Esta série de entrevistas foi uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Junior. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir, recebeu mais de 230 apoios e ultrapassou a meta para publicação em 44%, comprovando que as ideias do cartunista Henfil propagadas em suas entrevistas continuam sendo atuais e esclarecedoras. A AQC se sente orgulhosa de ter apoiado uma iniciativa tão incrível e necessária.https://www.catarse.me/henfil Você pode ter mais informações sobre como adquirir o livro através do site https://editoranoir.com/ ou da página do Facebook: https://www.facebook.com/editoranoir/
1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?
Conheci por volta dos meus oito ou nove anos, em 1988 ou 89. Meu pai tinha uma namorada viciada em quadrinhos políticos e tinha uma coleção seleta. Foi quando conheci Quino, Laerte, Angeli e o resto todo da turma.
2. Qual foi o impacto inicial?
Eu achei o traço muito interessante e mesmo não entendendo tanto o contexto, por causa da idade, eu achava divertido. Um bode, dois frades e um bicho preto, que eu não fazia ideia do que fosse. Hoje sei se tratar da Graúna, rs.
3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?
Chamou atenção o traço rápido e sem rascunho.
4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?
Henfil é influência direta de nove entre dez cartunistas. Quem não teve influência dele não entendeu nada. O Henfil sabia usar o humor pra desnudar a hipocrisia de uma parte da sociedade, dos militares/políticos e dos milionários/empresários. A charge bem feita tem a característica de provocar e incomodar, tanto que muitos sofreram perseguições brabas.
5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda? E entre seus amigos? Quais eram os comentários das pessoas?
Infelizmente minha ignorância me impede de tecer comentários acerca do impacto dos quadrinhos na imprensa sindical. Na esquerda, eu suponho que tenha sido um dos fatores de aglutinação de ideias. As vezes, o poder de síntese de uma charge consegue representar o pensamento de muitas pessoas e serve como ferramenta pra fortalecer argumentos dentro de uma disputa narrativa. Meus amigos são fãs de Henfil, assim como eu.
6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa? Teve alguma que lhe marcou? Porquê?
Já vi alguns trechos, mas confesso não ter nenhuma que eu possa citar.
7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?
Acho uma ótima oportunidade pra pessoas como eu conhecerem melhor a palavra falada desse cartunista genial. Acho que o impacto será grande, já que vivemos momentos similares aos da época da ditadura de 64.
8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?
Eu vou pesquisar essas produções pra TV, pois desconheço.
9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?
O tamanho da necessidade que estamos tendo nesse momento crucial da nossa história. Pessoas como ele são fundamentais na provocação dos debates.
10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele (apesar do enorme esforço do Instituto Henfil, criado pelo filho Ivan Cosenza) ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?
Certamente o livro irá ajudar. Me comprometo a divulgar nas minhas redes, inclusive. Vou perturbar alguns amigos cartunistas pra divulgarem também.
11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Você, bem como Aroeira, Laerte e mais cartunistas tem sido ameaçado por defensores do governo federal. Pode fazer um paralelo entre essas ameaças e a censura nos tempos da ditadura?
Existem muitas semelhanças, como o autoritarismo e a doutrinação das pessoas por parte do governo. Mas, hoje em dia, temos uma diferença importante -ao meu ver- que é a internet. Na rede podemos nos organizar em pouco tempo pra revidar e expor ataques.
12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?
Estaria reagindo como um cidadão indignado e certamente sua caneta estaria desenhando críticas ácidas e bem humoradas, dentro do possível.
13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso de que jeito?
Acredito que a maioria da população entendeu o perigo que esse tipo de governo representa. Não à toa, temos muitos líderes de extrema direita caindo. O Lula tá liderando com folga as pesquisas por aqui e tem tudo pra levar essa no primeiro turno. Espero que a partir daí, tenhamos um caminho de reconstrução e fortalecimento da nossas instituições. Sou otimista e acredito que o Brasil vai voltar a ser feliz.
QUEM É NANDO MOTTA
Músico, ator e ilustrador, Nando é um carioca que vive de arte desde 1997. Como cantor, compositor e instrumentista, passou por algumas bandas, fez shows em Portugal e Paris, gravou dois discos autorais e passou pelo The Voice Brasil 2013. No teatro, participou da montagem de ‘O Homem de la Mancha’, com direção de Miguel Falabella e outras grandes produções musicais como ‘Rio Mais Brasil’ e ‘70? Doc Musical’. Como ilustrador, desenhou diversos livros didáticos, institucionais, storyboards e concept art de algumas campanhas publicitárias. Mas foi a partir de 2018 que Nando começou de fato na carreira de chargista, tendo seus primeiros trabalhos publicados no portal Brasil 247 – o maior portal jornalístico progressista na internet brasileira – e a partir daí sua produção começou a ganhar repercussão nacional. Recentemente teve um de seus trabalhos mencionados numa matéria do NYTIMES, acerca do episódio sobre a perseguição política aos chargistas e também concedeu uma entrevista para a Rolling Stone Brasil, ao lado da consagrada chargista Laerte. A produção diária e ininterrupta de Nando chama atenção pelo traço e pelas mensagens contidas, que fazem com que seus números nas redes sociais cresçam de maneira exponencial. Como chargista é colaborador do site Brasil 247. Está sendo processsado por Luciano Hang, conhecido como ‘Véio da Havan’, por causa de uma charge publicada no site. Isto gerou mais uma ‘charge continuada’ (aos moldes de Aroeira ameaçado pelo ministro da justiça com a Lei de Segurança Nacional) pelos solidários cartunistas da Revista Pirralha, que saíram em sua defesa. https://revistapirralha.com.br/
Portfólio de charges:
https://www.brasil247.com/authors/nando-motta
Contatos
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