de Souza, com desenhos de Messias de Mello
Capa de Messias de Mello

Não demorou muito para eles chegarem ao gibi. Estrearam nas bancas em 1956, pela Editora La Selva, com os belíssimos traços do desenhista Messias de Mello, este que também havia trabalhado no circo, bem antes, como cartazista, e até ajudara a montar e desmontar a lona. Messias foi um dos maiores desenhistas de sua época, lançou e influenciou muitos artistas, sendo reverenciado até hoje.
A revista durou até 1959. O programa de televisão foi bem mais duradouro chegando até 1974!


O Anão Teodorico, roteiro de Flávio de Souza, desenhos de Messias de Mello
*
 

ASSIM EU NÃO AGUENTO! – Torresmo

AGUEEEEENTAAAAA!!! – gritavam as crianças

FUZARCA E TORRESMO


Capa de Jayme Cortez
Nascido dentro do circo de seus pais, José Carlos Queirolo (Torresmo), fez carreira por todo o Brasil, junto ao seu parceiro cômico Albano Pereira (Fuzarca). A  dupla Fuzarca e Torresmo estreou na TV no dia 12 de outubro de 1950, como um presente da TV Tupi Difusora, para o Dia das Crianças. Dali em diante, passaram a participar de vários programas, fazendo sempre esquetes cômicas de grande sucesso. Tiveram gibi nas bancas de 1955 a 1959. Com a morte de Fuzarca em 1975, Torresmo passou a se apresentar com seu filho Pururuca.
História de Jayme Cortez. Desenhos de João Batista Queiroz, que foi um dos primeiros a
desenhar hqs Disney no Brasil

História de Jerônimo Monteiro

A dupla fez tanto sucesso que gravou vários discos. Esse é um deles.
*

O BOM MENINO, NÃO FAZ XIXI NA CAMA
O BOM MENINO, NÃO FAZ MALCRIAÇÃO…

HOJE TEM MARMELADA???
TEM! TEM! TEM!  
                                                           
CAREQUINHA E FRED


Também dentro de um circo, em 1915, nasceu George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha. De longa carreira de sucesso nos palcos e no rádio nas décadas de 1930 e 1940, chegou à televisão em 1951, sendo o primeiro palhaço a ter um programa só seu, o Circo Bombril, chamado algum tempo depois de Circo do Carequinha. Ao lado de outro grande artista, o palhaço Fred, ele alegrava a criançada das décadas de 1950 e 1960.

Roteiro de Cláudio de Souza. Desenhos de João Batista Queiroz

Chegou aos quadrinhos em 1958, em histórias escritas por Cláudio de Souza e desenhadas por Julio Shimamoto e João Batista Queiroz.
Prosseguiu com sua carreira na TV, trabalhando em várias emissoras, sempre com atrações infantis. Comandou o programa “Circo Alegre” na TV Manchete  nos anos 1980, que foi precursor do “Clube da Criança” que lançou a apresentadora Xuxa.
Em 2005, com 90 anos, Carequinha interpretou a si mesmo na série “Hoje é Dia de Maria”.

“Hoje o palhaço é figura secundária. Antigamente, era o querido do circo.
E a criança também mudou um pouco. Ela tinha aquele sorriso simples, comum.
Hoje, ela assiste a coisas indecentes na internet, escuta imoralidades na
televisão e se habitua a falar e a fazer tudo isso, infelizmente”.
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Carequinha

                                                        

OSCARITO E GRANDE OTELO
Anúncio de lançamento de OSCARITO E GRANDE OTELO em quadrinhos
 
Desde os cinco anos de idade, Oscarito já se apresentava no circo. Nascido em 1906, esse ator, comediante, acrobata e trapezista, também passou pelo teatro de revista, antes de chegar as telas de cinema. Através da Cia Cinematográfica Vera Cruz, estrelou filmes de grande sucesso na década de
1950, como Carnaval Atlântida, Dupla do Barulho e Matar ou Correr, sempre ao lado de seu fiel parceiro, o também ator e comediante Grande Otelo. Este, nascido em 1915, se apresentou no circo e no teatro de revista, antes de chegar ao cinema. Participou do primeiro filme da Atlântida, “Moleque Tião”.

Página da hq O PANDEIRO MÁGICO, história de Flávio de Souza e
belíssimos desenhos de Messias de Mello

Durante a década de 1950, a dupla de comediantes reinou absoluta no cinema e na preferência do público, chamando a atenção da Editora La Selva, que entre 1957 e 1959, publicou um gibi mensal da dupla. Assim chegava às bancas, Oscarito e Grande Otelo em quadrinhos, com roteiros de Claúdio de
Souza, Alberto Maduar, entre outros. Os desenhos ficaram a cargo de Messias de Mello, João Batista Queiroz, Aylton Thomaz e Juarez Odilon.

MAZZAROPI


Amacio Mazzaropi nasceu em 1912 em São Paulo, mas foi criado na cidade de Tremembé, no interior. Começou a carreira contando anedotas e causos em apresentações no Circo La Paz. Em 1946, estreia na Radio Tupi, o programa Rancho Alegre, levado á TV em 1950, com o mesmo nome.
Em 1952, estreia seu primeiro filme, Sai da Frente, produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Nesse mesmo ano, cria sua própria produtora de filmes, e começa a colecionar sucessos. Sucessos que o levaram para as páginas de um gibi, lançado em 1956, também pela La Selva. A equipe da editora, utilizava fotos de Mazzaropi tiradas por Zaé Junior, como base para os desenhos.

