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AQC ENTREVISTA: BETANIA DANTAS SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu Henfil?

Conheci os trabalhos de Henfil ainda pequena quando vi a efervescência dos movimentos em São Paulo pois meus irmãos viviam tudo isso. Aos 15 anos li Henfil na China antes da coca-cola e Diário de um Cucaracha, Cartas da mãe publicada pela Istoé, Hiroshima, Meu humor e os seus cartuns. Fiz murais com a Graúna e morria de rir com o analfabeto bode orellana que tudo sabia das notícias depois de comer o jornal.

2. O que mais te impressionou?

Fiquei impressionada com a crítica de Henfil sem nunca perder a ternura. Seu desenho era quase uma caligrafia. Queria entender Graúna: era ingênua ou lutadora? Ou as duas coisas? Era feminista. Que raiva de Zeferino, representante de tantos homens machistas! Mas é o antagonista que precisa existir nas criações artísticas e literárias até que o povo brasileiro repudie de uma vez por todas qualquer atitude opressora. Sobre o texto no jornal Henfil era amoroso e de repente queria explodir, aí vinha o humor. Uma mescla de revolta, denúncia e acalanto. Sentia uma amorosidade do texto Miguilim de Guimarães Rosa. É um amorosidade mineira que só quem os conhece sabe da fala ritmada.

3. O que chamou mais atenção?

Tudo chamava a atenção: humor escrito, gags visuais e traço. Eram três recursos que se apoiavam, tudo estava no lugar certo, o texto se mesclava as gags e ao traço. Era a palavra certa que batida na cabeça do Zeferino gerava gag com a linha toda estremecida e a fala. Unidade era a palavra certa.

4. Em que ele te influenciou?

As ideias políticas de empoderamento vêm dele. Era o sindicato, as pastorais e Henfil que conseguiam falar de perto, com muita facilidade. Com Cartas da mãe ele mostrou como é possível falar de coisas complexas em uma conversa simples. Graúna influenciou o nascimento de muitos personagens, ela era a primeira que eu desenhava em aula com a sua linda frase: tô vendo uma esperança! Contava sobre cada personagem, isso dá uma potência de criação aos alunos. Fazíamos personagens que nasciam de números, letras, escritas… traçava o perfil de cada um. Inspirar-se em seus personagens para criar outros. Sinto por não conseguirmos dividir a memória daquele momento, foi tudo muito lindo e forte, mas a atual geração não viveu e isso tem um impacto. Com toda a falta de materiais multiplicava o que tinha. Foi só ele que trouxe com leveza a beleza das pinturas chinesas sem moldura e como mudaram para sempre o seu modo de fazer quadrinhos xingando a maldita tradição norte americana das grades. Foi por Henfil que descobri o branco na arte chinesa e em seu trabalho.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical?

O trabalho de Henfil ajudou no fortalecimento da comunicação da imprensa sindical, enfrentando o regime militar e esperançando a liberdade de nosso país. Essa linguagem rápida, bem-feita e muito próxima do leitor não é fácil de ser encontrada. Pensar em uma arte que inclua todos é de uma amorosidade de que fala Paulo Freire e isso Henfil tinha. Ele revoluciona ao ter imagens que pedem um leitor mais participante ao criar os espaços não determinados por linha de chão. Conversar sobre as produções de Henfil entre os amigos e as amigas era sempre uma festa. Seus leitores tinham os credos mais diversos. A minha família ia para as manifestações com cartazes de seus personagens. Sua linha impactou as artes gráficas assim como foi Vkhutemas para o mundo.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Li e assisti algumas entrevistas. Ouvi-lo era sempre um aprendizado porque há ensinamentos, ele não tinha uma fala repetitiva, havia uma construção que você não sabia o que viria e isso é novo, havia criatividade até em sua fala. Mas o que me marcou foi a sua entrevista sobre como se faz humor político.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro?

O Henfil era muito inteligente, aprendíamos novos conhecimentos em cada entrevista pois ele falava tão claramente que alfabetizava qualquer um sobre, por exemplo, a estrutura da comunicação no Brasil. A publicação da editora Noir sobre suas entrevistas é memorial. O Henfil fazia sínteses precisas. Eu realizei uma pesquisa sobre o desenho de humor na escola e Henfil não poderia faltar em meus estudos. Foi muito bom reler seus livros décadas depois.

8. O que achava de Henfil como profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema?

Um artista múltiplo. Subia naquela escadinha… era irreverente.

9. Qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Henfil é insubstituível, se fosse verdade que as pessoas são substituíveis, ora, não estaríamos nesta ausência de mentes criativas e protagonistas. Ele morreu como muitos quadros que tanto faltam ao Brasil. Morreu com uma cidade de luta e politização, das pastorais, dos sindicatos organizados e combativos, na crença na alfabetização política dos trabalhadores, todas essas ausências é o tamanho de sua falta.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele ainda é pouco compartilhado nas redes. O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Todos os esforços de publicação são importantes como a do Gonçalo Jr. Eu não quero entender essa lógica das redes sociais e não uso, mas acho que os trabalhadores que vivem do trabalho, jovens ou mais velhos, estão se deixando levar pelos algoritmos. Em 2006 as escolas públicas receberam livros de qualidade inclusive os de Henfil, fazer chegar esses livros é revolucionar. A Graúna e sua turma precisam estar nos livros didáticos (acho que deve sempre aparecer no livro de História), no Enem, nos concursos, na TV. Henfil é cultura brasileira.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda?

São Paulo teve um movimento lindo que eu conheci pequeninha, ao chegar do Rio, e eu tenho saudade, uma parte dos que se foram levaram a práxis com eles. Fui leitora de Paulo Freire com 15 anos de idade graças a minha professora de Sociologia dos anos 80, vi o movimento operário de perto, estive nos sindicatos desde pequena, com 10 anos de idade nas greves meus irmãos me jogavam debaixo dos carros pra não aspirar bomba de gás lacrimogênio, vi partido orgânico se constituir, o movimento era de classe trabalhadora, essa organicidade se esvaiu. O que ocorreu? A pasteurização? Os discursos repetidos e desapaixonados? O desencantamento? A falta de identificação? Pode ser tudo isso. O povo era guiado pelas pastorais, eram experiências fortes, esperança transformadora e agora?

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

A essa sanha fascista Henfil faria a diferença. O Brasil ficou muito estranho desde 2013. A direita se planejou com todos os seus golpes e a esquerda estava dividida. Essa divisão deu espaço para a articulação de grupos que ganhariam com as privatizações e o desmantelamento da previdência, a retirada das políticas públicas. Henfil veria isso com muita clareza. Acredito que ele faria as críticas “doa a quem doer” e tentaria repensar o que a realidade está nos impondo no séc. XXI. Continuaria com a sua máxima e sem conchavos: “O verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime”.

13. Henfil se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Em minhas considerações não finais penso que a via política parlamentar é cruel: por um lado uma parte da esquerda se esfacela para garantir que parte das famílias trabalhadoras saiam da fome, tenham formação para que isso gere emprego. Mas o espaço político-partidário é cruel, a lumpemburguesia e seus representantes canalhas perseguem, armam mentiras. O humor é a capacidade de rirmos de nós mesmos e corrigirmos o que não é humano. A radicalidade que Henfil acreditava foi muito desestruturada com adequações ao governo burguês. As instituições brasileiras são raposas velhas e engendram suas articulações de manutenção do poder. A esquerda precisa reelaborar o projeto de acolhimento humanitário. A burguesia é a sombra do nosso país e ela não dorme, vai em Davos e planeja a sua revida na base da morte daqueles que vivem do trabalho, a classe dominante tem auxílio da CIA, é uma classe que não se importa com a fome de seu país. Atualmente se desconhece CLT, regras trabalhistas, sindicatos e ações coletivas. Só quando os desempregados brasileiros tiverem que lutar para a sua melhoria é que lutarão quando retirarem esses direitos, estarão de pé para lutar contra a perda de direitos. Tudo precisa ser mais trabalhado, cada pessoa beneficiada precisa saber o caminho que levou uma política pública para chegar até ela. Precisamos do horizontal sem líderes como falava Henfil. No séc. XXI acompanhamos os pequenos movimentos, sozinhos, faltando muita gente e acho que não temos mais os movimentos orgânicos do séc. XX porque eram construídos pela classe trabalhadora, pelas pastorais e por partido que nascia desse movimento. Então nesse contexto atual temos a desindustrialização, o surgimento da lumpemburguesia (“empresários” sem empresa) que vivem de investimento (tiram sua rentabilidade de nossa aposentadoria), se aliam a juízes corruptos treinados na CIA para retirar o bem social e aplicar a verba em rentabilidade.

CONTATO COM BETANIA DANTAS

betaniadantas@hotmail.com

Betania Dantas é professora e escreveu sobre arte, educação, liberdade, história e memória. Há algumas décadas participa de ações coletivas e libertárias que apoiem os movimentos de libertação dos trabalhadores e dos povos.

https://www.unifesp.br/campus/gua/docentes-educacao/369-betania-libanio-dantas-de-araujo

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AQC ENTREVISTA: ÉTON (*) SOBRE HENFIL

Esta série de entrevistas é uma iniciativa da AQC em apoio ao livro “Sick da Vida”, coletânea de entrevistas do cartunista Henfil organizadas pelo quadrinhista, jornalista, escritor e biógrafo Gonçalo Silva Jr. O livro foi lançado na plataforma Catarse pela Editora Noir. Por isso, pedimos que você apoie, compartilhe e comente.

https://www.catarse.me/henfil

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci Henfil pela imprensa alternativa: Pasquim e Jornal Movimento. Eu fazia parte da JOC (Juventude Operária Católica). Além de Henfil, conheci Millôr Fernandes e outros comentaristas políticos que eram lidos por nossa turma no bairro. A Folha de São Paulo tinha um encarte no final de semana com cartuns de Laerte, Jota, Angeli e Glauco. Pois foi na grande imprensa que descobrimos o valor da imprensa alternativa, que falava a nossa voz e tinha um ponto de vista menos tendencioso ou censurado. Começamos a selecionar e analisar quais seriam estas publicações e passamos também a acompanhar as músicas com o maior apelo popular e engajamento com os anseios do povo. Dentre os cantores figuravam: Raul Seixas, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Betânia, João do Vale, Elis Regina, Milton Nascimento, o nosso “Clube da Esquina”. Nós éramos jovens da classe operária, de movimentos de base, do mundo do trabalho, militantes da JEC (estudantil), JOC (operária), JUC (universitária), pastorais, alguns movimentos sociais e estudantis. Neste horizonte é que conhecemos Henfil e seus personagens. Além da Graúna, Rango, Mafalda, Bob Cuspe. Para aquisição de discos e folhetins alternativos deste tipo, o nosso coletivo se cotizava. A gente fazia a famosa vaquinha. De posse destas HQs e jornais alternativos toca passar de mão em mão estas leituras, pra todo mundo discutir e comentar as últimas publicações. Era o assunto principal de pauta das nossas reuniões de “revisão de vida”, movidas pelo tripé: ver, julgar e agir.

2. Foi assim que os Quadrinhos politizados foram parar nas suas mãos?

Sim! Foi aí que pus as mãos nos gibizinhos: Fradins, Rango, Mafalda e outros. Como eu compunha o grupo de formação, tinha acesso a outros periódicos (até estrangeiros). Na medida do possível, a gente reproduzia dúzias de cópias de livros em mimeógrafos pra ampliar e agilizar a leitura no grupo, como o Pequeno Príncipe Príncipe, por exemplo. Só não reproduzimos “Guerra e Paz” de Tolstoi, nem “Casa grande e senzala”, mas a gente elaborava esboços. Nós tínhamos nossa logística: mimeógrafos a álcool, cópias sofisticadas em papel stencil e imprimíamos até em offset folhetos com cantos para a igreja, apostilas de formação para catequese. Assim que o adolescente terminava a catequese entrava em um grupo mais reflexivo, depois para a JOC e pra JEC era um pulo. Acima disso estavam as Pastorais e a Ação Operária. Já os grupos mais politizados eram uma opção de cada um.

E antes, como foram seus primeiros contatos com os gibis? Como começou a desenhar?

Quando criança tinha hábitos de todo garoto: soltar pipa, colecionar figurinhas, jogar bolinhas de gude e ler gibis infantis, como Tio Patinhas. Quando adolescente conheci os ‘catecismos’ em Quadrinhos do Carlos Zéfiro. E trocava até meu estilingue para adquirir gibi do Batman, Superhomem, Tio Patinhas. Na escola eu desenhava em todos os cadernos e nos livros. Criei alguns heróis que foram até copiados pela Marvel: o Super Zum (virou o tal do Flash super rápido) e o Homem-Borracha (virou o tal Mr. Fantástico, chefe do Quarteto Fantástico). O problema de ser pobre foi sempre esse, o de não poder registrar o que você faz. Aí vem o estrangeiro copia o que você fez e nem você pode mais desenhar seu personagem. Isso acontece até hoje, com a extração e utilização de plantas legítimas do Amazonas, até com nossa borracha e o café brasileiro.

3. E como essa formação militante se aplicava na macro-política?

Muitos militantes mais tarde participaram em 1983 da formação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Conclat (Coordenação Nacional da Classe Trabalhadora que depois mudou de nome para CGT), da Força Sindical e até de quadros de direção do PT, PCdoB e outros partidos de esquerda. Mas, nesta altura eu era só a liderança de um dos grupos de jovens do bairro que integrava a JEC e JOC. Estas publicações, que citei antes, passaram a compor a nossa pauta de informação e formação. Nesta época cheguei a entrar em contato com o Henfil, expus a opinião do nosso grupo sobre seu trabalho e a importância dos problemas abordados por seus personagens, conhecidos e queridos por todos no nosso meio.

4. E a repressão?

Nessa época atravessavamos uma “caça às bruxas” semelhante à que se fazia nos EUA, com o Macarthismo. Sabíamos das prisões efetuadas por lá, em todas as áreas, até nos Estúdios da Disney. Consecutivamente, isso nos proporcionou muita raiva e ódio dos personagens da Disney e grande decepção pessoal, porque eu começava a endeusar o “papai Walt Disney”. Uma ilusão. Toda essa farsa caiu depois das mentirosas acusações de comunismo a algumas pessoas de lá. Eu fazia um programa da Pastoral Operária na rádio da Diocese Católica de São Paulo, quando a Rádio foi invadida pela polícia e ocorreu minha prisão. Tanto a rádio quanto o jornal São Paulo não puderam publicar notícias de meu sequestro, prisão e tortura. Eram censurados pela ditadura militar, obrigados a substituir muitos artigos por receitas de bolo e poesias.

