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AQC entrevista: Suze Elias sobre Henfil

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Fui aluna, no final da década de 70, de uma escola pública em que o vice-diretor, um professor de Português, era um militar. Ninguém se dirigia a ele como Professor Fulano, era Coronel Fulano. Alguns de nossos professores lecionavam também em uma escola militar. Política não entrava em sala de aula, mesmo com um cenário nacional mais mobilizado pelo retorno dos exilados e com a palavra anistia sendo pronunciada cada vez mais com maior frequência. Pedia-se: “Anistia ampla, geral e irrestrita”. Foi nesse contexto, nas manifestações que começaram a ser mais frequentes, que tínhamos acesso às publicações sempre em papel jornal, e pequenos impressos como cartas abertas, que conheci e comecei a ler o “Pasquim”. Foi dado um exemplar, li e aí conheci o Henfil. Quando possível, comprava-se o Pasquim, bem como publicações independentes em algumas bancas de revistas. E tinha muita publicação bacana em algumas bancas de revistas! As publicações da Editora Codecri, eram encontrados nas bancas. E nesse final da década de 70 e início dos 80, muitas bancas de revistas sofreram atentados: vandalismo, incêndios, bombas… Não era fácil ler! Quem queria entender o país, lia Henfil

2. Qual foi o impacto inicial?

O traço e o humor do Henfil se confundiam com a luta pela democratização do país, com a crítica à condução da economia que empurrava a população mais pobre para uma situação de miséria absurda. O humor corrosivo nas tiras e charges não nos deixavam indiferentes.

3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O traço do Henfil é incrível! É econômico, mas tudo parece estar vivo, em movimento.

4. Seu trabalho teve influência direta em você?

A Arte do Henfil me informou e formou. Ele abraçou a luta pela anistia, as diretas, as greves do ABC… Foi exemplo de uma postura de não entrega, de olhar sempre criticamente para contribuir para a mudança. Entendo que a partir do meu lugar nesse mundo, tanto na minha experiência como professora, quanto agora como bibliotecária, minha consciência está comprometida com um ações que contribuam para um olhar mais crítico para o mundo.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical?

Henfil é um marco, em termos de fontes visuais na história do sindicalismo brasileiro. O sindicalismo desse momento tem forte impacto das charges. Não há como contar a história dos sindicatos, da luta pela democratização sem falar do poder comunicativo da arte do Henfil. Eu conheci e conheço colecionadores das publicações do Henfil. Os Fradinhos, a Graúna, o Bode Orelana, o desenho do Teotônio Vilela, o Ubaldo. A arte do Henfil não é só fonte de informação visual, ela faz parte de momentos de luta para muita gente, tem muita memória afetiva. Eu li todos os Fradins! Um vizinho e compadre: Antônio Augusto Schmidt me emprestou a coleção completa.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Eu não me lembro das entrevistas, mas Henfil sempre muito crítico, dava umas esculhambadas bem bacanas! Eu me lembro da expressão “patrulha odara” como resposta à “patrulha ideológica” do Cacá Diegues. Foi um embate que marcou a época.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Democratizar e manter a memória no Brasil é um grande desafio! É de extrema importância que a Editora Noir consiga reunir o pensamento de uma personalidade que faz parte da história da imprensa no Brasil, em suas múltiplas possibilidades já que Henfil trabalhou em várias publicações periódicas de grande repercussão (jornal, revista, imprensa sindical), foi até para a TV! Henfil é um super personagem da história recente do país, alguém que pôs sua arte a serviço da democratização do país e foi para além do registro das questões de uma sociedade extremamente desigual, sua arte fez a crítica provocando e contaminando positivamente os diálogos. Mas fez isso de maneira tão especial que se pode revisitar suas charges e tiras e ver que muitas são extremamente atuais (infelizmente a política atual voltou para o pior aspecto de nosso passado). A Editora Noir vai nos presentear com fonte histórica! Muitos não conhecem a importância e ou o trabalho do Henfil, é uma forma de fortalecer nossa memória de luta.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

O lado multimídia do Henfil vou me lembrar muito pouco. Vou me lembrar das tiras, charges e muitos personagens, que eram muito mais próximos de meu universo daquele momento, e das publicações em formato livro. Henfil foi um gênio num país de pouca memória. Acho incrível como ele se apropriou dos principais meios de comunicação à disposição para interagir, criticar e buscar mudanças! Fez uso dos jornais impressos, revistas, tv, cinema, fotografia… Imagino que hoje, o Henfil combativo e polêmico vislumbraria outras formas de ser um “influencer” e teríamos um campo santo enorme, cheio de influencers, celebridades., músicos… Henfil faz falta! Na França há a “Semaine de la Presse et des mídias dans l’Ecole” que atravessa todos os anos escolares com a preocupação do informar-se para compreender o mundo. Acho que é um grande exemplo de projeto em que é possível trabalhar, memória, informação e formação. Projetos em que a memória é posta em relevo devem passar pelas escolas e bibliotecas. Há muito conteúdo bacana nas redes, mas ficam ocultos ou isolados. O instituto Henfil https://www.facebook.com/instituto.henfil tem que fazer um esforço para ser sempre referenciado e tagueado. A articulação com outras instituições será sempre necessária. O livro continua sendo uma forma/ferramenta basilar de fazer circular a informação, são fundamentais para a manutenção da memória.

9. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

O povo está reagindo apontando Lula como nosso presidente nas próximas eleições. Ainda que a retirada de direitos, piora das condições de vida, embacem uma visão de tempos melhores; a movimentação de mulheres, do povo preto, do LGBTQIA+ e outras vozes que estavam silenciadas tem mantido a esperança e impedido um maior retrocesso. Bom sempre lembrar que o movimento pela anistia começou com um grupo de mulheres. O humor gráfico tem elementos que provocam outras formas de ver o mundo, seja pela mordacidade, imaginação ou na forma como trabalha nosso imaginário. São essas múltiplas formas de ver que podem levar à uma mudança, que não sei se será radical. O humor gráfico é parte desse processo.

CONTATO COM SUZE ELIAS

eliassuz.se@gmail.com

É bibliotecária e chefe do setor da Biblioteca Pública Municipal “Professor Ernesto Manoel Zink”. Organizadora da Semana do Quadrinho Nacional de Campinas, organizou uma Gibiteca dentro da Biblioteca Central da cidade e tem promovido exposições, debates, palestras e oficinas sobre Quadrinhos e Charge direcionado a alunos de Campinas.

https://www.facebook.com/suze.elias

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AQC entrevista: Santiago sobre Henfil

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci o trabalho do Henfil no Pasquim quando comprei o primeiro número em 1969.

2. Qual foi o impacto inicial?

Fiquei impressionado com a irreverência e a boa molecagem do texto; a agilidade e economia do desenho.

3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O humor escrito.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Não tive grande influência, porque sempre fiz desenhos mais demorados, com esboço muito estudado e execução lenta.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa alternativa?

A militância e o engajamento do Henfil nas pautas de esquerda sempre nos impressionou e nos impulsionou nessa coisa de fazer do desenho de humor uma arma. Éramos unânimes em admirar esse comprometimento corajoso do artista.

6. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Ótimo resgatar tudo sobre Henfil. Acho que terei muito prazer em rever literariamente o amigo Henfil.

7. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Admirava muito sua atuação na TV, sempre tinha ideias surprendentes nos comentários e boas encenações, acho que ele se deu bem no meio eletrônico visual. Infelizmente nunca assisti por inteiro o filme dele.

8. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Imensa é a falta de um cara que tenha relevância na mídia e possa botar a boca no trombone em tempos de explícito fascismo.

9. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Claro que temos que amplificar e divulgar os desenhos -até hoje- atuais dele. Esse livro da Editora Noir é muito oportuno. Num período de neo-fascismo e mediocridade, gente com essa índole inconformista e revolucionária é imprescindível.

10. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda?

Parece, pelas pesquisas com Lula, que já começa a haver um início de reação, embora eu ache que a classe média e a classe média-baixa estejam impregnados de postura fascista.

11. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Lógico que Henfil hoje estaria super ativo, produzindo muitíssimo na internet.

12. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Se um novo governo de esquerda (ou pelo menos social democrata) investir profundo na educação política do povão é possível a longo prazo criar uma sociedade mais igualitária. Claro que o Humor Gráfico é peça importante nisso.

CONTATO COM SANTIAGO

https://www.facebook.com/santiagocartunista Neltair Rebés Abreu conhecido como Santiago, é caricaturista e cartunista. Trabalhou como desenhista técnico na indústria de Porto Alegre. Ingressou na Faculdade de Arquitetura, onde ganhou o apelido de “Santiago”, que terminou adotando como pseudônimo nos jornais estudantis, para fugir da censura política vigente naqueles anos. Cursou também Belas Artes e Jornalismo na UFRGS. Publicou pela primeira vez no suplemento humorístico O Quadrão, do jornal Folha da Manhã. Começou a trabalhar profissionalmente na Folha da Tarde, onde fez por nove anos a charge editorial do jornal, até o seu fechamento. Colaborou ainda para o Correio do Povo, Coojornal, Pasquim e para O Estado de S. Paulo. É autor de seis livros. Premiações https://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_(cartunista)

https://www.instagram.com/cartunista_santiago/

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AQC entrevista: Ciça Pinto sobre Henfil

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci primeiro o próprio Henfil, junto com a turma do Pasquim.

2. Qual foi o impacto inicial?

Sobre o trabalho dele? Encantamento, admiração, aquela sensação de: “Gente! É isso aí!”

3. Como o conheceu pessoalmente?

Conheci o Henfil já no Pasquim, onde publiquei algumas dicas, e uma ou duas pequenas matérias. Ziraldo me apresentou o irmão, o Zélio, com quem namorei e casei, e estamos assim casados há 57 anos numa parceria gostosa. Mudamos para SP em meados dos anos 60, quando procurei o Mino Carta no Estadão, com minhas tiras debaixo do braço. Ele gostou, mas não comprou: e me encaminhou para o Claudio Abramo, na Folha de São Paulo, que, sim, gostou e comprou minhas tiras do Pato, pra minha grande alegria…

4. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

As gags, o traço, o quanto tudo era certeiro, o humor malvado, a ternura escondidinha, o olhar crítico.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Na Imprensa Sindical, não sei, mas imagino que tenha sido total. Na esquerda assim em geral, não sei dizer, mas na esquerda no meio da qual eu vivia naquela época, Henfil era aquele gênio que indicava os caminhos fazendo rir, pensar e agir!

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Todas!

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Acho importantissima essa iniciativa. Principalmente nesta época esquisita que estamos atravessando. Fora, é claro, o prazer de reler Henfil.

8. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Uma falta enorme, imensa. Como pessoa, artista, crítico, revolucionário, humorista, cartunista, escritor, filósofo, etcetcetc… E como amigo. Amigo querido.

9. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

As novas gerações, ligadissimas nas redes, realmente conhecem pouco do trabalho dele. Fico pensando se um “Instituto Henfil” virtual além do que existe, não seria uma maneira de divulgar essa obra fundamental…

10. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Acho que ele estaria à toda, produzindo as mais geniais gozações e, acredito, mais personagens imortais no combate à invasão fascista.

11. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Sem dúvida, o humor é totalmente transformador. Não há monstro imune ao ridículo… e não existem armas que acabem com uma boa piada, uma charge certeira, um Fradinho, uma Graúna…

(*) CONTATO COM CIÇA PINTO

https://www.facebook.com/cissapinto

Cecilia Whitaker Vicente de Azevedo nasceu em SP, morou no Rio dos 13 aos 17. Entrou para a AMES (politica estudantil para quem ainda estava no ginásio). Publicou alguns desenhos na revista O Cruzeiro e alguns contos na A Cigarra. Conheceu Ziraldo, Millôr e varios outros cartunistas através dessas revistas, e eventualmente publicou seus primeiros quadrinhos no suplemento “O Sol” do Jornal dos Esportes. Na Folha Ilustrada publicou por mais de 20 anos, uma aventura! Publicou também, mais tarde, no Jornal do Brasil e no Correio da Manhã no Rio de Janeiro. Algumas publicações em jornais sindicais e revistas de humor como a Crás e outras. Publicou também na Inglaterra e na Africa do Sul. Alem do Pato, as Formigas, etc, também criou outros personagens como Bel (para o suplemento feminino da Folha) e Bia Sabiá, que era sua personagem feminista querida. Suas tiras foram publicadas em dois livros pela Editora Pasquim (O Pato e O Pato no Formigueiro), um livro pela Circo (Pagando o Pato) e um pocket pela Editora LPM.

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AQC entrevista: Geuvar OIliveira sobre Henfil

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci por meio dos jornais, em tiras!

2. Qual foi o impacto inicial?

Impacto profundo, ficava olhando aquele traço preto com pinceladas rápidas, a leveza das personagens me chamava muito a atenção.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O traço era uma simbiose do humor, incrível como as duas coisas estavam interligadas diretamente. Era uma dança do traço no papel branco. Impossível esquecer.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Não tive. Eu conheci o trabalho do Henfil já adulto e descolado no desenho. Minhas referências foram mais os desenhistas italianos, depois estadunidenses, o Henfil, era como musas inacessíveis para mim, um “poeta” no chão. Da mesma forma acompanhei o trabalho do Ziraldo e do Bira, conheci o do Bira um pouco antes com as HQs dos Trapalhões, ria demais. O traço do Henfil é único, quase uma assinatura.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Poder. Tinha um poder enorme aquela leitura de grafite em muro, algo instantâneo, o poder daquela informação… era impossível ficar alheio. Não vi na imprensa sindical, porque na época eu morava em cidade pequena e não tinha uma parada dessas. Acompanhava soltos em revistas, livros didáticos tinha bastante coisas dele. Depois que fui para a segunda maior cidade do Maranhão, Imperatriz, passei a frequentar sindicatos e via sempre panfletos com os desenhos dele e jornais que o sindicato fazia a impressão.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Acompanhei poucas, não vi ao vivo. Como falei, morava em cidade pequena na época (anos 70 e 80), mas depois passei a assistir nos vídeos da internet, para saber mais sobre ele. Teve uma na qual ele conta que foi barrado nos Estados Unidos, por acharem seus desenhos muito agressivos. Ele é muito querido no Brasil.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Isso é bacana demais, um legado desses tem que encontrar plataformas para continuar vivo. Tem um efeito agradável saber que existe essa preocupação em manter vivo o trabalho desse grande mestre.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Sensacional! Se não estou enganado tinha umas histórias em fotonovela, preto e branco. Sim, TV Homem era completo, vi algumas coisas dele no audiovisual. Olha aí acho que isso eu me inspirei dele. Sempre fui muito caído pelo audiovisual, agora mesmo estou fazendo um filme da Liga do Cerrado, com um amigo. Cara isso fica na retina da gente e um belo dia vem à tona. Talvez eu tenha essa inspiração dele.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Nossa, cara, do tamanho de uma viagem à lua, ida e volta. Já pensou um mestre como ele nesse tempo de Bozos, Moros e generais entreguistas? Ia ser uma ajuda primordial.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Demais! Porém, uma exposição itinerante pelo país seria bem da hora. Um livro é super legal, mas imagina uma exposição chegando aqui em Palmas e em outras cidades menores e as escolas disponibilizando estudantes para visitar? Aquelas pessoas conversando no momento exato de suas impressões é único e depois uma discussão em sala. Pensa nisso!