Jayme Cortez fez as capas do número 1 ao número13
A partir do número 14, as capas passaram a ser assinadas por Izomar Camargo Guilherme
Essa primeira fase da revista foi até 1958 e saíram 14 numeros. Algum tempo depois, em 1965, a La Selva decide retornar com o título, lançando mais 20 edições, encerrando sua publicação em 1967. Jayme Cortez fazia a maioria das capas e também produzia os cartazes dos filmes de Mazzaropi.
Capa de Jayme Cortez
EDITORA LA SELVA

Fundada em 1950, a Editora La Selva enxergou no sucesso das duplas circenses e nos astros do cinema, uma oportunidade de criar revistas em quadrinhos nacionais. Seu proprietário Vito La Selva, já contava com uma equipe de colaboradores extremamente talentosa que cuidava das revistas da casa, principalmente a TERROR NEGRO, seu primeiro grande sucesso. Dessa equipe faziam parte: Reinaldo de Oliveira, Milton Julio, Claudio de Souza, Alberto Maduar, Flávio de Souza, Messias de Mello, João Batista Queiroz, Miguel Penteado, Aylton Thomaz, Izomar Camargo Guilherme, Gedeone Malagola, Nico Rosso, Sérgio Lima, Syllas Roberg, Jerônimo Monteiro, Julio Shimamoto, Juarez Odilon, Veneziano, José Fioroni Rodrigues e Jayme Cortez, como Diretor Artístico e Capista.
Funcionando em uma casa na V. Mariana, em São Paulo, o ambiente era sempre alegre e festivo, afinal de contas, quem comandava era uma família italiana.
Jayme Cortez e Mazzaropi na sede da Editora La Selva
Aos sábados e domigos eram oferecidos almoços e jantares a todo o elenco da casa, e tudo era motivo pra uma festa ou confraternização. Editando quadrinhos de terror, aventuras, clássicos da literatura e infantis, a La Selva prosseguiu até 1968, quando fechou as portas.


O QUE VEIO DEPOIS

Nas décadas seguintes, o circo e seus alegres palhaços continuaram a aparecer nas histórias em quadrinhos. Em 1972, chegava às bancas de jornais de todo o país, acompanhando de grande campanha, inclusive na TV, a revista SACARROLHA, uma criação de Primaggio Mantovi. Era o resultado de um concurso interno da Rio Gráfica e Editora, cujo ganhador receberia como prémio, a publicação de seu personagem e um contrato de três anos. Primaggio atingiu a marca de 36 edições, sempre retratando o ambiente alegre e festivo do circo, tendo o palhaço Sacarrolha como protagonista.


Na década de 1980, surge pela Editora Abril, o palhaço ALEGRIA, também em revista mensal. 

Criada por uma equipe comandada por Waldyr Igayara de Souza, o palhacinho acabou ficando com o copyright da Editora Abril e foi licenciada para vários produtos. Sua revista teve um total de 57 edições.
A TURMA DO LAMBE LAMBE, de Daniel Azulay, também tinha um pé no circo, através do personagem Tristinho. Derivado do programa de TV de grande sucesso, chegou aos quadrinhos via Editora Abril, também nos anos 1980. Também nessa década vemos surgir o palhaço BOZO (SBT) e a dupla ATCHIM E ESPIRRO.


Ainda surgiram outros que, mesmo não usando a roupa de palhaço, usavam e abusavam das mesmas brincadeiras e truques circenses para agradar às crianças, como SÉRGIO MALLANDRO e CHAVES, mas o maior palhaço televisivo que surgiu após a trupe de cômicos da década de 1950, foi Renato Aragão e o seu quarteto OS TRAPALHÕES. 
Herdeiro das tradições circenses, Renato Aragão declarou em entrevista que, aos quinze anos, chegou a assistir um filme com Oscarito dezoito vezes, e declarou: “Quero ser esse cara!” E partiu para realizar seu sonho.
Começou na TV nos anos 1960, juntou-se ao artista circense Manfried Sant’Anna (Dedé), depois a Mussum e Zacarias. Passaram por diversas emissoras até chegar à TV GLOBO em 1977 e se consagrarem junto ao público e crítica. É claro que virariam gibi, lançado em 1976, por Edmundo Rodrigues e a Bloch Editores. Em meados de 1979, o gibi passa a ser produzido pelo Estúdio Ely Barbosa e torna-se um grande sucesso, sendo lembrado até hoje.



A tradição circense está morrendo. Tudo hoje é muito mais sofisticado e tecnológico. O espetáculo que se fazia sob lonas e encantava adultos e crianças, não é mais o mesmo, embora ainda existam boas e grande companhias circenses. Na TV, eles ainda resistem, com moderado sucesso, vide a dupla Patatí Patatá.
As histórias em quadrinhos perpetuam a tradição e o mundo do circo. Apesar de serem difíceis de se achar, procurando com paciência nos sebos e sites de gibis antigos, ainda se encontra exemplares de clássicos como ARRELIA E PIMENTINHA, FUZARCA E TORRESMO, OSCARITO E GRANDE OTELO, que iniciaram a prática de se adaptar sucessos da TV para as hqs.
Sob o comando de Jayme Cortez, grandes desenhistas emprestaram seu talento para esses gibis e muitos inclusive, começaram sua carreira ali.  Um deles ainda está na ativa, e nos conta na segunda parte dessa matéria, como era produzir esses clássicos das hqs.


Na próxima semana:
PARTE 2
Entrevista com
 IZOMAR CAMARGO GUILHERME 


Bibliografia

www.infantv.com.br
www.maniadegibi.com
www.messiasdemello.com.br
www.museudomazzaropi
www.gibiraro.com.br – Kendi Sakamoto
www.sallesfanzineiro.blogspot.com.br
http://tonyfernandespegasus.blogspot.com.br/2012/01/editora-la-selva-imigrantes-italianos.html
Gonçalo Junior – A GUERRA DOS GIBIS – Cia das Letras
Bigorna.net