5. E foi aí que você escreveu pra revista do Fradim?

Sim, e a situação que descrevi de perseguição explica porque enviei a carta e pedi que fosse anônima. Por isso na revista do Fradim ele mudou meu nome, pra que eu não fosse investigado pelos órgãos de segurança e repressão. Nessa época comecei a assinar minhas charges com vários pseudônimos: Deda, Éton, Magnólia e outros. Contei que, além de operário, era chargista com publicação na Pastoral Operária e na Frente Nacional do Trabalho (FNT); que fazia apostilas, cadernos e cartilhas de formação para os sindicatos, movimentos de base, etc. Esta história tá contada em detalhes nas entrevistas que dei pro site Bigorna. Aqui: https://www.bigorna.net/index.php?secao=birazine&id=1172028015 E aqui: https://www.bigorna.net/index.php?secao=birazine&id=1242011127

Segue a íntegra da carta anônima ao Henfil:

Henfil, faço aniversario amanhã. Gostaria de poder criticar seu trabalho, no sentido de troca de ideia. Mas talvez não seja possível, trabalho na fábrica, estudo no Senai à noite e faço desenho pra um jornalzinho da FNT. Sobra pouco tempo. A ideia de te escrever veio porque, sei lá, eu senti que você penetrou aqui no meio da roda e tá presente no papo, tá se arriscando pela gente da fábrica e, no fim de tudo, me desanimo ao ver o povo falando em Elvis Presley, um filho da p. que não contribuiu em nada para com o interesse de todo esse pessoal aqui do bairro, que tá chorando por ele, pra essa moçada toda da fábrica. Pô, caceta, você taí já há um tempo se f… pelo interesse dum bem estar da gente, teve aí doente, ninguém no rádio, na tevê falou nada, não acompanhou, não chorou e mesmo assim tava aí gritando contra e a favor dos nossos dramas. E… Então sinto que é necessário apoiar, dizer que à medida que o operário deixar de ser boi na boiada, ele estará dando apoio a quem tá se solidarizando com a luta da gente. Vendo a diferença entre Chico e Elvis. Graúna, Fradins e Tio Patinhas. Queria mencionar o quanto achei bom você ter num Fradim aí mostrado a questão da mulher na sociedade. Isso é importante. A ideia sobre ‘sexo’. Uma nova concepção da Mulher, da moral sexual, vejo importância nesse assunto, pois se torna uma mudança parcial, se mudar um sistema de vida e se manter uma visão burguesa, em termo de sexo e da mulher. É bem fácil a gene conduzir uma coisa e esquecer da outra, marginalizando a mulher. Ela que na luta por uma mudança de situação, às vezes dá mais de si do que a gente. E acho muito interessante de muita gente não sentir essa ‘coisa’. Gostei de ver a resposta que você deu a um leitor que perguntou sobre o desenho. E você incentivou a criatividade, fugir das regras e coisas como “na escola de desenho se aprende somente a mexer com tinta e misturar cores”, a coisa mais importante tá dentro do cara. Mais uma vez feicito você pela luta que você tá tendo para não afundar, para sobreviver, a gente contribui do lado da gente, na fábrica, no bairro. Conversando com o pessoal que curte ‘rock’ e que tá se f… aí com o salário mínimo. A gente tá passando a revistinha e consultando o que o pessoal acha. Incentivando a compra, a importância do assunto tratado, tudo isso ajuda a clarear a visão da gente. As vezes, uma mesma revista faz um longo percurso, pois a gente às vezes não tem grana pra comprar, aí a gente reveza, um compra um mês, outro compra noutro. E não é como o Estadão e outras revistas que vão parar na privada, o seu Fradim tem sempre uma pessoa que não eu. O assunto nunca é velho e enquanto tivermos um salário de fome, um sindicato atrelado, vamos sempre tentar acompanhar pea imprensa nanica que tenta trazer os fatos até à tona com uma visão mais crítica sobre a atualidade. Espero não ter enrolado tanto a coisa que quis colocar procê. Tamos acompanhando suas histórias que vai ajudar a mudar a história. Incentivar o povo a ver que ele é o fator de mudança, o homem novo vai surgir depois que a gente souber ver, criticar, se definir, recusar e um monte de coisa assim que a gente só vem a descobrir fugindo das falsas mensagens da escola, televisão, que estão a serviço de quem quer desarticular a gente. Vai firme! Levantando a saia dessa turma toda. A gente tá na tua!

RESPOSTA DO HENFIL

Bão. Primeiro, já que você não pode colocar seu nome pra não sofrer represálias na fábrica, vou te dar um nome, Osvaldo, por exemplo. Osvaldo, quando um operário me escreve, tenho que confessar, fico numa emoção imensa. Talvez surpreso de ver operários lendo a revista. E aí vem uma coisa que queria chamar atenção da maioria dos leitores do Fradim, que são, acho, na maioria, estudantes e profissionais liberais. Notaram como tem operários conscientes? Sim, porque a ideia geral é bem paternalista em relação aos nossos operários. Pobres coitados, analfabetos, buchas de canhão e coitadinhos que se nós, a elite intelectual, não os proteger e os defender, serão usados e abusados feito bananas. Eu já tinha observado isto vendo a nova liderança sindical (como o Lula, do sindicato dos metalurgicos de São Bernardo) e principalmente conferindo os resultados das últimas eleições nos distritos operários. Eles sabem o que querem e dispensam a liderança messiânica da vanguarda intelectual. Há um novo operário brasileiro. E anotem: não é à toa que os sindicatos permanecem sob intervenção direta do governo. O governo, mais que nós, já descobriu, antes de nós, o alto grau da consciencia do novo operário brasileiro. Tanto que não estão dispostos a arriscar… Osvaldo, mais que os indices de vendagem da revista, uma carta de apoio como a tua me dá fogo no rabo pra criar mais e melhor. Fico agora mais cheio de cuidados ao saber que têm operários observando o meu trabalho. E numa alegria enorme quando vocês batem palmas para mim. Porque sei que vocês, quando aplaudem, não aplaudem por modismo, por grupo, que vocês não têm dessas sofisticações, não. Aplaudem aprovando. Essa é a maior gratificação que posso ter com meu trabalho: ver vocês me identificando como um dos “seus”. Tento provar em todos os meus desenhos e textos exatamente isto: que me identifico, me solidarizo com os que trabalham. Que sou pelo trabalho contra o capital. Pela tua carta veio o meu reconhecimento como um “dos nossos”. Parece bobagem, frescura, mas faz um bem… Me permitam, tô orgulhoso de mim. E mais não falo pra não quebrar o encanto.

FRADIM nº24 – Julho/1978

7. E a repercussão da carta?

Depois que Henfil respondeu minha carta, não demorou muito, fui preso pelo Doi-Codi. Era o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna. Mais um órgão nefasto do Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964. Fui torturado barbaramente como se fazia por lá, como se eles dissessem: ninguém sai daqui de graça! E prometeram pegar meus amigos. Nunca voltei para a comunidade depois disso. Virou uma rotina de gato e rato, só ia para ambientes com muita gente, nunça dormia no mesmo lugar. Um sufoco! Nesse ínterim a Oboré me convidou pra fazer parte do grupo. Era uma organização de jornais alternativos que publicava materiais de Henfil, Laerte, Paulo Caruso, Angeli, Glauco, Nilson e outros cartunistas. Não me fiz de rogado. Aceitei de pronto. Tinha uma família pra sustentar: mulher e filha. Não achei mais serviço na indústria, ninguém contratava ‘subversivos’ e nem podia. Lá na Oboré, Henfil propôs a cotização entre eles para me pagar um salário mínimo. O Serjão, coordenador do grupo, achou melhor que eu recebesse pelas charges feitas (como os outros cartunistas). Assim, passei a ilustrar inúmeros periódicos juntamente com Henfil é outras figuras famosas, jornalistas do traço, como se diz.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?

Henfil, sem dúvida, era aquele artista de muitas mãos, parecia aquela deusa indiana azul, a Kali, mãe destruidora com dez braços. Lembrava Leonardo da Vinci contratado por reis e príncipes para fazer canhões, paraquedas, rolamentos para esteiras de tanques blindados, asa-delta, submarinos, batiscafos, helicópteros, tantas ideias… muitas nem saíram dos papéis. Se o artista não tiver ideia é só viajar no tempo. No interior do Brasil, da América-latina, da África, do Vietnã têm muitos camponeses com ideias brilhantes. Dizem que Deus deu ao homem sabedoria para se desenvolver e evoluir mas, as vezes, nós criamos nossos grilhões, argumentos que atrasam, represálias ao pensamento, auto-censura na criatividade e invenção. Se o ser humano encontrar terreno fértil, vai evoluir. Quando as mulheres são oprimidas com base em princípios machistas, elas não dirigem, não se emancipam com medo de quebrar as regras. Quando mulheres e negros não votam em si próprios é uma forma de controle de raça e gênero. Assim controlam as maiorias e as minorias.

9. Qual o legado de Henfil na Charge Sindical?

Na imprensa sindical o Henfil deixou seguidores: Laerte, Vargas, Nilson, Bira, eu outros tantos. E deixou caminhos a seguir. Henfil era uma mão na roda pros sindicalistas, colcoava aquela discussão em tiras, em poucos quadros, de fácil compreensão, sempre com uma pintada de humor. Ele traduzia uma ideia sempre com muitos desenhos e poucas palavras, ou com muito humor e poucas confusões de ideias. O uso de fotos e desenhos é o melhor remédio para textos prolixos de jornais sindicais, ou pra todos. O humor de Henfil é impagável, é ideológico sem ser panfletário, embora esteja compromissado com mudanças, é revolucionário sem ser chato. Este é um desafio posto a todos artistas que queiram sair do lugar comum.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Esse livro da Editora Noir e tudo o que se mostra dele ajuda pacas, a homenagem que eu e a Marilia Andrade fizemos (a ilustração que ilustra a entrevista foi estampada no jornal Gazeta de Pinheiros em 1988), essa homenagem na época, valeu para aquela geração: uma lenda e um crédito pra Marilia e a gazeta de Pinheiros. Achei muito bom na época, porque os dois (Chaplin e Henfil) são artistas à frente de sua geração, abriram caminho para os outros irem atrás, acho que de vez em quando, de quando em vez, aparece uma luz no fim do túnel (não é sempre) abrindo passagem como uma lamparina, para os outros irem seguindo atrás. Atrás de Henfil, o nosso lampião, foi muito chargista. Ele deixou um legado, tornou um cangaceiro famoso, um lampião também da caatinga chamada Brasil, onde não há justiça e o cabra precisa agir por diversas vezes fora da lei, para fazer valer a voz dos oprimidos. Assim foi Henfil, a voz de todos que não tinham voz. Engraçado, irreverente e contundente nas críticas ao status quo do regime militarista implantado e sua tirania, é o que eu tenho pra dizer.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda?

Existe na Índia sociedade estamental milenar, uma sociedade de castas. Na sociedade capitalista usam adjetivos como “mérito”, #meritocracia”. São palavras diferentes para culturas idênticas: a de cercear pessoas, Sofremos isso na infância, nas estatais, em todos setores da sociedade humana. Com base nisto, filho e filha de pobre só vai ser operário, esposa comportada. No Colégio Católico ‘de padres’ onde passei a adolescência, fui violentamente reprimido ao demonstrar minhas aptidões para o desenho e a arte. Mesmo assim, se tinha teatro eu tava lá, se tinha História eu é que contava, o cineminha do orfanato que reuniu dezenas de crianças eu que fazia (com caixa de sapatos uma lâmpada dentro e um rolo do dois lápis, uma fita de desenho em papel fino) e projetava na parede. Era praticamente um slide arcaico. No teatrinho, eu fazia o roteiro é ensaiava as crianças para exibição para alunos, padres e freiras. Mesmo assim réguas foram inúmeras vezes quebradas na minha cabeça, por insistir desenhar e preparar estes espetáculos na sala de aula, não podíam admitir a ideia de um orfanato produzir artista, tinha que ser torneiro mecânico ou pedreiro. E eu queria mais. Se o pessoal formava grupos, eu era punido por isso. Isso não acabou. O Brasil continua ‘sick’ da vida.

12. Como é lembrar, falar de Henfil?

Escrever sobre Henfil é SEMPRE bom. O que somos agora, dependeu dele, ele ajudou a forjar a resistência dos nossos movimentos de base. Não acredito em um nonagésimo de milímetro que esta mania de Mangás (que tem a nossa adolescência) contribua de alguma forma pra porra nenhuma. Me apresentem, pelo amor de Deus, um Mangá ou alguma m… da Marvel que esteja engajada com alguma coisa que não seja seus lucros ou país de origem. Eu lembro do Tintim, personagem famoso da Europa, ele era racista, como seu criador Hergé. Já Asterix, o Gaulês (de Goscinny e Uderzo) ainda era uma resistência contra o colonialismo Romano, às vezes romantizando essa relação de escravidão. Como a Carmen Miranda com o samba, carnaval e favela. Tipoa música que cantava ‘Amélia que era mulher de verdade’. Se o povo prefere o Halloween ao Saci-Pererê, Caiporas, Boitatá, Bode Orelana, Graúna… o povo não tem nada. É cultura alienígena enfiada guela abaixo. Lembrar de Henfil é criar raízes, sem elas, caímos com o primeiro pé de vento. Pois ele era artista das nove artes…

1) Arquitetura – Espaço (Henfil arquitetava e diagramava suas páginas, seus cenários, espaços urbanos e sertanejos). 2) Escultura – Forma (ele esculpia seus personagens com a cara do povo que ele via nas ruas, nos trens nos ônibus, nos estádios). 3) Pintura – Cor (mesmo no preto e branco, seus desenhos tinham as cores da vida e da morte). 4) Música – Som (a musicalidade está expressa nas onomatopéias, nos gritos, nas exclamações dos grandes centros e nos silêncios da caatinga, nos choros silenciosos). 5) Dança – Movimento (o que falar de personagens que correm com cobrinhas nos pés, da animação dos personagens, no gestual das mãos e das expressões faciais que falavam tudo). 6) Poesia – Palavra (textos cuidados com esmero do poeta que quer dizer mais do que as palavras, que extrapola o racional, que voa o vôo solitário da negra graúna). 7) Cinema – Elemento formador (não só usou e abusou da telinha e da telona, como desenvolveu o elemento de formação de caráter, de ética e dignidade de lutar pelo povo sonhador). 8)Fotografia – Imagem (cada foto das cartas da mãe, cada foto com seu sorriso largo e olhar doce). 9) Historia em quadrinhos – Cor, palavra, imagem (brincou com cada uma dessas possibilidades, unindo-as de forma esplendorosa). Ficaram de fora, por falta do tempo avançar mais rápido e chegar lá com ele ainda vivo, apenas duas artes: 10) Video Games – Integração dos elementos de outras artes) e 11) Arte digital – Artes gráficas integradas ao computador e programas 2D, 3D).