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda?

A coisa já estava ruim há muito tempo, os fascistóides só jogaram no ventilador. Eu considero que todo o problema é por causa da má distribuição de renda.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

E sanha religiosa também. Acho que Henfil estaria com todo mundo nas cordas e socando o estômago deles, entrando com gancho, voadora e tudo mais.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Essa pergunta me fez lembrar uma coisa, como eu acompanho o PT há muito tempo, cansei de ver os cartazes do Henfil nos diretórios do partido, nas paredes, impressos, boa lembrança. Sim é possível, porém temos dirigentes sem muita vontade que fica ocupando o lugar indevidamente, mas é possível se o povo se politizar e amar o país, como ele deve ser amado. A classe trabalhadora não deve negociar o país com essas oligarquias, que estão empoleirada a muito tempo recebendo presentes para manter o país atrasado. Temos grandes problemas na política, porque o sistema financeiro tomou de conta do Congresso Nacional, impedindo que homens e mulheres realmente nacionalistas posso contribuir para o bem do país. Recentemente aconteceu uma coisa que me deixou muito preocupado, essa suposta intenção do Lula chamar o Alckmin para vice, corremos um sério risco de repetir um Sarney/Tancredo. Imagine o mal que seria se os votos da esquerda fossem transferidos para a direita governa, porque o titular sofreu um “acidente”? Estamos sofrendo com um grande atraso provocado pelo Temer, Bolsonaro, outra tragédia poderia ser fatal para o país. As gerações de nacionalistas poderiam está em xeque.

(*) CONTATO COM GEUVAR OLIVEIRA

https://www.facebook.com/GeuvarOliveira

Lorem Geuvar Oliveira é natural do Maranhão, mora no Tocantins desde 1997. Graduado em Letras pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e em Teatro pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). É membro da Revista Pirralha. Em 1980 desenhou o faroeste Matt Bill. Sua primeira HQ foi publicada em 1997, na revista Gira. Criou Quadrinhos da Liga do Cerrado (Homem Suvaco, Maria Paulada, Jeitosa, Homem Pochete, Homem Pichilinga, Senhor Gambiarra e Caryocal), Viagem ao Centro da Gramática e a trilogia Mugambi. É fundador da GComics, que tem o objetivo de representar o Brasil da cultura pop através de quadrinhos e livros. Nos anos 90, começou a produzir quadrinhos para o mercado publicitário e depois quadrinhos independentes. Geuvar trabalhou como chargista em diversos jornais impressos e em agências de publicidade como ilustrador e criador. Atualmente trabalha no seu grande projeto, uma HQ sobre um personagem iorubá.

https://www.geuvaroliveira.com.br/loja

https://www.instagram.com/geuvaroliveira/

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AQC entrevista: Maria Luiza Nery sobre Henfil

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Foi pelos anos 1974 ou 75. Eu estava terminando o Colegial (hoje Ensino Médio – acho) ou começando a faculdade de Psicologia, e sempre que dava ia ao Centro velho de SP em busca de novidades: a MAD americana, as primeiras revistas de informática, Pasquim… Conheci o trabalho do Henfil primeiro no Pasquim, depois as revistas. E ainda tenho vários exemplares!

2. Qual foi o impacto inicial?

O que mais me chamou a atenção foi o traço, tão rápido, tão urgente, como se o tempo fosse pouco, e cada vez menor, para colocar o que pensava, via e sentia no papel. Impossível não sentir a urgência no e do traço.

3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Principalmente o traço, mas em segundo lugar pertíssimo foi a percepção do mundo ao redor. Até hoje lembro de duas situações: a Graúna e o Bode Orelana caçando corruptos com uma visão bem seletiva de corrupção, e o Fradinho Baixinho sem entender a relação do Cumprido com a mãe, que era diametralmente oposta à que ele vivia.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Acho que me deixou mais atenta ao mundo e suas diferenças? E mais atenta ainda a mim, para respeitá-las. E, num outro nível, atenta às desigualdades. Embora não ganhe parcelas do orçamento secreto, estou sempre apoiando causas com as quais me identifico. Uma das minhas preferidas é o Pimp my Carroça.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical?

Sobre esse impacto eu sou totalmente Glórias Pires: não tenho condições de opinar. Mas acho que pelo menos um ou dois colegas de faculdade começaram a ler Pasquim e Henfil por minha causa. Até onde lembro, era a única a ter e ler essas publicações por lá.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Essa eu vou ficar devendo. Lembro pouquíssimo das entrevistas do Henfil, uns flashes de quando o irmão dele (Betinho) voltou do exílio.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Amei a iniciativa, tanto que contribuí no Catarse. Em mim o efeito será de descoberta pois, como respondi acima, quase não acompanhei as entrevistas dele. E, para as novas gerações, será a oportunidade de conhecer alguém que pensava muito além de caixinhas e da sua época.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Eu assistia TV Homem sempre que possível, e gostava da maneira como ele provocava as pessoas a pensarem além do óbvio. Mas não assisti Tanga.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Neste deserto em que querem nos transformar, ele faz uma falta imensa. Pensar e provocar está cada vez mais raro aqui.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

O livro pode ajudar, desde que divulgado de modo a atrair essa moçada. Investir o máximo possível nas redes que eles mais usam, tipo TikTok, de maneira tão anárquica quanto o próprio Henfil, deve ajudar.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Está sick, está puto, está farto… ou sou somente eu? Ou a prioridade máxima, colocar alguma coisa, qualquer coisa, no prato da família está deixando a reação no final da fila? Sinceramente, não sei o que ou como responder.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Estaria usando seu talento monstro para denunciar, apontar, ridicularizar. E certamente estaria colecionando processinhos baseados na (ainda bem!) falecida LSN movidos pelos capachos daquele um que obraram no Planalto.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Do meu lado do balcão, de simples consumidora apaixonada de artes gráficas, humor é termômetro da época em que é feito, e pode ser um registro claro, crítico e apaixonado do que se vive e do que se vê que pode alimentar nas pessoas o desejo de mudança. Mas o humor como “guia” de mudança eu acho mais complicado. Já temos líderes, salvadores, pais e mães da pátria demais, todos vendo as pessoas como criancinhas incompetentes que precisam ser levadas pela mão até a verdade redentora. Prefiro uma arte instigante, que faça pensar, que abale certezas, ao invés de uma que mostre um único caminho que é verdadeiro apenas para quem o indica.

