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AQC ENTREVISTA: MILTON GURGEL (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente. https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil? Lembra da ocasião (onde, quem apresentou e qual era a revista ou jornal)?

Lendo o Pasquim.

2. Do que você mais lembra de ver no jornal?

Lembro do Bode Francisco Orelana, de quando ele foi morar em Natal (RN). E quando ele dizia “O Rio tem uma Ipanema. São Paulo tem 200.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Os escritos, no visual sou meio retardo.

4. O trabalho do Henfil teve influência direta em você? De que forma?

Na PUC, no movimento estudantil… HENFIL era comentado em prosa e verso.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na esquerda? E entre seus amigos? Quais eram os comentários das pessoas?

Os trabalhos do Henfil eram elogiados, de forma quase unânime. Só teve uma vez que ele criticou o Caetano, por conta do movimento Odara… deu um tereré! Mas passou logo…

A música Odara (gravada no disco Bicho de 1977) foi um dos maiores sucessos de Caetano após sua passagem pela Nigéria. Parte da militância de esquerda na época não gostou da mensagem, pois a luta contra a ditadura estava no auge. De acordo com Caetano em seu site: “Nova polêmica se instaura. O termo odara acabara se tornando sinônimo de hippie, ou, para a ala dos esquerdistas, alienado; os odaras, por sua vez, responderão aos que lhe cobram posicionamentos políticos explícitos, chamando-os de patrulheiros ideológicos. Uma atualização da divisão entre os tropicalistas e os engajados da MPB, dez anos depois do movimento.” Já em 1978, Henfil reaqueceu as vendas do semanário ao abrir polêmica com os baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil e Glauber Rocha, aos quais acusava de “alienados” por externarem simpatias, em maior ou menor grau, com a abertura “lenta, gradual e segura” do general Geisel. Na contenda, Henfil cunhou a expressão “patrulha odara” como contraponto às “patrulhas ideológicas”, expressão usada pelo cineasta Cacá Diegues para definir o que ele considerava equívocos de esquerda patrocinados pelo sectarismo ideológico. Os patrulheiros odaras exigiam criações apolíticas e atitudes escapistas.

A palavra Odara vem do dialeto yourubá e quer dizer ‘estar bem, relaxado, tranquilo’.

6. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

INFINITA enquanto dure.

7.Como era a situação do tempo do Pasquim comparada com a de hoje?

No tempo do Henfil não tinha essa direitosa, as pessoas tinham vergonha de ser assim.

8. E a pressão da Ditadura?

O cineasta Glauber Rocha sofreu muito. Henfil também iria sofrer demais.

9. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tanto ataque deste atual governo. O Brasil tem saída além do aeroporto?

A História é circular, dizem alguns autores. Ver ai: Chile, Argentina, México, tudo voltando para esquerda. O difícil, mas muito difícil mesmo, é mudar a estrutura do capital.

10. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Sofrendo muito. Ele era hemofílico.

11. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas.

A produção de um artista representa o espírito de uma época. Nos anos 70, 80 tínhamos esperança. Hoje tenho certeza, o Brasil não tem amanhã.

MILTON GURGEL

Foi militante do movimento estudantil durante a ditadura. É advogado.

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