13. Henfil se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical?

No bairro onde morei, depois da missa no fim de semana, os paroquianos tinha entretenimento garantido.. Eu escrevia roteiros e montava peças teatrais por lá. Fui criando o costume do cidadão pobre querer assistir e discutir com atores o trabalho teatral. Trouxemos outros grupos para apresentação de teatro, como o Grupo União e Olho Vivo. Eles falavam da história do Brasil e cultura popular, com danças folclóricas, capoeira, etc. Isso era sonho sendo realizado. Apesar de toda repressão que sofri, sonhar ainda me era permitido. Lembro de quando Charles Chaplin pode escolher um país pra viver, ao ser expulso dos EUA, escolheu outra nação: a Suíça, pois na Inglaterra (seu país de origem) foi apenas um órfão desamparado. Henfil era um sonhador. E mestre do roteiro, traço, arte cênica. Motivos para desistir tivemos muitos: censura, dificuldade logística, falta de dinheiro, perseguição. O próprio Henfil dizia ter recebido proposta milionária no exterior, mas preferiu trabalhar no Brasil em um arriscado projeto de cultura popular e de resistência popular. Ele foi, antes de tudo, um pioneiro no sentido de abrir caminhos com irreverência e ousadia. Estes são os adjetivos que nos ajudam a conhecer quem foi o artista e ser humano Henfil, quem foi o amigo e companheiro Henfil.

CONTATO COM ÉTON

https://twitter.com/edsondias1953

https://www.facebook.com/dias.edson.315

Éton (Edson Dias) foi cartunista do Jornal da FNT (Federação Nacional do Transporte), da Oboré, fez HQs pra revista Alô Mundo, chargista do Sindicato dos Bancários, Gazeta de Pinheiros, ilustrou com Bira Dantas Cartilha Direitos do Preso para a Pastoral Carcerária e As Tramas da Comunicação, de Regina Festa. Ilustrou como free-lancer para dezenas de Sindicatos, Oposições Sindicais, Centrais de Educação Popular – como Centro Pastoral Vergueiro e Sedes Sapientiae. Foi cartunista do Sindicato dos Condutores e do jornal Hora do Povo.

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AQC ENTREVISTA: NILSON AZEVEDO (*) SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Havia um jornal aqui em Minas que, durante a década de 1960, era mais lido do que o conservador Estado de Minas, chamava-se Diário de Minas. Além da concepção visual moderna, a maior atração do jornal era uma coluna de futebol chamada Dois Toques assinada pelo torcedor do América Márcio Rubens Prado (um cronista do naipe de Rubem Braga e Fernando Sabino) ele era o ‘toque 1’ da coluna. Na parte de baixo da coluna vinha o ‘toque 2’: as charges de futebol do atleticano Henfil (que eu já conhecia da revista Alterosa, versão mineira de O Cruzeiro)… Nela o Roberto Drummond tinha forçado o Henfil a virar chargista e publicar pela primeira vez os dois Fradinhos. Além da charge de futebol, Henfil publicava diariamente mais cinco charges políticas. Os leitores compravam o jornal avidamente para ver o Henfil. Isso era antes do AI-5. O Henfil esculachava a Ditadura, chegando a ilustrar todas as piadas que se contavam sobre a burrice do Costa e Silva ou sobre o pescoço (ou a falta dele) do Castello Branco. Coisas que ficaram impossíveis depois do AI5. Na época (estou falando entre 1965 e 67), o movimento estudantil era muito forte e toda semana tinha passeata com forte repressão da polícia. Embora nunca tenham ferido ou matado alguém, os estudantes jogavam coquetéis Molotov nas viaturas da polícia que revidavam com cassetetes, cavalaria, jatos de água e gás lacrimogêneo.

E o Henfil retratava isso?

Sim, fazendo charges sobre as passeatas, Henfil colocou a população do lado dos estudantes. Eles usavam bodoques (estilingues com bolinhas de gude) contra a polícia. Henfil desenhava aqueles estudantes fraquinhos e serelepes com bodoques e cartazes enfrentando milicos enormes (que ele copiava dos bonecos do Claudius) e a população tomava o partido dos estudantes e, dos prédios, jogava saquinhos de leite ou de água em cima da polícia. Acho que Henfil só conseguiria influir na realidade, dessa maneira, anos depois com os símbolos dos times do Rio.

E isso durou até quando?

Até 1968. Com o AI-5 e a censura prévia isso tudo acabou. Henfil e o jornalista Márcio Rubens levaram a coluna para a edição mineira do JS (Jornal dos Sports), onde finalmente o conheci pessoalmente e por acaso. Eu estudava num colégio estadual e minha colega de sala, Nívia, namorava o Chico Mário, irmão de Henfil w Betinho. Assim, conheci o Chico primeiro. Voltando um ano atrás, em 1967, Ziraldo criou o Cartum JS, suplemento de humor do Jornal dos Sports. O Zira já tinha me publicado no último número do gibi do Pererê, então fui até a redação mandar minhas charges pelo malote aí tive a maior sorte: o editor era o cassado jornalista Euro Arantes do extinto semanário Binômio (*). Ele me adotou e me apresentou a seus antigos colegas (só feras) como Celius, Aulicus, Bley Barbosa e Vander Pirolli. Todos me adotaram. Nessa época eu trabalhava de office boy na Mendes Junior. Um dia entro timidamente na redação e o que vejo? O jornaista Marcio Rubens Prado e perto dele, Henfil desenhando numa mesinha. Quebrei a timidez e me apresentei. Descemos juntos pelo elevador. Henfil estava com uns óculos escuros, parecia o John Cassavetes, ator que fez o thriller O Bebê de Rosemary com Mia Farrow… (*) O provocativo jornal “Binômio: Sombra e Água Fresca” foi criado durante o governo Jusceino Kubistheck pelos jornalistas José Rabelo e Euro Arantes. JK havia lançado o Plano Binômio: Energia e Transporte. “O Binômio da mentira era o de Juscelino. O nosso era o Binômio da verdade”, declarou José Rabelo. O semanário foi publicado entre 1952 e 1964, quando foi fechado pela ditadura militar.

E aí, depois do encontro, do elevador e do óculos escuro tenebroso?

Desse encontro com o Henfil nasceu uma amizade que durou até ele morrer. Nessa coluna no Jornal dos Sports e na revista mensal do Atlético, Henfil criou personagens símbolos dos times mineiros: o Urubu pro Atlético, o Refrigerado pro Cruzeiro e o Gato Pingado pro América. O goleiro Raul bombava no Cruzeiro (nos jogos e fora deles), era a paixão de todas mulheres: lindo, com cabelo loiro e comprido tipo Beatles, não usava preto como todos os goleiros, usava uma camisa amarela. O Cruzeiro estava no auge com Dirceu, Lopes, Piazza, Tostão… e os atleticanos começaram a chamar o Raul de Wanderléa, Refrigerado e outros nomes. Então Henfil pegou um dos nomes desse preconceito (Refrigerado) e batizou o bonequinho do Cruzeiro (meu time), mais tarde se penitenciou disso. Urubu era o nome que os cruzeirenses chamavam torcedor do Atlético. Henfil fez o que sempre fez, pegava uma palavra que era uma ofensa e a revertia… nessa época o bonequinho do Urubu ainda era branco. Devido ao enorme sucesso, o pessoal do Rio chamou o Henfil para fazer a coluna lá e ele levou o Urubu, criou o Bacalhau, o Cri-Cri, recriou o Pó de Arroz e manteve o Gato Pingado para o América. No Rio, o Urubu ficou preto, veio o Caboco Mamador, o Pó de Souza, ele tomou conta da página inteira do Jornal dos Sports e marcou minha vida profundamente, assim como o Amigo da Onça do Péricles (que apesar de todo o sucesso se matou). Nessa época se casou com a Gilda Cosenza, no Rio. A gente de vez em quando se escrevia…

2. Quais eram suas influências no desenho? Qual foi o impacto de ver o desenho do Henfil pela primeira vez?

Minhas maiores influências na época eram Ziraldo, Phil de Lara (pra mim, o melhor desenhista do Pernalonga), Jack Bradbury (desenhista dos estúdios Disney), Carlos Estêvão (pernambucano que morava aqui em BH) e que cheguei a conhecer pessoalmente. Mas o traço e o raciocínio do Henfil eram algo novo, surpreendente, além da consciência aguda ele provocava gargalhadas. Leon Eliachar ganhou um concurso com a seguinte definição: “Humor é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros”. Pois o humor do Henfil era um tapa na cara dos opressores, mas também na nossa consciência adormecida. Que radicalidade! Que cusparada na cara dos ‘cactus brochas’ que éramos nós, os leitores. Nunca conseguíamos prever o rumo da piada, era sempre uma surpresa a nos arrancar gargalhadas. E o traço? O que era aquilo? Ele chamava de desenho caligráfico… não estava preso ao traço europeu nem a esteticismos. Seu desenho era o essencial… era movimento puro, desenho animado sem ser.

3. E a genialidade das frases, das tiradas, das sacadas?

Nem o Amigo da Onça -que era bem popular- conseguiu ser tão genial. Henfil conseguiu mudar o vocabulário dos leitores, que era bem futebolístico, para um vocabulário de luta de classes. Codecri era Comitê de Defesa do Crioléu. E lançou República Popular de Ramos, Ipanema Beach, os torcedores começaram a fazer o que ele desenhava nas charges. Começaram a levar bandeiras enormes, tambores enormes e urubus para o campo. Era a vida imitando a arte. Na copa da Alemanha um torcedor quis mandar um urubu pelo correio. Não deixaram e perdemos a copa. Ele fazia cada coisa… Henfil passou a coluna do Jornal dos Sports pro Nani (cartunista Ernani Lucas) fazer… O Nani tirou férias e eu o substituí. Na redação me apresentam a presidente do JS… e qual era o nome dela? Cacilda… Cacilda!!!! Um dos palavrões que o Henfil usava no Urubu e no Pasquim. Rachei de rir. Quando morava com o Henfil, um dia lhe perguntei por que ele tinha parado com o Urubu e sua turma, ele me disse que ele teve medo da proporção que a coisa tava tomando e que ver o Médici na torcida no Maracanã foi a gota d’água. Vendo hoje a violência das torcidas organizadas penso que ele estava certo.

4. O que fazia a cabeça desses cartunistas, seus contemporâneos?

Antes do Golpe de 64 a charge não era tão importante. Tinha na revista O Cruzeiro um ótimo caricaturista chamado Appe, ele fazia umas charges mornas, quase ‘chapa-brancas’, retratava o senso comum. O que fazia sucesso mesmo eram os cartuns publicados nas revistas O Cruzeiro e Manchete. Ziraldo, Claudius, Fortuna, Jaguar publicavam na revista Senhor e ilustravam os livros do Stanislaw Ponte Preta. Embora todos cantassem ‘loas’ ao grafista Saul Steinberg (cartunista romeno, radicado nos EUA), todos eram influenciados pelo André François, Chacal. O único que parecia ter meesmo influência do Steinberg era o Millôr Fernandes, que reinava absoluto na O Cruzeiro (acho o Millôr melhor do que o Steinberg, que aliás veio primeiro da Romênia pro Brasil, não conseguiu emprego e foi pros Istazunidos onde virou o papa do cartum e artista plástico. Um simples rabisco dele num guardanapo passou a valer milhares de dólares. Por causa dessa raiz européia se fazia muito cartuns com mordomos, armaduras, ópera, orquestras sinfônicas etc e tal. Já o Péricles (criador do Amigo da Onça, o maior sucesso popular da época) tinha influência do Divito e da escola argentina de cartum. Com o golpe, Millôr foi expulso de O Cruzeiro e resolveu fazer a revista Pif-Paf, que durou 8 números. Antes do Millôr as duas páginas na O Cruzeiro eram ilustradas pelo Péricles. Carlos Estêvão também brilhava com o Doutor Macarra (que virou revista junto com o Pererê) e com seus cartuns na O Cruzeiro. Com o golpe, muita coisa mudou. A revista Pif-Paf não tinha mais cartuns com mordomos e armaduras medievais. Era tudo charge pauleira arrasando com os milicos e os Istazunidos. Henfil veio confirmar essa prevalência da Charge (editorial/noticiosa) sobre o Cartum (de costumes). Nas suas charges as críticas não eram específicas (contra esse ou aquele general ou político) eram amplas e gerais, expressavam uma postura de classe, assim como seus desenhos de operários e estudantes… Vendo Henfil vi a necessidade de ter um traço para os quadrinhos e um traço para charges e cartuns. Antes disso, o chargista não se dedicava muito ao tema futebol. Tinha o Otelo n’O Globo, o Otávio em SP, mas o chargista em geral não se ocupava de Futebol. Já o Henfil sempre dedicou tempo igual para a política e para o futebol e, assim, acabou politizando o futebol. Tenho muita coisa dele, agora, um livro que não consegui até hoje foi a biografia precoce do Chacrinha ilustrada pelo Henfil… ele adorava o jeito Chacrinha de comunicar. O Velho Guerreiro foi desprezado pelos intelectuais e com razão… eu não passo pano para o Chacrinha, acho que ele pisou muito na bola mas Henfil admirava sua penetracao no povão. Ele também adorava no rádio o programa do Adelson Alves, por isso foi fazer o Orelhão e, mais tarde, o Urubu no jornal O Dia.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Nesse tempo não tinha imprensa sindical. Essa mordaça durou até a ditadura Geisel. Para controlar os trabalhadores, desde 1964, os sindicatos sofreram intervenções federais e estavam tomados pelos pelegos nomeados pela Ditadura. Sindicato não fazia nada, não servia pra nada. Em 1976 ou 77 fundamos aqui em BH o CET (Centro de Estudos do Trabalho) e começamos a fazer cartilhas em quadrinhos. Era uma ONG que tinha padres, comunistas, positivistas, sociólogos, filósofos professores, quadrinhistas. Entre os cartunistas éramos eu, Lor, Melado, Ricardo, Berzé, Aroeira. Eu fiz a primeira cartilha contando a história do Primeiro de Maio em Quadrinhos, vejam só. Embora nosso trabalho não fosse clandestino nossa sede foi invadida pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social, criado em 1924 para combater ataques de ordem política e social ao Estado) duas vezes. A primeira aconteceu na calada da noite e a segunda foi oficial e prenderam o Aroeira por 24 horas.

Neste tempo várias oposições sindicais foram sendo formadas em todo o Brasil, fruto do movimento operário que os militares tentaram destruir durante a ditadura e começaram a vencer dirigentes pelegos em eleições sindicais que antes eram fajutas ou nem eram realizadas. O Sindicato dos Petroleiros de Paulínia foi criado livre em 1973. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri em 1977. Mesmo ano em que o Sindicato dos Metalúrgicos de S. Bernardo foi reconquistado pelos trabalhadores. O Sindicato dos Bancários SP, em 1979.