CONTATO COM MARIA LUIZA NERY

mlnery@uol.com.br

Psicóloga que também tem graduação em Música porque tinha uns planos que mudaram depois. Tem mestrado em Saúde Pública, mas não fez doutorado porque bateu de frente com a orientadora. Foi psicóloga no hoje HFASP (Hospital de Força Aérea da Aeronáutica de São Paulo) desde uns anos depois de se formar até 2012, quando foi para a reserva, e desde então trabalha como tradutora. Sempre foi apaixonada por aprender, estudar e descobrir, e pretende continuar aprendendo, estudando e descobrindo pelos próximos milênios. Sobre a Aeronáutica, esqueçam os estereótipos; durante aqueles anos desenvolvi com as outras psicólogas (grandes amigas até hoje) vários projetos e trabalhos que nem de longe envolveram pintar árvores e guias de calçada mas que, dentre outros resultados práticos e diretos, inclusive para não militares, ofereceram chances reais de crescimento aos recrutas que, eles sim, estavam sempre retocando a pintura debaixo do sol quente.

https://www.instagram.com/nerymarialuiza/

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AQC ENTREVISTA: CRAU DA ILHA SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

A primeira vez que li aquele nome estranho (Ênfil? Rênfil? Enfíu?) no livro Dez em Humor eu, era criança ainda. Depois descobri que estava também no Pasquim, que a passava de mão em mão, assim como o tablóide Grilo, que pirateava todos os gringos do underground. Isso acontecia no colégio técnico Iadê (de desenho de comunicação) e arredores, onde prolongávamos o expediente estudantil, o bar Riviera. O Iadê por sinal produziu vários profissionais engajados. Eram nossos contemporâneos e colegas os cartunistas Sizenando, João Zero (fanzine Boca), Patrícia (revista Crás), Grillo (Notícias Populares), e a Crau aqui. Todos a seu modo tiveram influência do Henfil. A gente fazia curso extracurricular de teatro e eles encenavam os Fradins. Muito legal, aquele jeitinho sádico do Baixim, tudo feito ao vivo, isto me marcou bastante. Também vieram do Iadê o articulador da classe Alfredo Nastari (AGRAF), os jornalistas Silvia Poppovic e o Luiz Fernando Silva Pinto. Era muito forte a expectativa de você ser atuante. Dentro do colégio tinha um pensamento único e geral de que aquela situação de ditadura não podia persistir. Todo mundo tinha visão de esquerda, na vida mesmo, na forma de se relacionar e na arte. Era um publico adolescente aberto à influência da esquerda e de todos os movimentos modernos, de Jean Paul Sartre, da escola de Frankfurt, aos tropicalistas e a turma do Pasquim. A gente tinha uma visão muito avançada para época, se dizia vanguardeira. Vale lembrar que era a época da ditadura bem fechada e que a gente tangenciou o perigo em várias circunstâncias. Mas nesse contexto sombrio também brotavam movimentos nacionalistas libertários como o dos Secos e Molhados, dos baianos, de Milton Nascimento. Boa parte da juventude da época se sentia alinhada a todo esse movimento.

2. E qual era sua proximidade dos movimentos de cartunistas na época e depois?

Você sabe que, exceto nas ocasiões em que participei de projetos específicos como O Bicho, As Periquitas, 2º Encontro Lady’s Comics (mesa “As Precursoras”) e agora na Revista Pirralha, grande parte da minha vida estive bastante periférica em relação a todos esses movimentos, o que não me impediu de acompanhar à distância. Como a categoria dos cartunistas foi a primeira que me acolheu profissionalmente, em idade pouca, quase saindo das fraldas, sempre me senti parte da turma e, talvez por isso, acabei estando presente em outros momentos pontuais, específicos que se me gravaram indelevelmente na memória.

3. Qual foi o impacto dos Quadrinhos do Henfil que você sentiu?

Do ponto de vista profissional, não preciso dizer que o conhecia como qualquer um de nós: um mito sagrado. A princípio confesso que o sadismo do Fradim baixinho me chocava. Mais tarde me ocorreu que o cumprido seria o Betinho e Henfil o baixinho, com toda sua irreverência.

4. O que você mais lembra do Henfil?

O que eu consigo me lembrar do Henfil, além do seu programa de manhã na Globo. Lembro em especial de um no dia do casamento da Lady Di. Depois de sua morte, no primeiro Salão do Rio de Janeiro que levou seu nome. Este Salão ficava em algum lugar na Vieira Souto, em Ipanema. Parece que ele vivia em um apartamento, praticamente sem móveis, por ali também.

5. E você chegou a estar com Henfil?

Apesar de já ter estado perto dele algumas vezes (por alguns instantes) quando a redação do Bicho era n”O Pasquim, no segundo andar da casa da Saint Roman. Para mim, uma guria de 19 anos que tinha acabado de chegar, ele era uma entidade sagrada, além de muito bonito, mas que eu tinha vergonha de abordar.

6. Ele trabalhava junto com todo mundo no Pasquim?

Não, ele trabalhava incessantemente e sozinho numa sala vizinha à sala do Bicho, no segundo andar, e só entrava na nossa para usar a máquina copiadora Xerox. Me olhava com olhos prescutadores e profundos, se nos cruzávamos na escada, por exemplo. Eu arregalava os meus e uma vez ele perguntou se eu estava assustada. Foi a primeira vez que me dirigiu a palavra. Na hora do café, todo mundo -cartunistas, editores, secretarias, os moços do escritório, o vigia- ia para a cozinha, que tinha uma porta que abria para a vista do morro. Alguém sempre tinha comprado pãozinho fresco com manteiga e tomávamos com o copo de café com leite mais gostoso do mundo. Lembro de ser um momento de muita camaradagem -em que as diferenças se acabavam- e o que eu mais fazia era observá-los. Henfil tratava a todos com muita amizade e respeito, sobretudo os funcionários mais humildes.

7. E o reencontrou mais alguma vez?

Anos depois, ao voltar da China, encontrei-o em Piracicaba, Ele veio e sentou-se ao meu lado na platéia do anfieatro que ouvia o Nássara. Naquele ano, creio que 1977, eu ja não morava no Rio. O Henfil. me fez uma festa, como se já tivéssemos sido bastante íntimos. Me abriu um sorriso “Você por aqui?” Eu já mais desinibida, respondi: ” E você por aqui?” E eu quis saber sobre a China. Ele estava realmente impressionado. Mais um par de anos à frente vi-o num fim de semana na colônia de férias no sindicato dos metalúrgicos, na Praia Grande, durante um encontro com lideres sindicais para o qual que Laerte me convidou e me levou a participar. Henfil demorou a chegar porque havia tido um acidente e precisou receber uma transfusão de sangue no hospital. Mas veio, chegou com uma bengalinha e participou do encontro. Acho que cheguei a jogar ping pong com ele. Ao menos lembro dele no pátio, perto da mesa. A ideia que me passava é que ele era de uma humildade impar. Estava nessa reunião na posição de ouvinte. Só queria saber quais eram as reivindicações dos trabalhadores para ele poder desenhar o Ubaldo, o paranóico.

8. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

A entrevista que ele deu que mais me marcou foi a da revista O Bicho sobre sua estadia nos EUA, a relação dele com os Syndicates. Na época a gente estava na luta contra a dominação do Quadrinho estadunidense nas tiras de jornais brasileiros e em prol de publicar uma revista de cartuns e quadrinhos não-enlatados. Essa era a discussão que estava na pauta do dia pra gente. Então quando ele veio com aquela entrevista “Fiquei Sick da vida, meu irmão” e ele dizia que tinha ido lutar contra o Syndicate por dentro. Ele tinha muita consciência da luta contra o sistema e achava que ia romper com o capitalismo por dentro. Ele tinha muita fé neste poder do cartum e do desenho de humor em transformar consciências e mudar a realidade. E dizia “Eu indo nos EUA e sendo publicado lá por uma agência, eu conseguiria ser publicado no meu país”. Mas eu lia tudo que ele publicava no Pasquim e alguns dos livros que ele escreveu: Diário de um Cucaracha, Henfil na China. Ahhh e o livrinho pequeno “Como Se Faz Humor Político” entrevista que ele deu ao jornalista e crítico musical Tárik de Souza. Lá ele falava que a inspiração dele era um cachorro preto atrás das costas: o prazo do fechamento do jornal. Ele falava da experência dele em produzir charges e quadrinhos. A gente sempre tem aquele complexo de fazer as coisas de última hora. E chargista de jornal é de fazer as coisas em cima do prazo, em cima da última notícia, na hora que está pra ir pra gráfica. Às vezes dá uma sensação de inadequação, de deixar pra última hora. Isso faz parte do processo do cartunista, então dá bem pra imaginar que a hora do ‘fechamento’, o ‘dead line’ é um baita de um cachorrão nas tuas costas -pronto pra te devorar- tem uma plaquinha na coleira escrito ‘PRAZO’. E você faz o desenho naquela tensão, e acaba dando uma característica no traço, mais rápido e mais espontâneo. Isso me marcou muito. Em outra entrevista que ele deu, não lembro aonde, ele reclamava de pessoas que faziam gestos por reflexo condicionado, automáticos. Ele se irritava muito com isso, achava que cada gesto tinha de ser pensado.

9. Qual é o tamanho da falta que o Henfil faz?

É o tamanho da falta que faz um luzeiro, um clarão de muito brilho. Henfil foi um dos luzeiros das nossas gerações. Ele marca uma época. Representou a cara do Pasquim e continua muito atual. É uma falta enorme. Senti sua perda como a perda de uma amizade querida que eu não teria mais chance de desenvolver. Enfim. HENFIL é referência, era e continua a ser aquela sumidade a quem os cartunistas recorrem tentando imaginar o que ele faria se estivesse aqui. O Henfil era muito alerta pra vida, acho que tinha a ver com a condição de hemofilia dele, como se a vida estivesse sempre escorrendo por entre os dedos e tivesse que estar muito atento pra não deixá-la escapar. Isso fazia dele um cartunista único, com otraço completamente caligráfico de quem escreve rápido, que influenciou gerações de cartunistas. O que seria de nós sem Henfil?

10. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?

Não vi nada dele no cinema. Eu já estava fora de São Paulo. Mas via TV Homem, dentro do programa TV Mulher da Marília Gabriela. Eu assistia todo dia e achava bem legal. Ficava feliz de vê-lo na TV, de ver o que estava fazendo. Lembro que encenavam uns quadros praticamente sem palavras. O quadro que me lembro era o do casamento da Lady Di, tinha uns caras todos vestidos de operários, começava a passar o casamento da Diana e príncipe Charles na TV, daí cada um pegava um companheiro e começavam a dançar uma valsa. Achei aquilo o maior barato. Fiquei refletindo como ele mostrava essa realeza no imaginário da população, que lhe chamava tanta atenção e desviava o foco de assuntos mais importantes e vitais. Mostrava um encantamento e alienação. Eram coisas que faziam a gente pensar. Henfil é isso: faz a gente pensar. Quem cumpre este papel hoje em dia é a cartunista Laerte. A charge dela não se esgota ali, você acaba sacando mais alguma coisinha. O Henfil, de outra forma, era mais panfletário mesmo! Todos trazendo isso da sua forma. É como se fosse a mola do pensamento que desperta. Isso não pode morrer jamais.

11. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

A gente tem de compartilhar, compartilhar e compartilhar! Eu confesso que não sou uma pessoa muito compartilhadeira não, fico muito cansada com estas coisas de redes sociais, mas o sticker da Graúna com o coraçãozinho é o que mais uso quando quero enviar um coração pra alguém. Este livro editado pelo Gonçalo Jr e Editora Noir pode ajudar muito. A gente divulgado este livro, vai colocando as pessoas em contato com o Henfil. Não sei se o livro tem ilustrações, deve ter né? Mas é bem importante sim pra conhecer tudo que ele fez, pensou e disse. É desses autores que a gente tem que mergulhar e conhecer tudo que fez pra entender uma parte da história, do Brasil. Eu gosto de mergulhar em autores, agora estou mergulhando na Isabela Allende, quero ler tudo que ela escreveu, e comecei a ter acesso a seus livros só recentemente. Henfil? A nova geração tem que abocanhar mesmo.

12. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

O Brasil tá doente sim. Tá puto da vida também. Mas eu acho também que os anticorpos estão em ação, né? Eu não tinha visto tanta juventude engajada como tenho vistohoje. E tá abrindo a cabeça para uma visão social. Eu acho que está ficando cada vez mais feio ser uma pessoa alienada. Por isso o Brasil tá sick da vida, tá puto, tá resistindo e tá reagindo, no sentido de responder a isso tudo. Existe o câncer e existe os combatentes ao câncer, estamos deste lado e não vamos largar mão!

13. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Imagine se ele estivesse aqui, agora. Ele estaria à toda, produzindo mais do que nunca. Estaria em campanha em todas as mídias. Estaria na rua, em tudo quanto é lugar. Estaria mais ativo do que nunca e formulando outras formas de agir, outras ideias, estratégias. Ele continuaria a ser um militante full-time. Temos chargistas geniais, criticando o que está acontecendo, a gente os vê toda hora, brilhantes. Mas este engajamento dele muito dirigido, uma pessoa que não tinha nem móvel na casa, vivia pro desenho e pra conscientizar as pessoas. Não sei se temos alguém com este engajamento que ele tinha. Lembro dele no Pasquim, ele não tinha tempo nem pra conversar. Era ele desenhando o tempo inteiro. Desenhando, desenhando, desenhando. A gente passava pela sala com a porta aberta e só via ele de costas. Todos nós estamos segmentados em nosso interesses. Não sei qual de nós é assim… Mas tenho uma certeza, se Henfil estivesse entre nós, em carne, osso, estaria na Revista Pirralha! https://www.facebook.com/RevistaPirralha

https://revistapirralha.com.br/

https://www.instagram.com/revistapirralha/

14. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima-quarta pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical?

O fato do Henfil ser um dos fundadores do PT é um ponto importante pra se levar em conta, principalmente os que falam mal do partido. É bom lembrar que as melhores cabeças estiveram neste início do processo de redemocratização. Vários operários, sindicalistas, intelectuais como Florestan Fernandes e vários artistas como Henfil e muitos cartunistas, gente de todas vertentes e alas, né? Vieram de caminhos distintos, articulações distintas. Uns mais à esquerda, mais revolucionários, outros mais conciliadores. O PT foi o celeiro onde foi colocada toda essa gente que estava descontente e queria mudança. Na época o PT era visto como uma grande promessa, o Lula já despontava como uma liderança naqueles comícios no estádio de S. Bernardo do Campo. Isso aí eu vi no comecinho, quando participei daquele encontro durante o fim de semana na colônia de férias na Praia Grande. A carga emocional de união que tinha ali era enorme, mesmo pra quem estava só observando, mostrava que você estava ali tomando partido. Eram jornalistas e cartunistas misturados aos sindicalistas, conversando junto sobre o que estava acontecendo, tomando café junto, comendo junto, bebendo junto, dormindo junto e formulando os materiais que iam ser produzidos nos jornais sindicais e grande imprensa. Acho super importante conhecer esta realidade e acordar esta turma que fica falando bobagem por aí. Aliás, eles nem pensam no que falam, só repetem as bobagens que alguém plantou. Existe tanto anti-petismo baseado em fatos duvidosos divulgados amplamente pela imprensa. Demonizar um partido que tem uma história dessa é, no mínimo, falta de bom senso.

Como foi a sua participação na administração petista da prefeitura de Ilha Bela?