Quando cheguei em SP e fui morar com Henfil, Glauco estava lá e atuavam na Oboré. Era uma agência de comunicação e assessoria de imprensa sindical, fundada em 1978, que produzia material gráfico para vários sindicatos do Brasil sob a liderança do Serjão (jornalista Sérgio Gomes) e com Laerte carregando o piano nos desenhos. Laerte e Henfil fizeram uma cartilha sobre contrato coletivo pro Sindicato dos Metalúrgicos de S. Bernardo. A Oboré era transpartidária ou assim acreditávamos. Mas, em 1979, quando Lula resolveu fundar o PT e não entrar pro Partidão (Partido Comunista Brasileiro) como os comunistas esperavam, começamos a ser hostilizados por eles na Folha de SP e Oboré rachou… Laerte e Serjão se revelaram ligados ao Partidão (em 1985, com a criação de CUT e CGT o racha iria se aprofundar). Eu continuei colaborando por um tempo mas o Henfil se afastou logo. Também ele ‘tava fazendo a página da Isto É, Pasquim, Jornal da República e uma coluna num jornal de Brasília chamada Primo Figueiredo. Eu o convenci a voltar a fazer o Fradim e a escrever o livro “Henfil Na China”, além de tudo isso veio o convite pra fazer um progarama na TV Mulher, ou seja, ele não tinha tempo para mais nada…

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

No início, Henfil não dava muitas entrevistas, mas com o sucesso do Fradim, da Graúna e, principalmente, com a questão do Betinho e a Luta pela Anistia, ele passou a ser disputado para dar entrevistas… e eu não perdia uma. Lembro, por exemplo, a da revista Playboy, da Marília Gabriela, do Jô Soares e outras, mas as que me marcaram mesmo foram três: um Jornalzinho universitário publicou umas 20 páginas com depoimentos de várias personalidades inclusive de algumas que ele tinha enterrado no Cemitério do Cabôco Mamadô (como Rachel de Queiroz, Elis Regina e mesmo assim falavam bem dele) impresso em mimeógrafo. Nessa entrevista Henfil fala tudo de uma maneira que não seria possível na grande imprensa. A outra entrevista foi pra turma do Pasquim na véspera dele ir para os Iztazunidos. Bom, ele tinha uma vida espartana, de uma coerência incrível com o que ele pregava, isso motivou atritos com a turma do Pasquim, principalmente os mais burgueses. E nessa entrevista os colegas do Pasquim soltaram toda hostilidade contra o Henfil. Ficou tão pesado que acho que eles nem publicaram ou publicaram só uma parte. Só que não contavam com minha astúcia: um dia fuçando na redação do Pasquim achei duas fitas com a tarja “Entrevista com Henfil”. Pensei: Por que não roubá-las?” Roubei-as. Tirei uma cópia e devolvi as fitas ao mesmo lugar. Anos depois, em São Paulo, Henfil estava editando o Diário de Um Cucaracha com as cartas que ele enviou dos Istazunidos (inclusive com duas para mim) e falou da entrevista perdida e eu disse: “Eu tenho a cópia integral!” E está lá no livro. A terceira entrevista imperdível foi a que ele fez com o Teotônio Vilela pro Pasquim e onde cunhou o “Diretas Já”! Ele era genial! Como na charge com Zéferino, Bode Francisco Orelana e a Graúna e a pergunta “Tá vendo alguma esperança?” “TÔ!” E a esperança é a gente que tá vendo a charge!

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Tudo que puder lembrar gente como Monteiro Lobato, Barão de Itararé, Mark Twain e Henfil é sagrado. E se esse livro vem pela mão do GONCALO JUNIOR melhor ainda. Eu adorei A Guerra dos Gibis, infelizmente não consegui achar os livros que ele escreveu de ilustradores que fizeram parte da minha infância: Alceu Penna (também mineiro) e Benício…

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?

Henfil acordava às cinco da manhã para fazer o quadro ‘TV Homem’ na TV Mulher… e era impressionante pois ele não dormia antes da uma da manhã (só assim com o tanto de coisa que estava fazendo). E foi uma revolução na linguagem da TV e na ousadia dentro do TV Mulher que já era um programa ousado pra época. Mas fiquei chateado por que ele chamou todos os amigos para fazer figuração no programa e nunca me chamou. Henfil só fez duas coisas sem graça na vida: uma foi morrer e a outra foi o filme “Tanga deu no NYT”, ele já ‘tava com Aids, saindo de 6 meses no hospital e, na minha visão, o filme não engrenou. Acho que a única cena que deu certo foi uma do Haroldo Costa de padre falando na igreja. O Maurício Maia (filho do publicitário Carlito Maia) e que praticamente morava lá conosco acompanhou a feitura do filme e me contou que o script todo desenhado era hilariante, puro Henfil. Ele chegou a pensar em passar esse storyboard pra linguagem do cinema.

9. Qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Puxa, a falta que o Henfil me faz como amigo… as longas conversas e provocações mútuas! Uma vez ele veio à BH, eu estava publicando os quadrinhos do Negrim do Pastoreio no jornal Estado de Minas (meu maior sucesso). Nos encontramos e ele ficou quase 2 horas analisando cada página apontando cada falha e cada acerto… foi muito importante para mim. A partir daí tive uma evolução importante no meu traço, ele fez isso de uma maneira tão terna e bem humorada. Foi muito importante para minha autoconfiança. Pra confiar em mim e na profissão que escolhi. Henfil era uma lâmpada na terra. Lembrei do poeta Pablo Neruda que falou de Lautaro, o jovem líder indígena mapuche, que enfrentou os espanhóis de Valdivia no Chile e matou o sanguinário comandante espanhol. De Lautaro disseram: “Aquello que es una lámpara en la tierra”. Henfil, bem como Lautaro, como Lobato, como Darcy Ribeiro, como Paulo Freire, como Chico Buarque foram e são lâmpadas nessa terra. Ele tinha uma percepção, uma intuição que beirava o sobrenatural. Ele achava a clareza dos caminhos, principalmente para nós cartunistas, clareava esses caminhos e partia pra ação…

Ele partia pra ação direta?

Sim, Henfil agia. Num processo de organização grevista conheci Lula e outros sindicalistas como Arnaldo Gonçalves (Metalúrgicos de Santos), o Joaquinzão (pelego do Sindicato dos Metalúrgicos de SP), o Alemão, o Osmarzinho numa reunião sobre a estratégia para a greve. Henfil sugeriu que fizessem greve entrando nas fábricas, ocupando, ficando lá dentro sem mexer uma palha. Ao contrário dos piquetes e enfrentamento com a polícia violenta, que era sempre arriscado. Fizeram isso anos depois e deu muito certo. Greve por dentro! Me lembro da Elis Regina trazendo a renda do show de Primeiro de Maio no Rio e entregando pro Henfil para ele repassar pro Fundo de Greve dos Metalúrgicos. E não era só isso. Me lembro da mulher do Theodomiro, um guerrilheiro que cumpria pena na Bahia, ela estava apavorada. Ao ser preso, atirou acidentalmente num soldado e os seus carcereiros prometeram que eles iam matá-lo antes que recebesse a anistia, que estava para sair. Henfil conversou com ela e lhe deu dinheiro para ajudar na fuga do marido. Isso tudo era muito arriscado, ainda era o general Figueiredo no poder… Ahhh, o Theodomiro escapou, tem até um documentário sobre isso! Um dia fomos ao presídio Carandiru levados pela Ruth Escobar pra assistir uma peça feita pelas presas. Elas eram do grupo de teatro que a Ruth tinha criado lá dentro. Henfil ficou apaixonado com o grupo e principalmente com uma atriz do elenco, linda, enorme, negra. Assistimos tudo atrás das grades, conversamos com elas… ele participava de tudo ativamente.

O que ele faria hoje, aqui no Brasil?

Henfil crescia sob a pressão. Ele dizia ter nascido para ser piloto de provas de fábrica de supositório. Frente a qualquer situação dramática que abateria qualquer um, ele crescia, virava fera… coisa da hemofilia talvez! Acho que estaríamos menos ignorantes sobre o que fazer se ele estivesse aqui nos ajudando a decifrar esse pesadelo. Acho que daria um braço pra saber o que o Henfil diria sobre o que estamos vivendo no Brasi.

10. O livro organizado pelo Gonçalo Jr, com campanha no Catarse pela Editora Noir, pode ajudar a melhorar isso?

Goncalo Junior escreveu o melhor livro sobre quadrinhos e jornalismo do Brasil: A Guerra dos Gibis. Ele me pediu orientações, dicas, seguiu todas e arrasou. Como disse na resposta 7, onde ele bota a mão é excelência na certa. Um dos melhores jornalistas que os Quadrinhos já viram!

O humor sempre teve um lado sarcástico e irônico, muitas vezes politicamente incorreto, mas tem um setor de humoristas que resolveu explorar o preconceito de forma descarada. O que acha disso?

A pior praga que aconteceu no humor brasileiro foram os Cassetas e Picaretas, depois do TV Pirata. Eles fizeram andar pra trás tudo de bom que o Pasquim tinha feito pra avançar no humor brasileiro. Não foi por acaso a ascensão meteórica da gangue que contaminaria até mesmo a linguagem publicitária, culminando nessa farsa cometida com a cumplicidade do Nelson Mota chamada ‘Simonal ninguém sabe o dedo duro que fui’. Ali começou a falsificação da história recente que deu nos Pondés, Lobões, Danilos Gentili, Marcelos Tas, CQCs da vida, surfando na onda politicamente incorreta e finalmente na ignorância autocultivada e falsificação dos fatos feitas pela horda bolsonarista.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Guimarães Rosa dizia que o sapo não pula por boniteza porém por precisão. Precisão no sentido de necessidade. Diz o ditado: “sapo apertado é que pula”. Estamos num situação em que é difícil atacar. Conseguimos, com muito esforço, resistir para estarmos vivos pra quando a maré mudar… talvez haja um dia marcado pra gota d’água acontecer. Como dizia o Millôr: “Estamos cercados não deixem o inimigo escapar.” Darcy Ribeiro estava asilado em Cuba durante o ataque norte-americano à Baía dos Porcos… antes do ataque ele perguntou a uma menina negra franzina com uma arma na mão: “O que você vai poder fazer quando chegarem aqueles marines gigantescos armados até os dentes?” Ela olhou pra ele e respondeu: “Não sei… só sei que o meu, eu esgano!”

12. Como foi quando a emenda ‘Diretas Já’ do deputado Dante Oliveira estava pra ser derrotada no Congresso Nacional?

Diretas Já… tinha uma reunião aqui em BH convocada pelo Ziraldo com todos os cartunistas para apoiarem o Tancredo Neves (via Colégio Eleitoral) pra fazer campanha e tal. Ao chegar no local dou de cara com o Henfil e a Lucinha, sua mulher. E ele puto com o Ziraldo, virou para mim me provocando e perguntou se eu também tinha aderido. Eu disse que não sabia o que estava havendo, mas se ele era contra eu tava com ele. Não fui na reunião. Antes de fazer o filme ‘Tanga’ ele veio aqui em BH e fui encontrarcom ele. Henfil já sabia que estava com Aids mas não me falou nada… Junto com jornalistas do Diário de Minas (o jornal onde ele tinha começado a carreira) fizemos uma de suas últimas entrevistas. Nesta conversa enorme ele diz que o Tancredo era uma libélula e que o PT era a nave mãe de onde sairiam outros partidos mais aguerridos. Sua posição que lhe custou o emprego na Isto É. Foi demitido por um cara que ele tinha ajudado quando exilado. Sua posição era que o povo não devia sair das ruas, devia fazer como o povo português na Revolução dos Cravos: ficar nas ruas até conseguir as Eleições Diretas pra Presidente de República.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Sou fundador e filiado ao PT. Acho que o Henfil nunca se filiou oficialmente. Mas na fundação, estávamos lá com gente como Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Hollanda, Apolônio de Carvalho, Gonzaguinha e tanta gente da melhor estirpe. Anos depois, o discurso que LUla fez logo após sair o resultado das urnas… Lula falou dos três irmãos de sangue (Betinho, Henfil e Chico Mário, os três hemofílicos, os três foram infectados pelo vírus da AIDS em transfusão de sangue) a começar por Henfil…chorei de me acabar, abri o bué… Os vira-casacas tipo Arnaldo Jabor, Nelson Motta, Fernando Gabeira não vão gostar da gente fuçar lembrando do Henfil. Tão logo acabou a Ditadura eles se sentiram livres para aceitar umas sinecuras na Globo ou na Folha e quando Henfil lhes cobrou um mínimo de coerência o Cacá Diegues criou o termo ‘Patrulhas Ideológicas’ para provocar e xingar o Henfil. Imagino o que o Cabôco Mamadô estaria fazendo hoje com os Raimundos Fagner, Elbas Ramalho, Toquinhos, Zezés de Camargo, Marcelos Madureira, com a família Bozo e com os bolsominions… Ia ser uma festa no Cemitério dos Mortos Vivos. Pode ser que hoje eu seja só um velhinho revoltado, mas dentro do meu coração eu repito comigo mesmo: “REVOLUÇÃO CONTINUO TE QUERENDO!”

NILSON AZEVEDO

Membro da Revista Pirralha. Cartunista, chargista e quadrinhista nasceu em 1949 na vizinha cidade de Raul Soares. Em 1967 estreou no Cartum JS. Criou as HQs Negrim e A Caravela (quadrinhos sobre as Grandes Navegações do ponto de vista dos marinheiros). Em sua incansável “guerrilha do traço”, ele publicou charges e cartuns no Pasquim e em alguns dos principais jornais do país, além de ser um dos criadores do Humordaz e companheiro de Henfil na luta contra a Ditadura. Colaborou intensamente em jornais alternativos e com oito colegas formou o “Humordaz” que foi fechado pela censura. Desde 1978 tem se dedicado a educação popular, realizando cartilhas, gibis e audio-visuais. Ganhou em 1989 o concurso de cartum do Salão Carioca de Humor e em 1990 concurso do Piauí.

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AQC ENTREVISTA: ESTER RAQUEL (*) SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conheci o trabalho do Henfil na faculdade, na aula de jornalismo de revista. O professor estava dando exemplos de posicionamentos políticos em veículos de comunicação através do jornal O Pasquim e O Jornal do Brasil.

2. Qual foi o impacto inicial?

O impacto foi ocasionado pelos traços fortes e provocantes, o humor que chega a ser agressivo mas muito efetivo no contexto político. A ousadia e os personagens marcantes, inclusive o uso de palavrões no texto, essa liberdade desafiadora justamente o combate e de denúncia a ditadura, a elite e despertar essas problemáticas.

3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Acredito que o maior destaque seja para o traço agressivo, humorístico característico como rebelde que compõem personagens brasileirismos como Cumprido e Baixim. Com um estilo atemporal, personalizado e orgânico junto a uma dimensão gráfica do desenho marcante que está diretamente associado a ele, sem se desvencilhar do artista Henfil.

4. O trabalho do Henfil teve influência direta no seu? Se teve, em que sentido?

O meu trabalho sobre a importância de recursos visuais como a charge e cartum na imprensa sindical e alternativa teve influência direta de trabalhos como do Henfil, da Laerte, do Glauco, do Angeli, o Aroeira e inúmeros outros que democratizaram a informação por meio da ilustração, do humor e da sátira contra a ditadura e abusos da elite com a população, principalmente com os grupos minoritários. Atendendo a necessidade de momentos históricos, promovendo integração social e provocando modificações e diálogos mais do que necessários.