Quando começaram as denúncias do Mensalão eu estava filiada ao PT aqui na Ilha Bela, ajudando a candidata do PT à prefeitura. Nós fizemos uma reunião pra todo mundo decidir o que ia fazer. Estava todo mundo chocado. Eu entendi que o mensalão tinha sido a única forma de garantir votação de pautas sociais, não entendi como corrupção individual. Penso que não é assim que tem de ser. Alguns pularam fora e a gente achou que não, a gente tinha entrado com o propósito de fazer uma coisa séria. O fato de algumas pessoas terem feito coisas erradas, não queria dizer que todos filiados fossem venais. Depois foi esvaziando e não elegemos mais ninguém. O povo aqui da Ilha sempre foi muito ligado à classe dominante, se sente bem assim, se enontra na praia, não gostam de confronto… O PT foi fundado duas vezes aqui na Ilha e participei das duas. Perguntaram para uma senhora da idade da minha mãe por que ela estava se filiando ao partido e ela respondeu: “Porque eu tenho vergonha na cara!” O PT era um baluarte de ética na época. Apesar da gete saber que nem todas pessoas que estavam lá pensavam da mesma maneira. Tem quem entre na política de forma individualista ou corporativista. E acho que um governo que represente o povo brasileiro não pode ser corporativista, tem que ver a sociedade como um todo, ver todas as forças, considerar a parte ambiental que sustenta tudo. Nós temos que pensar como construir este governo enquanto sociedade civil participativa, enquanto membros de partidos que tenham algum poder, a gente tem que ajudar a reconstruir, remendar este Brasil, ressuscitar este Brasil. A gente tem este dever, porque nossos netos estão aí, né? O que vamos deixar pra eles?Tem uma humanidadezinha aí pra sobreviver, né? E um planetinha azul… Tomara que a maioria deles seja bem educada, bem consciente.

QUEM É CRAU DA ILHA

Crau França é formada em Engenharia de Aquicultura na UFSC e Tecnologia em Produção Multimídia no Centro Universitário Módulo, estagiária na empresa Hellenic Centre for Marine Research, fez Mestrado em Aquicultura no Instituto de Pesca -APTA-SAA-SP, foi diretora da CooperAqua, Secretária da Prefeitura de Ilhabela. Publicou cartuns e foi editora na revista O Bicho. Foi idealizadora e editora de arte na empresa Revista As Periquitas. Faz parte do Conselho Editorial da Revista Pirralha. Recebeu o Troféu da AQC como Mestra do Quadrinho Nacional no 36.º Prêmio Angelo Agostini.

Perfil no FB:

https://www.facebook.com/crau.dailha

Crau no instagram:

https://www.instagram.com/craudailha/

Entrevista:

https://ofolhademinas.com.br/materia/32285/coluna/crau-e-as-periquitas

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AQC ENTREVISTA: MILTON GURGEL (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil? Lembra da ocasião (onde, quem apresentou e qual era a revista ou jornal)?

Lendo o Pasquim.

2. Do que você mais lembra de ver no jornal?

Lembro do Bode Francisco Orelana, de quando ele foi morar em Natal (RN). E quando ele dizia “O Rio tem uma Ipanema. São Paulo tem 200.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Os escritos, no visual sou meio retardo.

4. O trabalho do Henfil teve influência direta em você? De que forma?

Na PUC, no movimento estudantil… HENFIL era comentado em prosa e verso.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na esquerda? E entre seus amigos? Quais eram os comentários das pessoas?

Os trabalhos do Henfil eram elogiados, de forma quase unânime. Só teve uma vez que ele criticou o Caetano, por conta do movimento Odara… deu um tereré! Mas passou logo…

A música Odara (gravada no disco Bicho de 1977) foi um dos maiores sucessos de Caetano após sua passagem pela Nigéria. Parte da militância de esquerda na época não gostou da mensagem, pois a luta contra a ditadura estava no auge. De acordo com Caetano em seu site: “Nova polêmica se instaura. O termo odara acabara se tornando sinônimo de hippie, ou, para a ala dos esquerdistas, alienado; os odaras, por sua vez, responderão aos que lhe cobram posicionamentos políticos explícitos, chamando-os de patrulheiros ideológicos. Uma atualização da divisão entre os tropicalistas e os engajados da MPB, dez anos depois do movimento.” Já em 1978, Henfil reaqueceu as vendas do semanário ao abrir polêmica com os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Glauber Rocha, aos quais acusava de “alienados” por externarem simpatias, em maior ou menor grau, com a abertura “lenta, gradual e segura” do general Geisel. Na contenda, Henfil cunhou a expressão “patrulha odara” como contraponto às “patrulhas ideológicas”, expressão usada pelo cineasta Cacá Diegues para definir o que ele considerava equívocos de esquerda patrocinados pelo sectarismo ideológico. Os patrulheiros odaras exigiam criações apolíticas e atitudes escapistas.

A palavra Odara vem do dialeto yourubá e quer dizer ‘estar bem, relaxado, tranquilo’.

6. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

INFINITA enquanto dure.

7.Como era a situação do tempo do Pasquim comparada com a de hoje?

No tempo do Henfil não tinha essa direitosa, as pessoas tinham vergonha de ser assim.

8. E a pressão da Ditadura?

O cineasta Glauber Rocha sofreu muito. Henfil também iria sofrer demais.

9. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tanto ataque deste atual governo. O Brasil tem saída além do aeroporto?

A História é circular, dizem alguns autores. Ver ai: Chile, Argentina, México, tudo voltando para esquerda. O difícil, mas muito difícil mesmo, é mudar a estrutura do capital.

10. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Sofrendo muito. Ele era hemofílico.

11. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas.

A produção de um artista representa o espírito de uma época. Nos anos 70, 80 tínhamos esperança. Hoje tenho certeza, o Brasil não tem amanhã.

MILTON GURGEL

Foi militante do movimento estudantil durante a ditadura. É advogado.

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AQC ENTREVISTA: MARIA DA PAZ (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci na grande mídia e comentado pelos profissionais do setor de imprensa do Sindicato dos Químicos de SP e companheiros da diretoria. A partir daí comecei admirar o jeito peculiar de se revoltar contra o autoritarismo, Adorava, em especial, a Graúna. Pra mim era a personagem que mais me revelava a firmeza de continuar a luta incansável.

2. Qual foi o impacto inicial?

De saber que um profissional daquele, no auge de sua carreira, se dedicava praticamente à linha de frente em defesa de uma sociedade. Trabalhando na intenção de organizar um povo através de seus traços.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O que mais me chamou atenção foram os traços. No meu entendimento quando uma história se mostra através de um desenho, ela se torna mais marcante, pois o artista se transporta de corpo e alma e se faz entender muito mais.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

A influência dele no meu trabalho foi de absorver as determinações, a coragem de lutar por um objetivo. Aprendi que não se pode fraquejar diante de um obstáculo, mesmo que ele nos assuste.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Como disse, o pessoal que fazia o Sindiluta (jornalistas e chargistas) mostrava e comentava os Quadrinhos do Henfil. Eles produziam um boletim diário que tinha 15.000 exemplares diários distribuídos nas fábricas químicas e farmacêuticas do departamento de imprensa do Sindicato, sempre com charges e o personagens Chico Ácido e Maria dos Remédios. Ahhh, e pelos companheiros da diretoria também.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Não lembro de uma entrevista em especial.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

A iniciativa da Editora Noir foi uma decisão acertadissima, corajosa. Pois, diante da confusão que vivemos nos dias de hoje com desinformacões absurdas, precisamos ter um norte. E quem não viveu a época do Henfil e das sua -nossa- Graúna, terá a oportunidade de saber como foi uma parte dessa história de luta e resistência.

8. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

A falta que o Henfil faz é exatamente do tamanho dele. Com idéias que foram abraçadas por quem precisava seguir a lógica daquele momento.

9. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Pode ajudar sim, no sentido de mostrar para a sociedade o que esta é uma luta de classe esquecida por muitos. Pois diante do que estamos presenciando, é preciso voltar a conscientizar as pessoas com um trabalho incansável. Incansável! Exposições me parecem o ideal, acompanhadas de rede social. Me veio à mente, o trabalho de porta de fábrica que fazíamos. Hebfil precisa voltar às portas de fábricas.😊

10. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

O grande problema de uma sociedade é esperar acontecer o pior para entender o que acontece ao seu redor. O comodismo de uma sociedade muitas vezes traz sérias consequências.

11. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

A fundação do PT foi uma necessidade fundamental naquele momento pra sociedade. Ainda mais contando com uma mente transformadora de idéias como Henfil. Iniciei na luta sindical através de contato com companheiros Nilza, Domingos Galante, Zé Domingos e Margarida… Não tive dúvidas ao receber o convite para participar das reuniões da Chapa 2 de Oposição dos Químicos SP. A partir dali, fui trabalhando o meu consciente para adquirir mais conhecimento, pois os meus companheiros precisavam de apoio. O que mais me encantou foi a participação das mulheres naquela diretoria. Seis mulheres dando suporte na luta daquela categoria. Aprendi, participando daquela diretoria, o suficiente para não aceitar certos tipos de imposições. Uma sociedade não pode aceitar o autoritarismo. Já passamos por isso lá atrás na Ditadura. Estamos em outros tempos, mas a luta continua e não é nem um pouco diferente. Estamos às margens do absurdo, com pessoas desprovidas de conteúdo, a celebrar os fins dos direitos dos trabalhadores, tentando escravizar ainda mais este povo sofrido. Não permitiremos, CHEGA!! Estamos com a Graúna!

(*) CONTATO COM MARIA DA PAZ

https://www.instagram.com/dapazze4/

Maria da Paz foi membro da Cipa na indústria Farmacêutica Laffi. Diretora do Sindicato dos Químicos e Farmacêuticos de SP por várias gestões, se aposentou e mudou para São Luiz, no Maranhão. Continua na luta por um Brasil melhor.

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AQC ENTREVISTA: FAUSTO (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

A primeira vez que tive contato com o trabalho do Henfil, foi de uma maneira um tanto especial, como um estopim, para o começo de minha carreira. No ano de 1972, aconteceu algo incrível. Eu trabalhava no jornal Diário de Guarulhos (um tabloide de 4 e às vezes 8 páginas), uma espécie de Diário Oficial da cidade, embora não fosse. O jornal era produzido na base do clichê (nas fotos e artes) e chumbo (nos linotipos). Foi meu primeiro emprego. Fui contratado para ser desenhista, mas como não havia espaço para isso, acabei sendo um “faz tudo” na redação. Em um desses compromissos, de levar foto e desenho para virar clichê, fui até a na Clichearia Guarani (que ficava na Rua Três Rios, no Bom Retiro, em São Paulo), que acabei me deparando com um desenho do Henfil: um desenho simples, de um cara com um porrete, correndo atrás de um monte de gente. Bem simples: estilo Henfil.

2. Qual foi o impacto inicial?

Foi o estopim que faltava para meu desejo e oportunidade de virar cartunista. Isso acabou se realizando a partir de 1974, em um outro jornal da cidade, o Guaru-News, já com uma pegada mais profissional, com uma boa equipe. Logo em seguida, conheci o O Pasquim, com o Henfil e outros grandes nomes do desenho de humor: Jaguar, Fortuna, Millôr, Ziraldo, Cláudius… daí, aconteceu a grande guinada. Fui aprendendo de tudo, aos poucos, com a força dos amigos já profissionais, consagrados na redação do Guaru-News.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O impacto inicial foi como explosão! Apesar de ser uma reprodução muito simples, me impressionou muito a estética e o grafismo do Henfil. Depois disso, passei a procurar e curtir tudo do Henfil, inclusive no O Pasquim. Entre todos os grandes do jornal, já conhecia o trabalho do Ziraldo, por conta da leitura da ” Turma do Pererê”, quando eu era criança em minha cidade natal, Reginópolis ( SP ). Foi também muito importante para minha formação de cartunista, esse reencontro com o Ziraldo.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Minhas primeiras influências nos desenhos vieram por conta da leitura dos gibis (Disney, Ziraldo, entre outros) desde os tempos de criança. Mas com toda a certeza, o diferencial foi o contato com o desenho do Henfil, que passei a ler mais e estudar seus traços, sua abordagem e observação de sua estética bem avançada.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Como homem de esquerda, o Henfil era extremamente preocupado com as questões sociais e as lutas pelos direitos trabalhistas naqueles momentos de plena ditadura nos anos 1970. Por conta disso, a atuação firme dos Sindicatos se fazia necessária. Pelo fato de ser agregador, Henfil conseguiu juntar grandes colegas cartunistas que, através das artes dos cartuns, cartazes, charges e quadrinhos, aumentaram essa atuação na Imprensa Sindical (especialmente pela agência Oboré), Sindicatos e imprensa no geral. As repercussões foram muitas e positivas: a comunicação através do cartum, mostrou sua força.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

A atuação do Henfil repercutiu muito e muitas entrevistas foram concedidas em todas as mídias. O Henfil (para além do cartum) tinha uma capacidade incrível de comunicação. Foram tantas, muitas e boas que até fica difícil citar a melhor. Ele consegui se tornar popular, pois soube lidar muito bem com isso: levando seu trabalho para a TV e trazendo para o Teatro, além de inúmeras publicações. Na época, eu era chargista do jornal Ultima Hora (do Grupo Folhas) e tive a honra de ser vizinho de página com o Henfil (ele publicava as Cartas ao Primo Figueiredo).

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Parabéns à Editora Noir por reunir, em livro, as entrevistas sobre o Henfil. Será um documento importante sobre uma figura incrível e marcante do cartum, das artes e das conquistas sociais. Com certeza cada admirador, cada colega, cada amigo, terá muito o que contar desse personagem de uma época marcante para o país.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Ser multimídia nas circunstâncias da censura e dos perigos da ditadura, não era fácil, mas o Henfil com seu enorme talento, tirava sempre de letra e… de cartum. E para ir adiante com seus inconformismos foi até os States fazer cinema. Uma coisa nada fácil. Não posso mensurar como foi o sucesso de “Tanga deu no New York Times”, mas TV Homem foi marcante, com boa repercussão sobre as abordagens dos temas.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Um cara tão brilhante e genial como Henfil, faz muita falta nesse momento horroroso e em tempos de pandemia. Com certeza, sua postura firme e crítica, iria contribuir muito para o debate.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

É verdade, infelizmente as novas gerações conhecem pouco mesmo sobre o Henfil. Apesar de todas as exposições, publicações, documentários, livros e do bom trabalho do Insituto Henfil. Louve-se o esforço do filho Ivan Cosenza. Nesse momento de desvalorização da cultura, fica um tanto difícil chegar ao público. Mas acho que cada esforço dos admiradores podem fazer a diferença. De minha parte, como grande fã e até por me inspirado nos traços do Henfil, sempre apresento sua arte aos amigos.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

O momento que país esta vivenciando certamente é um dos piores da história da Republica. Por conta do negacionismo nas questões de saúde. É certo que a pandemia é universal, mas pelo fato do governo de plantão ter contrariado as questões da ciência, as consequências são desastrosas, com centenas de milhares de vidas perdidas. A luta pela preservação da democracia é questão principal. Certamente a presença do Henfil em tempos assim, faria diferença.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Certamente o inconformismo do Henfil falaria mais alto: seu poder de comunicação estaria mais presente em favor da democracia. Novos tempos, novas dificuldades e por outo lado, mais facilidade por conta das redes sociais. As lutas contra a sanha fascista seria um de seus grande motes!

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Ainda é possível transformar o país, é claro, os desafios estão todos aí. Como um dos fundadores do PT, pelas transformações sociais seu empenho e desafios passaram a ser maiores. Ficou muito marcada a imagem da Graúna (personagem feminina do Henfil) olhando para a frente e exclamando “Tô vendo uma esperança”. Outras criações suas também acabaram por se tansformar em ícones: como a imagem do senador Teotônio Vilela, seu aliado importante nas batalhas políticas. Considerações finais. Tenho um agradecimento eterno ao Henfil, pelo fato dele ter sido meu grande inspirador e estopim para minha carreira de cartunista. Tive a honra de compartilhar alguns momentos pessoais com ele, ser seu vizinho de página no jornal Última Hora (edição de São Paulo), ser parceiro nas páginas do Folhetim (Folha de S. Paulo) e na Imprensa Sindical, através da Oboré Editorial. Em 1981, por conta do lançamento do livro “Macambúzios e Sorumbáticos” do cartunista Luis Gê, tivemos um encontro muito agradável no bar Espazio Pirandelo, de bom papo e de muitas histórias. O Henfil (com seu gênio indomável), nos faz muita falta.

(*) CONTATO COM FAUSTO

faube@uol.com.br https://www.facebook.com/fausto.bergocce

Fausto Bergocce é natural de Reginópolis (SP), da safra de 1952. Iniciou sua carreira de cartunista em 1974 no jornal Guaru-News (depois Folha Metropolitana e Metro-News), como caricaturista e ilustrador. Em 1976, foi atuar na imprensa de São Paulo nos jornais Última Hora, Folha de S. Paulo, O São Paulo (jornal da Cúria Metropolitana), Diário Popular, Diário de S.Paulo, Imprensa Sindical (em especial na Oboré Editorial, onde produziu o Gibi do trabalhador com a Laerte), entre outros. No ano 2000, produziu para a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, o painel de 200 anos do Jardim da Luz. Premio HQ Mix como melhor livro de caricaturas pela edição do “Sem Perder a Linha”. Na TV Cultura, produziu charges animadas para os programas Vídeo Esporte e Jornal 60 Minutos. Como cartunista free lancer mantém atuação em palestras, exposições, publicações nas redes sociais e outros projetos. Fausto é autor de 14 livros.

https://www.editoracriativo.com.br/produtos/exibir/187/fausto-bergocce-sketchbook-custom#.YbzJNpLP3IU

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AQC ENTREVISTA: NEY MORAES (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Em casa, com meus pais. Líamos o Pasquim desde os anos sessenta e o Henfil era dos meus desenhistas favoritos, com um humor extremamente crítico. Eu adorava o Fradim e a turma da caatinga (Zeferino, Graúna e Bode Orellana) e Ubaldo, o paranóico. Lia as cartas para a mãe, numa revista semanal (acho que era na Isto é…).

2. Qual foi o impacto inicial?

Henfil foi parte da minha formação política no final da infância e adolescência. Oferecia generosamente um olhar crítico sobre o cotidiano da ditadura e do processo de luta pela redemocratização do Brasil.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Os três aspectos se integravam com perfeição. Um traço leve, ligeiro, um humor ácido e tiradas geniais se combinavam na crônica diária.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

A arte do Henfil contribuiu diretamente na minha crítica política, no jeito como vejo a realidade brasileira e como atuo sobre as questões sociais. Como minha profissão é centrada na organização comunitária e na mobilização, a influência é direta e muito importante.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Desde os anos sessenta, o movimento sindical de luta organizava jornais como instrumento de mobilização e formação política de suas bases. Nesses jornais, as charges do Henfil eram frequentes, pois a linguagem, o desenho e o humor eram muito fáceis de ler e compreender, sendo uma arma estratégica de comunicação rápida e eficiente. No início dos anos oitenta, Henfil era unanimidade (ou quase isso) tendo uma parte da sua produção virado uma peça de teatro, Revista do Henfil, que correu o país com muito sucesso. Muito dessa produção foi utilizada nos materiais educativos e militantes do PT e de outras organizações, como os centros de formação do movimento sindical. Nessa época, as páginas de humor do Henfil nas revistas semanais eram assunto das conversas entre amigos, sempre chamando atenção para a crônica política e social.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Lembro de ler algumas entrevistas e das conversas de bar com amigos, depois, comentando. Não lembro de alguma que tenha sido irrelevante. Todas traziam temas e abordagens comprometidas com a construção de outro país, em tempos de sonho e luta. E sempre muito contemporâneas.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Nos tempos sombrios que vivemos, relembrar as falas de um personagem da resistência à ditadura que expressam a luta e as pautas visceralmente conectadas ao movimento, aos direitos humanos, às causas sociais, é um modo de prestar nossas homenagens a quem luta e lutou assim como serve para manter viva a esperança que vemos em “uma luz no fim do túnel”, como dizia a cena final da peça Revista do Henfil. É a oportunidade de relembrar e de apresentar as novas gerações um pouco mais dos tempos de vida, sonho e luta.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Não lembro da TV Homem, mas “Tanga” é uma paródia genial, muito adequada para tempos de Fake News.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Henfil é uma daquelas pessoas que não devem ser esquecidas e que se mantêm vivas inspirando a gente. Impossível imaginar o que teria sido a produção dele nos governos Collor, Itamar, FHC, Lula… E hoje, com essa criatura abjeta. Vivemos, depois de sua morte prematura, um processo em que o humor político perdeu muito de sua graça e leveza; muitos humoristas penderam para o conservadorismo. O tipo de humor de artistas como Henfil, Quino, Angeli, Glauco, Bira entre outros é imprescindível para iluminar a crítica social e política.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil e ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

A imensa produção de Henfil precisa ser reeditada e esse livro das entrevistas, organizado pelo Gonçalo Júnior e um importante passo nessa direção.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

O advento das redes sociais alterou a maneira como as pessoas acham que atuam socialmente. Há uma percepção de que clicar “joinha” ou um “vomitinho” é suficiente; os partidos profissionalizaram a política, abrindo mão da atividade dos militantes; a pandemia nos impôs um isolamento e a saída das ruas. Tudo isso afeta a maneira como “reagimos” à situação deplorável em que nossa sociedade está vivendo hoje.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Henfil teria criado dezenas de personagens e estaria produzindo intensamente, gritando aos quatro ventos a revolta e mobilizando os artistas para a disputa ideológica.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Só o humor crítico social e políticamente comprometido com uma sociedade justa e igualitária possui o caráter antiautoritário necessário para manter acesa a esperança e o desejo de mudança. É assim que transmitimos às futuras gerações a certeza de que dá pra fazer diferente e que lutar por isso é o nosso legado. Sonhos não envelhecem.

(*) CONTATO COM NEY MORAES

https://www.facebook.com/neymf

Historiador e educador social, Ney Moraes é filho de uma família de intelectuais de esquerda, cresceu entre os livros e quadrinhos de seus pais. Foi dono do Clube Campineiro de Leitores, onde esses quadrinhos circulavam entre amigas e amigos apreciadores da leitura. Seu mestrado tem um capítulo dedicado à HQ, por influência dessa tradição familiar.