5. Qual foi o impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Um dos impactos do Henfil na imprensa sindical por volta da década de 70 e 80 é a sua participação na instituição OBORÉ, ao lado de outros cartunistas que também fundaram esse projeto social de apoio às produções sindicais. Participando também no levantamento de partidos populares, pelos direitos trabalhistas sendo um artista politizado e que sempre se manteve do lado que se identificou e lutou pelo lado certo da história.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa? Alguma lhe marcou?

Acho que a entrevista mais marcante para mim, de Henfil, foi a da revista Veja (edição 138 em 28 de abril de 1971) em que, durante a entrevista, o artista relaciona os personagens Cumprido e Baixinho (conhecidos também como Fradinhos) a fases da sua vida, do seu trabalho e criatividade como humor escrito e visual que passou por transformações, a maneira como que ambos foram partes de suas inseguranças e que como o humor se adaptou para se tornar jornalístico.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Acredito que a iniciativa desta compilação de entrevistas num livro é mais do que necessária. Ilustrar as pautas e pontos de vistas defendidos por Henfil nesses momentos tão interessantes e articulados. O livro da Editora Noir é uma ótima produção para introduzir os leitores na visão desse artista, até mesmo para compreender as problemáticas atuais que são heranças do passado por alguém que viveu no que hoje é a história.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?

O filme é uma nítida crítica à situação política da época, trazendo para o audiovisual o humor do cartum acentuando como o conhecimento é poder e a sua capacidade de manipular os sistemas sociais ainda mais por se tratar de um jornal estadunidense. Mesmo não sendo um sucesso de bilheteria durante o lançamento, ainda hoje é um filme que continua com sacadas muito pertinentes, sem falar da proeza de escrever, dirigir e protagonizar o próprio filme.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

O tamanho ocasionado pela falta do Henfil no cenário da comunicação é de um profissional revolucionário, até mesmo contra o próprio editorial, que não se limitava a caixas ou definições. Um artista de multifacetas, personagens e veículos existindo essa real necessidade de se comunicar, transcendendo as histórias em quadrinhos.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele (apesar do enorme esforço do Instituto Henfil, criado pelo filho Ivan Cosenza) ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Eu acredito que aplicar os seus trabalhos e ideais nos dias de hoje, seria uma boa maneira de popularizar o Henfil novamente priorizando o instituto e expondo todas as causas que o mesmo representou, inclusive a luta na prevenção da contaminação pelo vírus HIV. O livro ‘Tô Sick da Vida’ -com toda certeza- vai auxiliar nesse processo de reconhecimento, neste compilado de entrevistas reunidas pelo Gonçalo Jr que vai introduzir para as novas gerações a personalidade e essência do artista.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Como diria a personagem Graúna “Que país foi esse?” Nos recordamos de movimentos como as Diretas Já, os caras pintadas, as manifestações sobre os preços das passagens do transporte público. Essas revoltas populares marcantes parece que se perderam entre tanto descaso e desgaste por parte da população, mas nas circunstâncias atuais, como os ataques à democracia, está mais do que na hora de uma mobilização e principalmente que compreenda que essas segregações só servem para enfraquecer a força do poder público.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Certeza que estaria do lado certo da história novamente, agindo contra as opressões e atos de crime contra a democracia junto das mobilizações e movimentos antifascistas. Influenciando nos diálogos sobre essas problemáticas, que muitas pessoas ainda insistem que são assuntos indiscutíveis sobre a velha percepção de que política, religião e futebol não se discutem… e sabemos muito bem que não é assim que funciona na vida real.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Acredito que ainda seja possível realizar transformações nesse país, mas no cenário atual por mais que uma mudança radical fosse o ideal, as modificações progressistas e duradouras podem ser o caminho a ser trilhado até esse ato revolucionário. O humor sem dúvida é uma ferramenta fundamental para essa transição, ainda mais neste momento que a comunicação é tão visual como os memes (que são praticamente um vocabulário à parte da língua portuguesa) e por esse apelo tão grande com os jovens, que são ainda grande esperança para o futuro.

Contato

esterraquuell@gmail.com

(*) Ester Raquel é estudante de jornalismo na Universidade Cruzeiro do Sul (SP).

Quadrinhos e charges fizeram parte da alfabetização de Ester Raquel e foram o início de sua relação com os jornais. Seu trabalho de TCC enfoca a imprensa sindical, a trajetória da cartunista Laerte Coutinho e suas percepções sociais e políticas nos 40 anos de publicação na imprensa tradicional e alternativa.

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AQC ENTREVISTA FLAVIO MOTA (*) SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil? Lembra da ocasião?

Eu conheci o trabalho do Henfil muitos anos após sua morte. Apenas conhecia o seu nome até então e na verdade tive o meu primeiro contato, bastante breve, em 1990, na casa do meu professor de desenho na época, o quadrinhista Ismael dos Santos. Naquela época eu viajava quase todo final de semana para estudar na sua escola que ficava na Lapa e geralmente eu dormia na própria escolinha. Num desses finais de semana ele me convidou para dormir na casa dele, pois os filhos estavam em viajem de trabalho ou alguma coisa assim e teria como usar o quarto deles. Na manhã seguinte eu fiquei no estúdio que ele tinha nos fundos da sua casa, um lugar repleto de materiais de desenho, livros e revistas. Ali eu encontrei um exemplar de uma coletânea de tiras do Henfil e fiquei entretido enquanto o Ismael ainda não havia chegado no estúdio. Para mim foi extremamente impactante, porque a leitura era fácil, rápida, com um desenho leve, simples, rápido e ao mesmo tempo seu humor era pesado, denso, conseguia transmitir a tensão daqueles anos de chumbo que ele publicou no Pasquim. Eu fiquei anos sem ter contato com nada dele até que alguns anos mais tarde numa edição da Bienal do Livro eu encontrei a coleção de suas tirar publicadas em uma série de livros. Comprei todos. Eu considero aquele momento minha real interação com a obra do Henfil.

2. Qual foi o impacto inicial?

Não sei se dá para descrever porque o desenho era simples e rápido, quase feito de qualquer jeito, no entanto, era cativante, gostoso de ver, engraçadíssimo. A criatividade do Henfil era preponderante no seu trabalho. Não era necessário um grande e complexo cenário, personagens cheios de detalhes, truques e mais truques como enquadramentos radicais, diagramações arrojadas. Tudo estava ali servindo da maneira mais simples e direta possível, apenas sendo usado para contar uma história, e bem contada. Mas havia a história, o contexto histórico, o humor. mas não um humor boboca, sem direção, sem função. Seu humor era certeiro, ácido, porque não dizer incômodo porque mexia com alguns padrões que eu tinha como sendo a maneira de se fazer tiras, com muitas nuances, muitas camadas. Até o espaço vazio funcionava. E o traço… era magia pura. Eu fiz da experiência de ter a coleção dos trabalhos do Henfil uma oportunidade de aprender tudo o que me era possível. Tanto que hoje quando vou montar um layout de HQ eu faço como imitando os desenhos do Henfil.

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Impossível dizer uma coisa só. Era a obra, não tem jeito. O resultado final chama atenção. Mesmo se você não quiser ler, sem que você perceba já está lendo as tiras. É impossível resistir. O desenho chama atenção a ponto de você ler e continuar lendo tudo até o fim, o trabalho dele é magnético, te prende e ao mesmo tempo soa despretensioso.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Evidente que teve, muito mais do que dá pra se imaginar. Na composição dos layouts de quadrinhos eu costumo usar muito a maneira dele montar as sequências das cenas muitas vezes baseadas apenas nas expressões dos personagens, usar a diagramação a serviço da história, perceber que uma imagem pode ser resolvida com poucos traços, aliás montar uma imagem com poucos traços ajuda a resolver uma cena, mesmo que o desenho final não seja composto de poucos traços. Eu também aprendi a valorizar a “sujeira” no desenho, aquela sujeira do desenho que parece não ter sido terminado, a beleza do traço corrido e a valorizar textos e sequências que possam ser um pouco mais pesados de uma maneira que seu peso não fique tão evidente. Eu juro que ainda não cheguei a seus pés, mas que isso me influencia, me influencia. Inclusive existe um projeto que está parado por um tempo de desenvolver uma espécie de fanzine com um grupo de artistas periféricos de um coletivo que eu me relaciono aqui em Bauru que terá um trabalho de tiras de quadrinhos meus representando a realidade da periferia, do povo preto, pobre e periférico que é a reprodução do estilo do Henfil sem tirar nem por. Eu penso que realizar esse projeto adotando o estilo do Henfil é o maior presente que eu posso dar ao projeto, porque mostra uma realidade crua de uma parcela considerável da população brasileira com um tipo de arte que ao meu ver melhor representa essa brasilidade, essa simplicidade, essa crueza.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda? E entre seus amigos?

A maioria das pessoas que eu conheço talvez não conheça o seu trabalho e se conhece não conhece muito a fundo. Eu tenho contato com muita gente de idade bem mais nova e gente que não teve a mesma sorte de uma formação artística tão privilegiada como a minha, tanto que meu desejo é fazer de alguma maneira com que essa nova geração tenha um canal para conhecer certas coisas, certas realidades e certas linguagens, dentre elas a linguagem desenvolvida pelo trabalho do Henfil. Quanto a imprensa sindical e nada posso dizer, eu não tenho contato com ela. Na esquerda eu vejo que o trabalho do Henfil é mais influente entre os mais velhos, não está muito presente entre o pessoal mais novo, parece que faz parte do imaginário da esquerda sem que eles saibam exatamente do que se trata. As novas gerações demonstram muito poucas referências com coisas anteriores de suas gerações, coisa que não havia na minha geração, o que me preocupa porque eles perdem muito em termos de repertório de tudo.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Eu não tive como, eu sou de uma outra geração. Quando eu ouvi falar do Henfil pela primeira vez foi quando saiu a notícia da sua morte.

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Mais do que necessário, essencial para que sua imagem, sua obra e sua mensagem possam permanecer.

8. Sabia que Henfil era um profissional multimídia, atuando também na TV e no Cinema?

Não tinha conhecimento disso.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Do tamanho que faz a falta de uma esquerda combativa e atuante num momento histórico como o atual.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

É preciso ir até aonde o povo está, como já dizia Fernando Brandt. Seu trabalho precisa existir nos meios digitais, mídias sociais, nos sindicatos, escolas, faculdades, grêmios estudantis, etc. Seu trabalho precisa habitar os locais mais variados, as periferias, os movimentos sociais. As pessoas precisam conhecer o que foi e como foi a resistência na época da ditadura para compreender como se faz uma resistência, porque a esquerda está muito dissipada, muito pouco aguerrida, precisa atuar, precisa de uma injeção de inspiração. O povo precisa sonhar, precisa aprender a lutar pelos seus direitos, a correr atrás, a se manifestar, mostrar sua indignação, ser protagonista do seu próprio país.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Da maneira como a coisa está, infelizmente, ainda vai piorar e piorar muito mais. Não existe mobilização, não existe consciência de classe, não existe politização, não existe ação, não existe combate, não existe nem mesmo um ensaio para que o nosso lado construa um projeto de país verdadeiramente democrático e livre. As pessoas se contentem apenas em deixar de perder mais direitos e nem isso estão conseguindo. Nosso país está se transformando no inferno na terra e todos continuam querendo, insistindo em viver suas vidinhas como se fosse possível haver normalidade. É muito triste tudo isso, os demônios criaram coragem, estão dançando e rindo de tudo e todos enquanto que os bons criaram vergonha de saírem a luz do sol. Eu nunca poderia imaginar que fossemos chegar a esse ponto. E a tendência é piorar porque o lado de lá está apenas começando e eles não irão parar os ataques enquanto a esquerda não virar o jogo. Não irá aparecer nenhum salvador vindo dos céus para nos libertar de todo mal e iniquidade. É melhor que todos nós acordemos.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Eu acho que ele estaria fulo da vida com tudo isso e principalmente, com a incapacidade de mobilização do nosso lado.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

É possível, mas para isso ser possível é preciso ser radical, parar de fingir que não existe luta de classes, parar de ficar propondo conciliação porque a nossa burguesia foi quem ultrapassou os limites de institucionalidade. Está tudo errado. O sistema está errado. Não dá para querer salvar o que está destruído. Se o PT quiser MESMO salvar este país vai ter que ser bem mais radical em suas propostas e em suas ações do que foi em 2002. O Brasil não é o mesmo, o mundo não é o mesmo, não há mais espaço para uma normalidade que ninguém está disposto a bancar, vai ser preciso jogar duro e pesado porque o lado de lá já está jogando pesado, sem seguir nenhuma regra, estamos sob o vale tudo de gente que não teme nem a morte e se a gente não fizer alguma coisa não sobrará esquerda para contar a história, provavelmente não sobrará nem Brasil, talvez não sobrará história.

CONTATO

(*) Flavio Roberto Mota é ilustrador, chargista, cartunista, membro da AQC e da Revista Pirralha. flaviormota@gmail.com Oferece serviços de ilustração e quadrinhos através do Estúdio Tris. https://www.facebook.com/FlavioMotaIlustra

Trabalhou como ilustrador, web-designer e assistente de estúdio em Carillo Pastore Euro RSCG, Totem, Terra Networks, McCann Erickson. Estuda na UNESP. Estudou Animação 2D/3D no CAV – Centro de Audiovisual São Bernardo do Campo.

https://www.facebook.com/flaviormota Criou a página de Charges e Cartuns: https://www.facebook.com/Groselha.Grafica

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AQC ENTREVISTA: NILSON MAIA SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Foi no início da década de 70. Adolescente, de família e colégio politizado, sempre esperava ansioso O Pasquim que era lido e compartilhado com os colegas da escola.

2. Qual foi o impacto inicial?

Foi como um contra-ponto das longas análises econômicas ou sociais dos longos textos que se conseguia ler (Caio Prado, Graciliano Ramos, etc..). Era uma coisa moderna, cheirava a novo. O humor sério fazia contra-ponto com o humor de galhofa que era comum na época. Henfil fazia a crítica social e econômica, clara, resumida, em poucos traços ágeis que conseguia driblar a censura prévia a que todas as publicações estavam sujeitas na época

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

O traço simples (que nós, moleques, conseguíamos copiar) e o texto quase telegráfico, mas completo, cheio de crítica.

4. Seu trabalho teve alguma influência?

Não percebo.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical e na Esquerda?

No movimento sindical não tenho condição de analisar. Mas na Esquerda, definitivamente, ajudou a tirar ranço sério e chato, compreensível pela situação que a ditadura impunha, que tinha a esquerda da década de 70.

E entre seus amigos?

Ajudou-nos a entender que o humor pode ser sério e que mesmo em situação tão grave como se vivia na ditadura militar, havia espaço para rir. Mesmo que fosse vendo o Fradim fazendo top-top para a gente.

Quais eram os comentários das pessoas?

“O Henfil é foda!”

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Sim.

Teve alguma que lhe marcou?

Uma desenho o Orelana e a Graúna no ombro do Zeferino de costas, olhando para o horizonte dizento “Há uma esperança”

Porquê?

Era o final da década de 70, ou início de 80 e se antevia a possibilidade do fim da ditadura

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro?

Ótimo!

Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Um registro histórico importante que trará reflexões sobre a atual situação política, econômica e social de hoje, que de certa forma tem muito em comum com a da época do surgimento de Henfil e seus personagens

8. Conheceu o Henfil multimídia, atuando na TV e no Cinema?

Pouco acompanhei essa faceta do Henfil. Fui um voraz consumidor do Henfil no papel.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

É uma falta sem dimensão. Infinita.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar a mudar esse panorama?

Sim. Tudo que relembrar Henfil, além de satisfazer os velhos, fará com que os jovens percebam a dimensão universal e atemporal de sua obra. Henfil é uma espécie de Quino brasileiro.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda. A coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Não.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Gosto de acreditar que se Henfil ainda desenhasse nos dias de hoje, teria criado um militar fascista, um político miliciano e, certamente, um pastor louco!

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical?

Apesar de difícil, o PT provou que é possível modificar o país e diminuir a indecente concentração de renda. Apesar de não ter dado conta da reação da “elite” econômica e ter sucumbido, ao meu ver, com muita mansidão ao golpe de 2016, ainda há espaço para avançar e formar novas lideranças progressistas dentro do próprio PT. Afinal, por mlelhor que seja, Lula não é eterno.

O humor entra nisso?

O Humor está em nós. Vocês (Bira e seus colegas cartunistas) só ajudam a nós -seres rudes e insensíveis de tanto calo nas costas- a percebermos melhor a divindade do Humor que está em tudo e em todos. Forte abraço, meu amigo (e parceiro de uma charge!!). Saudades.

Nilson Borlina Maia é Engenheiro Agrônomo (ESALQ 1981). Mestre e Doutor em Solos e Nutrição de Plantas Especialista em destilação e produção de óleos essenciais de Plantas Aromáticas.

Sócio Fundador da Linax Óleos Essenciais – Direção Científica Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – Seção de Plantas Aromáticas e Medicinais. 1988-2019 Professor de Ecologia PUCAMP 2000-2001 Professor de Ecologia da PUC – SP 1995-2002 Pesquisador Embrapa- Programa Energia 1985-1988 Centro de Tecnologia Copersucar 1982-1985

Detalhe: a foto de perfil de Nilson Maia no Facebook é a Graúna, personagem imortal de Henfil, o apelido do Nilson na ESALQ era Fubeca e o colega de ESALQ Luiz Rangel cometeu o desatino de deixar sua rara coleção de Fradins, que agora vai presentear o cartunista e amigo Bira.

https://www.facebook.com/nilson.maia.54

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AQC ENTREVISTA: LOR SOBRE HENFIL

1) Como você conheceu o trabalho do Henfil?

Conhecia Henfil pelo Pasquim, admirava seu trabalho e encontrei com ele num dos salões de Piracicaba, em 1976, talvez.

2) Qual foi o impacto inicial?

Uma pessoa agressiva e crítica, duas qualidades naquela época.

3) O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Os cartuns e personagens de quadrinhos, além do traço, é claro.

4) Seu trabalho teve influência direta?

Sim, e muita. Queria ser crítico como ele, fazer desenhos simplificados e diretos como os dele. Estive hospedado em sua casa em São Paulo por uns dias e recebi muitas dicas dele sobre como fazer um quadrinho politicamente engajado. Trocamos algumas cartas sobre isto. Veja aqui um relato sobre estes momentos https://lorcartunista.blogspot.com/2018/01/henfil-o-palestino.html

5) Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda?

Henfil influenciou a todas os cartunistas da minha geração que tinham uma perspectiva de esquerda. Tentamos fazer em nossos nichos o que ele fazia no Pasquim e na grande imprensa.

6) Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa? Teve alguma que lhe marcou?

Sim, tudo o que ele falava era importante para nós. Sua tentativa frustrada de trabalhar nos Estados Unidos foi a maior lição sobre colonialismo cultural que poderíamos ter ao vivo.

7) O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Boa ideia: será um prazer rever e repensar aquele tempo.

8) Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Homem e Tanga, deu no New York Times?

Achava sua tentativa de se adaptar a outras mídias atrevida e necessária, mas os resultados não foram bons. Deu no New York Times é um desastre como filme. A TV Homem tem momentos muito bons.

9) Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Peço novamente que veja o texto que escrevi no Blog sobre sua morte. Minha dor está colocada lá e não estou com forças para reviver tudo aquilo neste momento.

10) As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de exposições e do enorme esforço do Instituto Henfil, criado pelo filho Ivan Cosenza, o material de Henfil ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso?

Acho que toda arte, incluindo os cartuns, são manifestações históricas. Somos datados. Cada época tem a sua linguagem, suas questões e soluções. Acho ilusório tentarmos recuperar o impacto do Henfil ou de qualquer um de nós numa época diferente daquela em que ele atuou com grande repercussão popular.

11) O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda… Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Acho que estaria reagindo com as armas que dispunha (e dispomos): escrevendo, desenhando e se posicionando contra o bolsonarismo. Apesar de sua argúcia política, tenho a impressão de que ele se surpreenderia com a parcela da população que se revelou de extrema direita no Brasil.

12) Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Provavelmente com a fúria dos justos que ele exibia diante da ditadura e da miséria social.

13) Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Sim, Henfil foi um dos fundadores do PT e hoje talvez estivesse num partido mais combativo (como o PSOL, talvez) por causa dos acordos que o PT fez com o centrão e outros desvios bem conhecidos do sonho inicial. Quanto a transformar o país, acredito que uma nova sociedade pode evoluir do capitalismo, mas somente se isso for acontecendo aos poucos e transformando o mundo como um todo. Os desafios são aparentemente insuperáveis. Há momentos em que fico cético de que conseguiremos superar a crise climática e a desigualdade econômica, sem falar no poderio militar nuclear que ainda existe sobre nossas cabeças. Construímos uma sociedade cujo funcionamento depende do crescimento exploratório das pessoas e do planeta. Não sei se existe uma maneira de mudar esta estrutura que se tornou automática. Além de tudo, somos guiados pelo acaso com nenhum ou pouquíssimo livre arbítrio. Não creio que estejamos bem equipados para mudar o mundo antes que sejamos extintos como civilização. Mas não me resta nenhuma opção além de acreditar que devemos tentar.

Contatos:

rodrigues.loc@gmail.com https://www.facebook.com/luiz.rodrigues.77736https://lorcartunista.blogspot.com

LOR é cartunista desde 1973, publicou 5 mil charges, ilustrações e cartuns em diversos órgãos de imprensa. Foi premiado em salões internacionais de humor e recebeu o “Troféu Angelo Agostini” de Mestre do Quadrinho Nacional em 2006 (SP). Publicou livros com cartuns e quadrinhos, ilustrou livros de ciências e literatura; cartilhas sobre saúde, direitos humanos, preservação ambiental e construção da cidadania. LOR também é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais em 1972, foi Professor Titular na UFMG. Foi Pesquisador do CNPq, publicou artigos e realizou orientações de iniciação científica, mestrado e doutorado.

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AQC ENTREVISTA: GAZY ANDRAUS SOBRE HENFIL

1. Como conheceu o trabalho do Henfil?

Eu era adolescente e vi alguns números da série do Fradim, na casa de primos em MG. Mas ao mesmo tempo, pouco depois, ele começou a aparecer no programa televisivo da Globo, o “TV Mulher”, fazendo a esquete “TV Homem” (que era um quadro de humor em preto e branco). Eu assistia e gostava muito. E depois, quando fui chegando à maturidade comecei a entender melhor as situações críticas que Henfil inseria nos Fradim e nas HQs da Graúna, Zeferino etc.

2. Qual foi o impacto inicial?

Os desenhos e traços caligráficos dele, que eram muito expressivos e eu adorava. E o próprio Henfil na TV Homem (dentro da TV Mulher) que era muito hilário.

3. O que chamou mais atenção: o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Tudo junto e misturado: as expressões incrivelmente verossímeis, ainda que caricaturais do desespero do Fradim quando o Baixim o punha em maus lençóis, o sofrimento pueril da Graúna, a sapiência ativista do Bode Orelana…eram desenhos e sequências impactantes, pois traziam expressões fortíssimas.

4. Seu trabalho teve influência direta?

Não, porque meu traço não é de humor e nem caricatural. Mas há certa semelhança na criação “automática”. Li numa entrevista dada por Henfil que quando ele estava dentro de sua criação, se tivesse que desenhar um carro, ele saía excelente. Mas se pedissem a ele um, fora de seu contexto criativo, saía ruim, segundo ele. Fiz a analogia com meu processo criativo: se estou na fluidez do momento da criação (quase como uma escrita desenhada surrealista direta à nanquim), saem minhas artes com impacto que devem ter (fantástico-filosófico). Mas se não estou imbuído deste momentum, minha criação é fraca. Quando li a fala de Henfil, imediatamente entendi que ele tinha um processo criativo em que o meu era similar, apesar dele fazer humor ácido e crítico e eu HQs de cunho filosófico e fora do caricatural!

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical?

Para mim, o que importava mais era a situação de miséria que ele mostrava do Brasil com os personagens da caatinga. Eu não tinha esta verve política atual, pois eu era ainda um jovem adolescente que lia gibis de humor e de heróis. Mas entendia a “seriedade” das denúncias que ele trazia em suas artes de humor ácido, ligeiro e inteligentes.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?

Sim. Além da que relatei na questão 4, tinha uma outra que, se não me engano, ele deu à revista Caros Amigos, que foi uma longa entrevista mas muito inusitada e até com pontos espiritualistas com tópicos incríveis que eu jamais havia lido antes!

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro?

Eu não sabia desta iniciativa, mas apoio. Principalmente – esqueci-me de dizer – adorava ler as cartas que ele enviava à mãe, de quando morou nos EUA e as publicava na sua série do Fradim.

8. Conheceu o Henfil multimídia na TV e no Cinema?

Como disse, conheci-o mais nos quadrinhos e na TV homem. Também e li Henfil na China que muito me marcou igualmente.

9. Qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Não sei como ele estaria nos tempos atuais. Mas a cada um – penso – lhe é dado seu tempo e seu afazer. Ele foi fenomenal na sua época e denunciou pra valer o “mostra a sua cara, Brasil”. Atualmente há outros cartunistas como Latuff e mesmo Laerte, e Angeli, que até dão conta do recado, em certa instância. Mas realmente, a pungência do Henfil marcou uma época que foi preciosa nas artes gráficas, da denúncia, pelos cartuns e charges dele. Memso nos EUA, não entendiam o humor dele e ainda fechavam seus desenhos e punham bendays (parece que não conseguiam aceitar os desenhos caligráficos e gestálticos dele, que a gente une mentalmente ao visualizar – neste ponto, éramos mais avançados que o norte-americano médio, aparentemente, na degustação da arte dos desenhos).

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Creio que sim. Os livros ajudam a manter a memória. Exposições também. E, claro, trabalhos de pesquisa acadêmicos.

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Acho que sempre esteve. Cada período, de seu jeito. Mas é inegável que nalguns períodos a coisa toma mais vulto que noutros, como neste (des-)governo atual.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Acho que ele estaria sendo caçado, até, e/ou ameaçado de morte, talvez.

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

Impossível que todos comunguem de um mesmo pensamento radical e/ou político. O que se necessita talvez, é um pouco mais de coerência, além de “cor” – de coração e amor. Henfil amava a vida, amava sua mãe e amava a arte. Isto transparecia mesmo quando ele parecia bradar lutando. Creio que o que falta é isto. Este governo conseguiu matar a compaixão e o amor, e fincou a bandeira exclusiva do ódio.

Gazy Andraus é membro da AQC, um dos organizadores do Troféu Angelo Agostini, pós-doutorando pelo PPGACV da FAV-UFG (Bolsista CAPES-PNPD), Doutor pela ECA-USP, Mestre em Artes Visuais pela UNESP, Pesquisador e membro do Observatório de HQ da USP, Criação e Ciberarte (UFG) e Poéticas Artísticas e Processos de Criação (UFG). Também publica artigos e textos no meio acadêmico e em livros acerca das Histórias em Quadrinhos (HQs) e Fanzines, bem como também é autor de HQs e Fanzines na temática fantástico-filosófica.

E-mail: gazyandraus@ufg.br, yzagandraus@gmail.com, Sites e blogs: http://tesegazy.blogspot.com/ , https://yzagandraus.wixsite.com/gazy/home , http://classichqs.blogspot.com/ , http://conscienciasesociedades.blogspot.com/, Site de Gazy Andraus (WIX) https://yzagandraus.wixsite.com/gazy (Site de arte, fanzines, HQs, ilustrações e artigos e textos acadêmicos) No facebook: https://www.facebook.com/gazy.andraus Instagram: https://www.instagram.com/gazyandraus/ e Twitter: GazyAndraus (@AndrausGazy):https://twitter.com/AndrausGazy Fanzines: https://issuu.com/gazyandraus/docs/3d_imagens-zine-separadas-1-pp; https://issuu.com/gazyandraus/docs/projeto-3d-imagens-volii-ppoint_sequencia

Canal GaZine no youtube no canal “Gazy Andraus”, acerca de fanzines e afins.

Todos os episódios aqui: http://tesegazy.blogspot.com/p/gazine.html

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AQC ENTREVISTA: PAULO BATISTA SOBRE HENFIL

1. Como você conheceu o trabalho do Henfil? Lembra da ocasião?

Eu não consigo dizer, precisamente, onde e quando eu vi pela primeira vez um desenho do Henfil. Ali na virada dos anos 70 pra 80, eu adolescente comecei a me interessar muito pelos cartuns que eu via nos jornais. Recortava tudo e guardava em cadernos. Também comecei a ir atrás de revistas. Foi assim que eu conheci mesmo toda aquela turma de cartunistas da época e a geração imediatamente anterior, do Pasquim. Henfil veio nessa onda. Tudo aquilo foi pra mim muito impactante, ao ponto de eu resolver que queria fazer também. Agora, na minha memória afetiva, o que mais me marcou com relação ao Henfil foi ver os desenhos dele iconicamente ligados à toda aquela luta pelo fim da ditadura empresarial-militar, por eleições diretas, por uma nova constituição…

2. Qual foi o impacto inicial?

Como eu disse antes, aquelas coisas todas foram fundamentais, fizeram eu decidir o que queria ser…

3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?

Tudo. O traço simples, a linguagem direta. Era um puta jeito de conversar com o povo.

4. Seu trabalho teve influência direta? Se teve, em que sentido?

Sobretudo com relação ao comprometimento político. Me mostrou que o humor gráfico precisa posicionamento, mais do que político em relação à conjuntura, posicionamento e compromisso ideológico. Neutralidade é balela. Eu procuro jamais me afastar desse compromisso.

5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical? E na esquerda? E entre seus amigos? Quais eram os comentários das pessoas?

Como eu nasci profissionalmente na imprensa sindical, e meus velhos camaradas de sempre também sempre estiveram ligados nisso, Henfil foi referência pra todo mundo, pra todo esse meu círculo desde aquele tempo.

6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa? Teve alguma que lhe marcou? Porquê?

Acaba que eu vi muita coisa de arquivo, tipo entrevista no Vox Populi da TV Cultura de 78. Assim é impossível não ser marcante, sabendo o que rolava e o que veio depois…

7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro? Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?

Ótimo. A gente precisa desses documentos. É a nossa história, nossa como cartunistas e nossa como brasileiros.

8. Henfil era um profissional multimídia, atuando na TV e no Cinema. O que achou das produções do cartunista em TV Home e Tanga, deu no New York Times?

Engraçado essa coisa do multimídia, acho que nem se usava essa expressão naquela época, né? No fundo porque tudo é a mesma obra, muda a plataforma e o jeito de fazer algumas coisas. Talvez hoje o meio seja tratado com mais relevância do que o conteúdo. Henfil foi gênio, andou por qualquer plataforma com maestria.

9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?

Não tem como medir o tamanho dessa falta. Mas tem a obra, absolutamente atual. Não morre nunca.

10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. Apesar de uma exposição de originais no Centro Cultural Banco do Brasil (2005) no Rio e em SP ter tido público recorde na época, o trabalho dele (apesar do enorme esforço do Instituto Henfil, criado pelo filho Ivan Cosenza) ainda é pouco compartilhado nas redes. O que fazer pra melhorar isso? O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar?

Sim, acho que pode ajudar mesmo. Agora, a geração atual desconhece ou passa ao largo dessa questão da autoria. Eu penso que isso é um problema bem resultado dessa cultura da internet meio terra onde as coisas circulam sem que se dê créditos pra quase nada como se tudo fosse meme. Uma encrenca isso…

11. O Brasil hoje está ‘sick da vida’ com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda? Ou a coisa precisa piorar mais pro povo reagir?

Eu nem gosto de colocar as coisas na forma “o povo não reage”. Isso me soa um tanto elitista. O povo acerta e erra, como sempre foi, muitas vezes por questões práticas, imaginando na ideia vendida como solução para os problemas que tão pegando. Acho que a gente tem de jogar esse jogo, não tem por onde, e não entrar nessa de culpar o pobre quando a coisa sai errada.

12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?

Henfil estaria na luta. Aliás, acho que está de qualquer forma. Afinal ele também deixou legado, armas pra enfrentar essa onda…

13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical? O humor entra nisso?

A transformação é sempre a busca. A minha formação é em História, e eu penso a partir de uma visão contemporânea que refuta aquela antiga tradição positivista, linear. A coisa é um grande espiral. Nem se ganha nem se perde definitivamente, se joga sempre no jogo das tensões sociais. A luta não é escolha, é imperativa. A coisa da isenção é totalmente falsa. Nisso o papel da gente pelo humor, pela palavra, pelas ações, enfim, seja como for sempre vai ser parte disso.

(*) Paulo Batista é cartunista. Chargista colaborador do portal Brasil de Fato e do Blog do Menon. Edita e publica desenhos e HQs em livros e zines pelo selo PB Editorial. https://www.facebook.com/artepbatista @paulopbatista no instagram e no twitter.

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EXPO DE QUADRINHOS E CARTUNS PANDÊMICOS

OFELIANO Eduardo Ebenezer Ofeliano de Almeida (natural de SP, radicado no RJ). Desenhista de HQ e de storyboards. Publicou o Leão Negro em co-autoria com Cynthia Carvalho em Portugal e no Brasil pela Meribérica. Tem trabalhado com storyboards em filmes como Cidade de Deus, Outras Estórias, Deus é Brasileiro, Caramuru e O Auto da Compadecida e telenovelas e séries como Coração de Estudante, Desejos de Mulher, A Grande Família, Labirinto, A Justiceira, O Clone e A Casa das Sete Mulheres. Fez uma história em quadrinhos onde o cartunista Péricles encontra seu personagem, O Amigo da Onça, a HQ deu origem ao curta-metragem A Última do Amigo da Onça de 2005. Em 2006 foi premiado na categoria melhor argumento no Festival Guarnicê de Cinema. www.Lambiek.net/artists/o/ofeliano Ofeliano de Almeida – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) https://www.facebook.com/Ofeliano-De-Almeida-899107576804716

BRUM Rodrigo Brum (natural do RJ, radicado em Natal, RN) Chargista do jornal Tribuna do Norte, do jornal do Sindicato dos Bancários do RN e do programa Bora RN (TV Band-RN). Autor das tiras Brummmmm !!!, Barriga de Rato e O Menino da Laje 8. Vencedor do prêmio Angelo Agostini (cartunista/2015), Vencedor do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (artes/2016 e 2018), segundo lugar no concurso de cartum “Nova Previdência Social: melhor para quem?” (2019), um dos 10 selecionados para o edital de cartuns anti-racistas promovido pela ARTIGO 19 e Coalizão Negra por Direitos (2020) e um dos vencedores do Prêmio “Destaque Vladimir Herzog Continuado” (2020). Ex-colaborador da revista MAD Brazil. ______________________________ https://www.facebook.com/rabiscosdobrum https://www.facebook.com/BrumChargista/ https://www.facebook.com/BarrigaDeRato/ https://twitter.com/Brummmmm Instagram: @rabiscosdobrum

YKENGA Bonifacio Rodrigues de Mattos (RJ) Iniciou profissionalmente a carreira em 1970, no O Pasquim. Passou por algumas redações: O Dia, O Povo, Última Hora, O Fluminense, Jornal dos Sports, Tribuna da Bahia, O Povo – de Fortaleza-, Libèracion da Suécia, La Juventud do Uruguai, Starchel da Bulgária, dentre outros. Ilustrou livros com textos de Martinho da Vila, Novos Talentos, da ABL, o Catálogo do salão Internacional de Caricatura de Montreal (Canadá) e publicou trabalhos autoria. Expôs no Yomiury Shimbum-Japão, Angouleme-França, salão Internacional de Caricatura do Canadá, fez uma individual no Museu da Imagem e do Som-RJ, na Casa do Humor e na Sátira de Gabrow-Bulgária. Faz a sua crítica à realidade, através do humor explicito em seus desenhos e é um ativista das causas negras. https://www.facebook.com/ykenga.mattos Site do Ykenga https://www.ykenga.com.br ykenga@gmail.com

EDRA Élcio Danilo Russo Amorim (Caratinga, MG). Cartunista / Produtor Cultural / Design Gráfico / Jornalista / Editor. – Iniciou na profissão de cartunista no Correio Braziliense – Brasília / 1980 – Premiado e selecionado em vários salões de humor no Brasil e no exterior. – Realizador do Salão Internacional de Humor de Caratinga. – Idealizador/ Fundador da Casa Ziraldo de Cultura e da Gibiteca Turma do Pererê. – Membro da Comissão Julgadora de Premiação do Salão de Humor do Piauí (2005), Brasília (2005), Piracicaba (2018), Belém (2018) e China (2019). – Tem trabalhos publicados em diversos jornais e revistas brasileiros e do exterior. – 31 livros publicados, com destaque para o livro «Ziraldo – Ao Mestre Com Carinho», (Melhoramentos) premiado com o Troféu HQ MIX. (2019). – Membro da equipe internacional do MAC – Morocan Association of Cartoon e Cartoons Anthology (Romênia) – Colabora para importantes editoras do país, tais como: Melhoramentos, Positivo, Moderna, FTD, Leya Edições, Pitágoras, Base Editorial (PR), Kroton, Alto Astral, FUNEC, Organização Educacional Farias Brito (CE) e ilustrações e capas para diversos autores. – Presidente da Associação Estação Cultural de Caratinga – Idealizador da 1ª Feira Literária de Caratinga (2018) – Editor fundador do jornal A Semana (1984) e Chargista do Diário de Caratinga, durante 13 anos. Colabora com diversos sites de humor, com destaque para o Chargeonline e Brazilcartoon. www.cartunistaedra.blogspot.com www.chargesdoedra.blogspot.com www.casaziraldodecultura.blogspot.com https://www.facebook.com/cartunista.edra

SYNNÖVE Synnöve Hilkner (Finlândia, radicada no Brasil). Além de cartunista, é, artista visual, ilustradora e ativista cultural. Tem trabalhos apresentados em diversos salões de humor pelo mundo e, em 2019, foi premiada no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com uma escultura-caricatura. No mesmo salão já recebeu também Menção Honrosa, em 2016. No ano de 2020, recebeu o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o prêmio destaque, com a “Charge Continuada #SomosTodosAroeira”. Em 2018 fez a curadoria e participou da mostra “Humorosas” no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, onde reuniu mais de 20 mulheres artistas na área do humor. Como ilustradora, tem algumas publicações de livros e de capa de CD para o Spotify. Formada em Comunicação Social, pela PUC Campinas, Synnöve é chargista e colunista para a mídia digital “Agência Social de Notícias”, também escreve para a revista de humor “Supapo” e participa do coletivo da Revista “Pirralha”. Synnöve trabalha e dá aulas em seu estúdio, o Atelier C9, em Campinas, onde semanalmente acontecem reuniões com cartunistas e artistas, com a coordenação do artista Paulo Branco. facebook.com/synnoveartist synnoveartist@gmail.com

FELIPE MANHÃES É arquiteto, quadrinhista e sócio da Wendy Game Studio, onde desenvolve roteiro e arte da HQ intitulada “As histórias não contadas de Ed & A Frase Secreta” em parceria com Alexandre Vasconcelos. Publica semanalmente as tiras “A menina, o gato e o ex-gato” no Instagram, Twitter e também produz fanzines. Membro do coletivo carioca “Rio em Quadrinhos”. https://www.facebook.com/akminarrah instagram.com/fil.manhaes.hq

ALISON ANDREI Cartunista, ilustrador, quadrinhista, designer de personagens, palhaço, ator e criador do Alfredo, Quarentena-Man e A vida de um baixinho na sociedade, histórias distintas que compõe sua obra. Em 2020, durante a pandemia, criou o Herói que salvaria o mundo, se não fosse um grande bobalhão. O Quarentena-man ganhou espaço na mídia regional, sendo manchete de alguns portais de notícia. https://www.facebook.com/alison.andrei www.alisonandrei.com alison_andrei19@hotmail.com

LIZ FRANÇA (Natural de Pernambuco) Formada em Artes Plásticas pela UFPE e ilustração e animação pelo IPCA, Portugal. Tem mais de 15 anos de experiência profissional nas áreas de ilustração, cartum, caricatura e outras invenções. Neste período destaca-se os quase 6 anos ao serviço do Jornal “Folha de Pernambuco”, como também suas participações em exposições e salões de humor no Brasil e exterior, sendo premiada em alguns deles. Atualmente trabalha como freelancer ilustrando livros, fazendo caricas e, vez por outra, despeja uns rabiscos na internet. lizcartum@gmail.com https://www.facebook.com/liz.franca.9

GUABIRAS Carlos Henrique Guabiras (Fortaleza, Ceará) Chargista do Jornal O POVO (1998-2019), quadrinhista na revista MAD, fanzineiro. Publicou 59 revistas independentes com quadrinhos e cartuns! http://flow.page/guabiras Criador prolífico e irrequieto, já publicou mais de 5 mil tiras e 59 revistas independentes como Lixo Humano, Quadrinhos Punks, Asilados por Paneladas, Guabiras Só Quadrinhos, Marmitinha, Tripa de Soim, entre outras. Levou o humor arretado cearense para todo o Brasil e até pra N. York. Guabiras é uma panela de pressão de idéias e não larga a guerrilha de publicar seus próprios fanzines e vendê-los nas feiras culturais da cidade e eventos de Quadrinhos em todo Brasil. https://www.somosvos.com.br/guabiras-cartunista-arretado/ https://www.facebook.com/guabiras.cartunista

WILLIAM MEDEIROS (Campina Grande, PB, radicado em João Pessoa desde 1998). Desde os anos 1980 atua no humor e no design gráfico. Aos 15 anos de idade, começou a publicar caricaturas no jornal Diário da Borborema, de Campina Grande. Graduado em Desenho Industrial pela UFPb (Hoje UFCg). Diretor de arte na Eureka Comunicação, em Campina Grande de 1996 a 1998. Diretor de criação da Rede Paraíba de Comunicação de 1998 a 2016. Designer gráfico na Agência UM, João Pessoa, de 2016 a 2017. Designer gráfico no Mantra Group de 2017 a 2019. De 1997 a 2014, ilustrou todas as capas da revista Brasília em Dia, até sua desativação em 2013, chegando à marca de mais de 800 capas ilustradas. Atua como ilustrador e designer gráfico no mercado editorial e publicitário de vários estados do Brasil. Foi premiado em diversos salões de humor, entre eles Piracicaba, Natal, Fortaleza, Porto Alegre, Aracajú, Amazônia e João Pessoa. Em 2013 foi selecionado para estar entre os homenageados do 40º Salão de Humor de Piracicaba. Depois de diversos livros publicados em parceria, em 2013 lançou “Traços de Trinta”, seu primeiro livro que resume sua trajetória de atuação como cartunista. https://william.com.br/ https://www.facebook.com/williamjmedeiros

NAT Natália Forcat (argentina radicada no Brasil). Cartunista e ilustradora. Atuou na Revista da Folha de S. Paulo, Caros Amigos, Playboy e Isto É Minas. Teve cartuns selecionados em vários salões, como Piracicaba, Pernambuco e Irã. nataliaforcat@yahoo.com.br https://www.facebook.com/nat.forcat http://natcartoons.daportfolio.com/

BIRA Bira Dantas (nascido em SP, radicado em Campinas) Trabalha com HQ, ilustrações e charges desde 1979.Foi desenhista da revista em quadrinhos “Os Trapalhões” (Bloch) de 1980 a 82, e intercalador de desenho animado no Estúdio Briquet (Bond Boca) em 85, quando fez parte da AQC (Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas de SP). Colaborou em revistas como Pântano, Tralha, Porrada, Megazine, Bundas, Em Ação (Caterpillar), EATON, IBM, 3M, Rockwell Fumagalli, Anglo, Bundas e jornais como Retrato do Brasil, Folha da Tarde (SP), Diário do Povo (Campinas), Pasquim21 e jornais Sindicais. Ilustrou livros pra Ed. Atual (O Caderno de Perguntas de Rebecca) e pra Ática (Curso de Inglês) através da Agência de Design e Editoração Grafos. Participou de livros cooperativados da Editora Virgo como “Brasil, 500 anos”, “Fome de ver estrelas”, “Tiras de Letras”, entre outros. Publicou quadrinhos literários pela Escala Educacional (Memórias de um Sargento de Milícias, D. Quixote e O Ateneu). Organizou exposições da AQC (Brasil-África, Brasil-Paraguai, Zalla para sempre) no Memorial da América Latina e Biblioteca Manoel Zinck de Campinas. Atualmente é contratado pelo Sinergia e Sindipetro. Em 2005 foi palestrante no WCC (World Comics Conference) em Bucheon, Coréia do Sul, onde lançou o BiraZine #1 e publicou HQ na Revista Quantum Spies. Publicou na Revista Front (Via Lettera) e na Quadreca (USP), na revista de HQ Ziniol (Polônia), Camiño de Rato. Em 2011 foi organizador da Comitiva Coreana de Manhwa em São Paulo. Participou do Festival de Quadrinhos em Angoulême (França) e da Revista Graphite (Portugal). Em 2012 participou do Bicof (Bucheon Comics Festival, na Coréia do Sul), em 2013 do FIBDA (Festival de BD da Argélia). Em 2014 dirigiu, com Artie Oliveira, o documentário “Desvendando Angelo Agostini” e foi jurado de premiação no FIBDA (Argélia) onde organizou a expo “Quadrinhos, 145 années de BD au Brésil”. Em 2016 lançou dois SketchBooks pela Ed. Criativo e livro de tiras do Tatuman. https://chargesbira.blogspot.com/ https://www.facebook.com/bira.dantas.5 biradantas2000@gmail.com

GUTO Guto Camargo (SP) Jornalista e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, profissionalmente trabalha como web designer do Diário do Comércio. Atua como freelancer na área de desenho desde os anos 80 tendo participado de vários salões no Brasil e no exterior. gutoadecamargo@gmail.com https://www.gibinanet.jor.br/

SUNÇA Felipe Assumpção (MG) É publicitário da Rádio UFMG Educativa e professor de pintura digital na Casa dos Quadrinhos. É o culpado pela maior rixa da melhor idade “Genô Vs Gertrú”, uma série de quadrinhos lançada no formato gibi e publicada online. Publica charges, semanalmente, no jornal Super Notícias. Têm um personagem que se chama Botamem, com o qual produz tiras, cartuns e animações. Já lançou três HQs e uma coletânea de tiras do Bota. Têm um podcast “O Cartunista Frustrado”, escreve críticas de cinema para o site Cinema e Cerveja e contos e crônicas de humor em seu blog Salve-se quem Puder. Seu programa de rádio é o “Onda Rabiscada” e é membro fundador do podcast de humorístico Falando com a Bunda. Ele desenha vacas @eudesenhovacas e se aventura na cozinha @suncanacozinha. fantasticomundodesunca.org/linksdosunca O Sunça é um atleticano calejado pela vida. Um publicitário, rtv e cartunista mineiro. Ele é Mestre e Doutorando em auto-sabotagem desde 1986. www.fantasticomundodesunca.org/linksdosunca Site / Portólio – www.fantasticomundodesunca.org fantasticomundodesunca@gmail.com https://www.facebook.com/sumpcao

THIAGO LUCAS (Recife, PE). É historiador formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pós-graduado em História do Nordeste pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), nesse período desenvolveu uma pesquisa sobre a charge como discurso crítico sobre a “Indústria da Seca” no nordeste brasileiro. Seu interesse por charges e caricaturas surgiu aos 14 anos de idade, quando começou a acompanhar os desenhos publicados nos jornais de Pernambuco, desde então, construiu um sonho e uma certeza para a sua vida: “ser chargista”. Para ele, interpretar o mundo por meio do humor gráfico é uma forma de resistência e engajamento diante de um mundo tão desigual e excludente. A partir de então se especializou na área da representação imagética e desenvolveu alguns trabalhos profissionais, entre eles, no jornal Folha de Pernambuco durante o período de 2009 a 2015, atuando como chargista e ilustrador, e, atualmente, com a mesma função no Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (PE). Dentre as publicações, destacam-se as suas participações nas obras Ao Mestre Com Carinho – livro biográfico em homenagem aos 85 anos de Ziraldo, organizado por Edra Amorim, O Santo Revelado – Fotobiografia de Dom Helder Camara, organizado por Augusto Lins Soares e o catálogo da Muestra Internacional de las Artes de Humor, promovido pela Universidad de Alcalá de Henares, da Espanha. Além disso, suas charges, ilustrações e caricaturas encontram-se publicadas em revistas, sites, jornais e livros didáticos. Também já foi premiado em diversos salões de humor no Brasil e exterior, além de ter participado de várias exposições e catálogos de artes gráficas ao redor do mundo. thiagolucas10@yahoo.com.br https://www.instagram.com/thiagochargista/?hl=pt-br https://www.facebook.com/thiagolucasarte https://www.behance.net/thiago_lucas

TRILHO Trilho César (Jundiaí, SP) Cartunista, chargista e caricaturista. Prêmios: 1º lugar no Salão de Humor de Jundiaí por 5 vezes. 1º lugar Salão de Humor de Hortolândia. 1° lugar Salão de Humor de Cerquilho. 2º lugar Salão de Humor de Campo Limpo Paulista. Participou da exposição GEORGE BACOVIA na Romênia. Menção honrosa no 14º. Festival de Humor “AT CARAGIALE`S HOME/ ROMÊNIA. Foi selecionado para o mapa cultural Paulista por 5 vezes. Trabalhou por dez anos para o jornal de Jundiaí Regional com charges e tiras diárias, também publica charges para várias entidades sindicais. Lançou as revistas em quadrinhos: Brasil 2000 vol.1 e 2 Cartilha da Natália. trilhocid55@gmail.com https://www.facebook.com/TrilhoCesar http://bloggdotrilho.blogspot.com/

FERNANDO DOS SANTOS (SP) Quadrinhista, chargista e cartunista. Publicou Os Estapafúrdios Ursinhos Coloridos na revista Mad e é co-autor no Projeto Humor em Quadrinhos. Paulistano, nascido e criado na zona leste da cidade de São Paulo, começou sua epopéia quadrinhística produzindo junto com um bando de comparsas o lendário fanzine “Nossa Visão”; participou também do projeto Cartoon Brasil; anos depois criou o fanzine “FERCOM!”; é coautor do projeto “Humor em Quadrinhos” (financiado pelo programa VAI da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo em 2008 e 2009); é membro da Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP). Foi um dos responsáveis pela realização da revista “PICLES”; ministra oficinas culturais de histórias em quadrinhos através do projeto “Fanzine nas Zonas de Sampa” entre outros. Faz parte dos coletivos Seca de Nanquim e Quadrinhos Inquietos. fernandocomics@gmail.com https://fernando-dos-santos.wixsite.com/portfolio https://www.facebook.com/fernando.humoremquadrinhos https://www.instagram.com/fernandoquadrinhos/

MARCELOH Marcelo Herbst Ferreira (SP) Chargista, ilustrador, quadrinhista e cartunista, foi professor de História e caricaturista do Jornal O Estado de São Paulo. Milita nas causas progressistas e nos movimentos anti-fascistas. Faz parte do Conselho Editorial da Revista Pirralha. Estudou História da arte na instituição de ensino FFLCH USP. marcelosanfer@gmail.com https://www.facebook.com/marcelosanfer

PAULO CAPILÉ Paulo Roberto de Lima (Campinas / SP) Desenhista, Ilustrador e Artista Plástico autodidata; Faz caricaturas por encomendas, a arte em que mais gosta de atuar no mundo das artes; Além de ter atuado na área de pinturas artísticas para particulares em minha cidade já participei de alguns projetos e parcerias: LIVRO FILOSOFIA PARA O ENEM – caricatura de Gaston Bachelard, em parceria com Kernard Kruel Fagundes; SKETCH BOOK DE RODOLFO ZALLA TRIBUTO – Editora Criativo; ZINE HOMENAGEM AO PERSONAGEM NICODEMO – de Bia Kassar; EXPOSIÇÃO 101 SPIRITS; REVISTA BENJAMIN PEPPE- de Paulo Miguel dos Anjos; Assíduo participante da Semana dos Quadrinhos na Biblioteca Zink em Campinas; Sempre em busca de desafios no mundo Artísitico de preferência com caricaturas. “Se a arte imita a vida que a façamos com bom humor…” capile.paulo@gmail.com https://www.instagram.com/capile.paulo/ https://www.facebook.com/pauloroberto.delima.58

1OOOTON Milton de Faria e Souza (RJ) Arquiteto formado pela FAUF RJ. Diplomado em Publicidade e Marketing pelo SENAI / Rio de Janeiro. Programador Visual e Gráfico da Gráfica Mauá / RJ. Ilustrador, cartunista e chargista de vários periódicos de Associações e Sindicatos de classe. Ganhador de dois prêmios no V Salão Ferroviário. Ganhador – 3º lugar, Prêmio e Troféu no Salão de humor de Mogi-Guaçu, SP Ganhador de duas menções honrosas no 2° FESTIMENC. Cartunista convidado para a 1ª Mostra de Humor em Vigilância Sanitária, patrocinada pela ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Exposição, classificações, salões nacionais e internacionais (destaques): Salões Brasileiros: 35° Salão Internacional de humor de Piracicaba / SP, 19º Salão Carioca de Humor / RJ, 1° Salão Internacional de Humor Ecológico de Campos / RJ, IV Salão Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu / PR, 19º, 20º, 21°, 22° e 23° Salão Nacional de Humor de Volta Redonda / RJ. Salões Internacionais (International Cartoon Contests): 6th e 7th International Cartoon Contest Tabriz / Iran , 4th International Cartoon Contest Urbanization and Life / Índia, XIX e XX International Competition on Drawing, Jaka bede / Polônia, “G8” International Cartoon Web Contest 2008 / Azerbaijão. VIII Black Cat Humor Contest / Azerbaijão miltonfsouza@gmail.com https://www.facebook.com/faria.miltonde.5

ALEXANDRE PAIXÃO Alexandre Lima Paixão (SP) é filósofo, cartunista e desenhista. Nascido em Campinas-SP, embora se considere um cidadão de Amparo-SP, onde passou a maior parte de sua vida, começou seu interesse por arte em 2010, quando ingressou em uma escola de desenho artístico. Busca trazer aspectos reflexivos, políticos e filosóficos na arte, bem como imagens do inconsciente. Sua obra sofre grande influência da literatura, em especial de Franz Kafka. Atualmente divulga sua arte em exposições, bem como no Facebook e no Instagram. https://www.facebook.com/alexandrelimapaixao https://www.instagram.com/alpaixao92/

MARCOS VENCESLAU Marcos Venceslau (SP) é artista plástico, Ilustrador, Cartunista e Quadrinhista. Participou do grupo Subterrâneo. Criou e participou grupo Mafagafos e do Coletivo Quarto Mundo. Atualmente participa do Grupo Quadrinhos Inquietos. Participa da AQC-ESP e do Troféu Ângelo Agostini. Produziu 50 fanzines Subterrâneo, 6 fanzines especiais Subterrâneo, Revistas Piratas 1, 2 e Tiras, Revista ‘Inquietude’. ‘Quando o dia se torna cinzas’ e com a Editora Criativo, ‘Sketchbook Custom’ e ‘Dicas e Truques de Nanquim’. https://www.facebook.com/MarcosVenceslau https://www.facebook.com/search/top/?q=marcos%20venceslau%20quadrinhos https://www.facebook.com/ateliernanderu/ http://piratashq.blogspot.com.br/ http://quadrinhosinquietos.blogspot.com.br/

JULIANO KAAPORA Juliano Oliveira (SP) é oriundo das matas, ilustrador, quadrinhista e pai do Gael. Depois de colaborar com o Coletivo Petisco em Nova Hélade e Acelera SP (de Cadu Simões). Publica na revista de terror CALAFRIO. Está produzindo uma nova HQ em parceria com Gian Danton para o segundo semestre de 2021. julianoilustrador@gmail.com www.julianoilustrador.com.br https://www.facebook.com/juliano.oliveirakaapora http://juliano-outromundo.blogspot.com

SIDÃO Aparecido Campos Benedito (SP), desenhista e professor de desenho, mais conhecido como Sidão, Cidão Cartoon ou Sydon Lee, é um destes incansáveis combatentes do mundo das HQs, no Brasil. Não importa o estilo charge, cartum, caricatura, Super Herói, Mangá, Humor… ele produz e ensina lá em sua cidade Santa Isabel, no Vale do Paraíba. Lá ele também agita o movimento cultural na Praça das Artes e publica a revista em Quadrinhos Os Brucutus, distribuída gratuitamente, financiada por anunciantes. Sua produção pode ser conferida na página do FB e no Blog Quadrinhos Inquietos, onde participou com a HQ “O meu lado vazio”. https://www.facebook.com/profile.php?id=100009314183432 desenhacidao@gmail.com

ANDRÉ BARROSO (RJ) Formado no curso de pintura da escola de Belas Artes da UFRJ e de arquitetura/ urbanismo, formado no curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB, urbanismo e arte & cultura Barroca. Fez o curso livre de pintura da Escola de Artes Visuais do parque Laje, curso livre de pintura da Escola Guinard (MG) e o curso de infografia avançada pela MIAMI AD School/ESPM (SP) e cursou com Mario Tascón e John Grimwade na faculdade de Navarro, Espanha, curso de infografia para profissionais (Show don’t tell). Foi ilustrador de jornais diários como O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo, Pasquim e Correio Braziliense. Entre outros prêmios, possui O prêmio Carioca de Humor, dois da Society of Newspaper Design e Wladimir Herzog. Tem um livro infantil chamado O gato que conheceu a história, pela editora Kimera e o livro de quadrinhos Codinome Boto. Pela editora Datacoop. Publicou vários quadrinhos pela imprensa, entre eles Lisa ¨& Rô, Vida Tosca e Guto Napão. Hoje é representado pela FotoArena. andrelbarroso@yahoo.com.br Instagram: @andrebarrosoebanda https://www.facebook.com/andrebarrosoarte https://www.facebook.com/andre.l.barroso

Cartunista-repórter em profissão de riscos. Chargista/Infografista de jornal e Doodle Artist. Foi ilustrador, infografista do Jornal A Tribuna (Santos) por 17 anos. Fez charges ao vivo no programa Em cima da hora. Participa do Projeto Mais Cores com Desenhos, Pinturas e Graffitis no Centro de Santos. Tem feito caricaturas ao vivo de Bandas de Rock, num projeto do SESC Santos. O Caricaturista Repórter Alex Ponciano acompanhou de perto a festa de 22 anos do The Bombers . Além de ouvir alguns sons inéditos da banda, fez essas belezuras de caricaturas. O Caricaturista Repórter Alex Ponciano acompanhou de perto a festa de 22 anos do The Bombers no Sesc Santos. Além de ouvir alguns sons inéditos da banda, fez essas belezuras de caricaturas. ponciano.alex@gmail.com https://www.facebook.com/AlexPonciano.arte instagram.com/alexponciano_arte fotolog.terra.com.br/alexponciano